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terça-feira, 11 de agosto de 2009

As sete regras*

Roberto Rodrigues

Eis aí um senhor legado; vale a pena pensar nele e aplicá-lo como uma homenagem à grande pessoa que o deixou

O BRASIL perdeu recentemente um grande pensador, um educador formidável e um democrata valente, com a morte de Goffredo Telles Junior. Polêmico muitas vezes, em razão de suas convicções e da forma como as expunha, formou gerações de advogados orientados pelo seu conceito de que a ciência do direito é a ciência da comunhão entre os homens e também é a sabedoria da convivência.

Em uma aula de encerramento de curso na gloriosa São Francisco, o grande mestre fez questão de deixar um legado útil aos seus alunos, uma mensagem que também daria a seu filho se este lhe perguntasse quais as normas da convivência humana.

E as resumiu em sete regras que considerava essenciais:

Primeira regra: "Ser simples de coração e atitude".
Queria com isso dizer que por mais poderoso possa alguém ser deve banir do coração a arrogância e a insolência. Propunha abafar o orgulho porque a essência humana é uma só, e o poder é passageiro.

Segunda regra: "Ser verdadeiro, mas não falar oracularmente".

E nessa regra firmava posição irredutível de compromisso com a verdade: nunca escamoteá-la, jamais traí-la, não adulterá-la, não se corromper. Sem a pretensão de ser o dono da verdade, é preciso entender que ela, por circunstâncias, pode até mudar, se prova cabal houver para isso. Portanto, pregar e praticar a verdade não significa ser oracular, absolutamente certo.

Terceira regra: "Saber ouvir, saber reconsiderar, saber confessar nosso engano".

Saber ouvir, segundo o mestre, não é só escutar: é adentrar o espírito das palavras ouvidas, entendê-las sem preconceito, mesmo discordando ou eventualmente duvidando. Dizia que quem sabe ouvir aprende a evoluir.

Quarta regra: "Não ferir o amor-próprio alheio". Essa é uma regra de ouro, porque a ferida do amor-próprio não se cura.
Daí que o cinismo e o sarcasmo são armas violentas que matam o entendimento e a amizade. Zombar de outrem é uma agressão inaceitável e muitas vezes covarde.

Quinta regra: "Não atormentar o próximo com críticas ou lamúrias".
A crítica só faz sentido se for construtiva e nunca terá valor se praticada por inveja, despeito ou incapacidade de fazer bem feito.
A crítica como incentivo, sim, mas com muito cuidado, para não ofender e diminuir.
Quanto à lamúria, é sempre um desrespeito para o interlocutor otimista. O lamuriento é um chato, deve guardar suas penas só para si. Sua atitude é um lamento em si mesma.

Sexta regra: "Evitar a intimidade".

E explicava que ser íntimo pode representar a invasão da alma, descerrar o mistério do coração do amigo, e isso é perigoso.
Se oferecida, a intimidade pode ser aceita com dignidade, mas buscá-la a qualquer preço destrói a amizade, inviabilizava a convivência. Ver por dentro a alma do amigo o transforma em vassalo, dominado, e isso é terrível para a relação.

Sétima regra: "Ser prestativo, sem se tornar intruso nem servo".
Aqui, o mestre pregava o amor em sua essência, cristão mesmo, buscando servir sem pedir compensação ou esperá-la. E servir somente quando precisam da gente, não impondo o serviço. Nem deixando que abusem do dedicado espírito colaborador. Servir sempre, em nome do bem e da verdade.

Eis aí um senhor legado! Vale muito a pena pensar nessas regras e aplicá-las para dar sentido à vida. Segui-las é também uma homenagem ao grande brasileiro que nos Deixou.
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* Artigo publicado na Folha de S.Paulo, em 1o de agosto de 2009.

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