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quinta-feira, 26 de março de 2009

PRIMEIRA JARDINEIRA DE CAMBUQUIRA.


A foto acima, embora não tenha identificação, pode ser uma das primeiras jardineiras da cidade, da empresa fundada pelo Coronel João Rodrigues Costa em nossa cidade e que servia, apesar das estradas precárias: Cambuquira, Três Corações e Campanha.

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terça-feira, 24 de março de 2009

A Jardineira do João Maurício

No inverno: estradas esburacadas, cheia de “costelas’’, poeira fina penetrando por todos os poros, paisagem feia com árvores fantasmagóricas, capim estorricado. No verão: chuvas intermitentes tornando as estradas escorregadias e com atoleiros em todo o percurso.
Essa era a vida que levava os heróis motoristas das jardineiras, as antecessoras dos modernos ônibus. Asfalto? Só na via Dutra. O resto era apenas chão vermelho!
A jardineira típica era, geralmente, um veículo “chevrolet’’ que possuía, em sua traseira, na parte externa, uma escada de ferro fixa. Essa escada levava ao alto do veículo. Por ela subiam-se as malas, pacotes, varas com frangos, gaiolas, bico de arado, sacos postais, colchões, sacaria com café, arroz, feijão, milho, caixotes de mandiocas, inhames, flores, “banda” de porco etc, etc, etc. E, às vezes, alguns passageiros lá se aboletavam por falta de lugar nas poltronas. Muitos foram os motoristas que possuíram jardineiras. Entre eles podemos citar Vicente de Paula Miranda, os irmãos Luís e Andrielli Andriatta, Pedro Silveira, Nassif e Toninho Cury, Getúlio Vilela, este ainda em atividade. Mas queremos hoje prestar nossa homenagem a um em especial:

João Maurício de Miranda.
Nasceu ele a 18 de setembro de 1906, na Campanha. Casou-se em 24 de dezembro de 1935 com dona Luiza Maria Mattos. Vieram os filhos: Maria Aparecida, Egynésia, Maria de Lourdes e João Paulo. Ainda moço trabalhou na chácara do coronel Alfredo Leite. Depois, na fazenda do senhor José Abílio Mendes, onde aprendeu a dirigir veículos. Com as economias que conseguiu, abriu uma casa de comércio na parte inferior do sobrado onde morava, ali na subida do Morro dos Pintos. Não demorou muito associou-se a Afonso Machado na compra de uma jardineira. Afonso atuava como motorista e João Maurício na difícil tarefa de cobrador. Com o tempo comprou a parte de Afonso, ficando proprietário único da jardineira e da linha Cambuquira-Campanha-São Gonçalo.
As jardineiras, como os atuais ônibus, tinham acessórios. Porém, muito diferentes dos de hoje. Naquele tempo era indispensável o “capa-corrente”, espécie de capa feita de correntes de ferro com que se envolviam os pneus para evitar a derrapagem. Também não se viajava sem enxada, picareta e pá. Caiu no atoleiro? Motorista e cobrador e mais alguns passageiros iam tratar de safar o veículo. Uns catavam pedras, outros galhos de árvores. Daí alguns minutos, depois de enxadadas e "picaretadas" lá estava ela livre, pronta para cair em outro buraco mais adiante!
A chegada da jardineira assemelhava-se à confusão de um mercado ou feira livre. Todo mundo querendo do João Maurício respostas para os recados e encomendas enviados de manhã. E o João Maurício, sem nada anotar, nada esquecia!

- Seu João “ Murício,” o que o homem mandou dizê ?
- Sô João, o senhor comprou a minha passagem para o Rio?
- Sô João, achou o remédio?

E seguia-se uma enxurrada de perguntas. Para todas o João tinha respostas e também já ia guardando os bilhetes e recomendações para a próxima parada. Tudo num lapso de dez minutos! Enquanto isto, o ajudante já estava descendo os balaios, malas e bugigangas. Acabou? Então está na hora de subir as novas encomendas.
Histórias existem, muitas. A jardineira ia tranqüila estrada afora. Em dado momento, sô João pára. Todo mundo estranha.

- Que houve, sô João “ Murício”? A bicha enguiçou?
- Não. Hoje é dia do compadre Zeferino ir fazê compra em São Gonçalo. Tá atrasado. Vamos esperar um pouco.

Não demora muito e lá no alto do pasto aparece o compadre em cima de um cavalo, trazendo na garupa um rapazote. Chega perto, sofreia o animal, apeia e passa as rédeas ao garoto. Entra esbaforido e diz para toda a jardineira:

- Oceis me adiscurpi o atraso.
E os passageiros como que ensaiados, respondem:

- Não há de que. Isto acontece. Vamos com Deus.

E lá ia a jardineira sacolejando e todo mundo feliz.

Outra história. Esta da jardineira do Getúlio Vilela:
A família, debaixo de um óleo, lá no Campo Grande, espera a jardineira. Bastava ela apontar para que um menininho começasse a chorar, espernear, berrar. Os pais tinham um trabalho danado para colocar o garoto dentro do veículo. E toda a semana era aquele vexame. Ele tinha medo da jardineira. Para encurtar a conversa: o menino cresceu e já se reformou como mecânico (embarcado) de avião a jato da Força Aérea Brasileira. Não digo para ninguém que é o nosso querido vereador Hélio Piu Piu. É mole?
Antigamente a gasolina era inodora. Um dia o governo determinou, através de lei, a colocação de uma substância que desse cheiro ao combustível a fim de evitar os constantes acidentes. Os primeiros aditivos eram insuportáveis devido ao forte odor. Lá no Posto do Haroldo Roquim, no Lago, seu João começa abastecer o veículo. Jardineira apinhada de gente. O novo cheiro se espalha e chega até às narinas do seu Chico, assentado lá na cozinha. Cozinha se chamava o último banco da jardineira, lugar que ninguém gostava de viajar, pois além de sacolejar muito era onde a poeira mais gostava de ficar. Sô Chico logo dá o estrilo e grita:

- Nossa, que fedentina. Que é isto, João “Murício”?
- É o governo sô Chico. Agora ele mandou pôr este cheiro na gasolina.
- Mas, tá doido! Que fedor horrível. Hum... num tô agüentando. Pior que carniça.
- Mas é o governo. Eu não posso fazer nada.
- Eu sei, João. Mas isto mata um. Gambá do puro. Olha aqui: mili veiz um peido bem dado!

Ao João Maurício, falecido a 13 de março de 1974, a nossa homenagem póstuma. Ele e os outros, através do trabalho honesto, foram responsáveis, em grande parte, pelo progresso de nossa cidade. A vida deles não foi fácil. Mas o fato de ter dirigido jardineiras, veículos tão cheios de romantismo, que nos traz saudades do tempo da tranqüilidade, da amizade sem interesse, das dificuldades em que todos se ajudavam, nos dá a certeza de que Deus já arranjou um lugarzinho especial para cada um deles. Sem lama, sem buracos, sem cozinha, sem poeira, sem pás e picaretas. Pois eles já tiveram todos os pecados remidos... nas nossas estradas!


Crônica publicada na Folha Campanhense e, posteriormente, no livro “As velhas e novas da Campanha de sempre”, de autoria de Leonardo Lima, Gráfica Véritas, Ed. 2005.
Enviada por Angélica Andrès - Pesquisadora Campanhense.
Fotos: A Jardineira num desses dias com seus passageiros embarcando mercadorias, pertencentes aos arquuivos particulares da famílias desses pioneiros.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Uma viagem no tempo: A história do automóvel e a história da Campanha

Parte do histórico pesquisado por ocasião de exposição comemorativa os 260 anos da Campanha, organizada pelo Centro de Estudos Campanhense Monsenhor Lefort, realizada no período de 02 a 24 de outubro de 1997, na sala de exposição temporária do Museu Regional do Sul de Minas.

Foto: João Maurício e sua jardineira.

A Enciclopédia “Conhecer” nos conta que assim que o homem descobriu que andar cansava, transferiu o problema para outros: cavalos, burros e companhia. Mas estes eram lentos, quer como monta­ria, quer puxando veículos. Como o homem queria an­dar depressa, resolveu inventar um meio de transporte mais forte e ligeiro que fosse AUTO MÓVEL - isto é, que se movesse sozinho. E tanto fez, que inventou mesmo. A infância do novo veículo foi penosa, mar­cada por muita tentativa mal sucedida e muito fracasso desanimador. Mas passou logo e, com o tempo, o au­tomóvel tomou corpo e ganhou força.

As pessoas se acostumaram ao novo tipo de transporte que encurtava distâncias, trazia progresso e conforto.

Na Campanha o automóvel chegou lá pelos idos da década 20. Chegou pilotado pelo mecânico italiano Rafael Ambrósio. Era um novíssimo FORD BIGODE PRETO que assombrou os moradores locais.


A invenção modificou para sempre a vida da co­munidade. Campanha cresceu. Desenvolveu-se. Tran­sformou-se. Vieram as escolas, o bispado, o seminário, as indús­trias, a luz elétrica, correios e telégrafos, o hotel São Sebastião, depois Campanhense. Foram instalados os serviços da Telemig, da Caixa Econômica Federal e Real e do Banco do Brasil. Nessa evolução, o automóvel re­presentou papel fundamental: foi o propulsor e princi­pal símbolo dos novos tempos.


LINHAS DE JARDINEIRAS NA CAMPANHA


A primeira linha de jardi­neira foi para São Gonçalo do Sapucaí e o pioneiro desse progresso foi Rafael Ambrósio, mecânico italiano, residente em Campanha e introdutor do automóvel. Inicialmente as primeiras jardineiras eram abertas dos dois lados, com bancos fixos e de madeira. Passageiros: l5. Velocidade máxima: 20 km/ h.

Em março de 1938 foi criada uma empresa por iniciativa do coronel João Rodrigues da Costa, residente em Cambuquira, li­gando Três Corações a São Gonçalo, passando por Campanha e Cambuquira. Nesta época, a empresa Auto Viação Pedro Solio e Filhos interligava as cida­des de Machado, Varginha e Campanha, passando por Ponte Alta (Monsenhor Paulo) e Elói Mendes.

José Thomaz Filho, oriundo de Passa Quatro, chegou à Campanha pelo trem, no qual trabalhava, na época em que a Maria Fumaça fazia seu percurso por esta cidade, na década de 1930. Era garçom da Ferrovia e contava com orgulho suas peripécias pelo vagão-restaurante.

Neste vaivém, veio a conhecer Alice Pinto de Almeida, filha do luthier Adolpho Pinto de Almeida, com a qual constituiu matrimônio.



Assim, passou a residir nesta terra por mais de 50 anos e já se considerava campanhense.

Iniciou sua vida em Campanha como chofer de praça. Hoje, motorista de táxi. Tinha um fordezinho preto, no qual fazia corridas não só com as pessoas desta cidade, como também com os turistas que vinham veranear em Cambuquira.

Criou uma linha de Campanha para Monsenhor Paulo, na época, conduzida por jardineira. Mais tarde fundou a linha "Rápido São Jorge", de Campanha a Varginha, via Cambuquira e Três Corações, estendendo posteriormente a Monsenhor Paulo.

Ao sentir a necessidade dos campanhenses de irem a Belo Horizonte para resolverem seus problemas de saúde e negócios, que muitas das vezes, só acontecia nesta, ele estudou a possibilidade de fundar uma linha nascendo em Campanha e ir até a capital mineira, via Cambuquira e Três Corações, mais tarde São Gonçalo. Estava estabelecido o novo trajeto do "Rápido São Jorge". Campanha tinha agora, o contato direto a Belo Horizonte, saindo às 5 horas, chegando a capital mineira às 11 horas. Regressando da capital às 14 horas e retornando a Campanha às 20 horas, o que facilitava, em muito, a vida daqueles que queriam resolver seus negócios e ainda regressarem no mesmo dia.

Em 1947 foi criada uma linha direta para Varginha cujo empresário, Andrielle Andriatta, ficou famoso pelas suas pe­ripécias nas estradas barrentas e es­buracadas. Sua jardineira era uma Chevrolet, modelo 1939.


Em 1950, um lavrador, nascido no Catiguá (zona rural do Município) a 15 de agosto de 1906, filho de Carolina de Miranda e João Maurício de Miranda, iniciou na Campanha sua linha de jardineira. Fazia o percurso de ida e volta entre São Gonçalo, Campanha e Cambuquira. Este homem bom, que nas­ceu para servir, era João Maurício de Miranda. Muito conhecido e popular, amigo de todos e muito paciente, sempre esperava no acostamento, próximo às porteiras das fazendas da região, os passageiros retardatários e nunca se importava com as inúmeras paradas e conseqüentes interven­ções no bagageiro. Para todos tinha uma saudação, uma prosa amiga. Com dinheiro ou sem ele, qualquer um viajava em sua jardineira.

Sua filha Eginézia (mais conhecida por Anésia) nos esclarece que certa vez um casal de São Paulo viajou com ele e ficou tão encantado com sua pessoa que o presentearam com uma Bíblia. Após a sua morte, a família a encontrou entre seus pertences. Nela o casal havia dedicado ao Sr. João Maurício o Salmo 112.


Só em 1971, sr. João Maurício, já doente e proibido de viajar, afasta-se, por imposi­ção médica, da profissão que tanto amava. Falece em 1974.

Em 1950, Getúlio Vilela Filho inaugurou sua linha de jardineira, ligando a Ressaca, mais tarde Distrito dos Fer­reira, a Campanha e a São Gonçalo. Começou com um Ford 39, possuindo em seguida, três Chevrolets: 1951, 1958 e 1960.

Herói anônimo das estradas poeirentas, Getúlio fez o trajeto 46 anos. O manteve até meados da década de 90. Sua grande paixão era conservar sua jardineira, relíquia que marca época na história do transporte coletivo na Campanha.

Em 1955, assumiu a linha Antônio Benjamim Andriatta. Depois João Paulo Miranda, filho de outro pioneiro do transporte coletivo, o sr. João Maurício de Miranda. Após tocá-la por um ano, a linha foi adquirida por Antônio Miguel Cury (Toninho Cury), o último dos pioneiros.


Textos e fotos enviados por Angélica Andrès/ com textos de Lindaurea de A.Thomaz Ferreira. (Campanha-mg)


domingo, 22 de março de 2009

A Trajetória de um Pioneiro.


A Trajetória de um Pioneiro
Crônica de Lindáurea

José Thomaz Filho, oriundo de Passa Quatro, chegou à Campanha pelo trem, no qual trabalhava, na época em que a Maria Fumaça fazia seu percurso por esta cidade, na década de 1930. Era garçom da Ferrovia e contava com orgulho suas peripécias pelo vagão-restaurante.
Neste vaivém, veio a conhecer minha mãe, Alice Pinto de Almeida, filha do luthier Adolpho Pinto de Almeida, com a qual constituiu matrimônio. Assim, passou a residir nesta terra por mais de 50 anos e já se considerava campanhense.
Iniciou sua vida em Campanha como chofer de praça, como se dizia. Hoje, motorista de táxi. Época em que poucos carros rodavam no Brasil. Tinha um fordzinho preto, no qual fazia corridas não só com as pessoas desta cidade, como também com os turistas que vinham veranear em Cambuquira.
Assim foi seguindo sua estrada, com sacrifícios e muito esforço. Criou uma linha de Campanha para Monsenhor Paulo, na época, conduzida por jardineira. Mais tarde fundou a linha "Rápido São Jorge", de Campanha a Varginha, via Cambuquira e Três Corações, estendendo posteriormente a Monsenhor Paulo.
Ao sentir a necessidade dos campanhenses de irem a Belo Horizonte para resolverem seus problemas de saúde e negócios, que muitas das vezes, só acontecia nesta, ele estudou a possibilidade de fundar uma linha nascendo em Campanha e ir até a capital mineira, via Cambuquira e Três Corações, mais tarde São Gonçalo. Estava estabelecido o novo trajeto do "Rápido São Jorge". Campanha tinha agora, o contato direto a Belo Horizonte, saindo às 5 horas, chegando a capital mineira às 11 horas. Regressando da capital às 14 horas e retornando a Campanha às 20 horas, o que facilitava, em muito, a vida daqueles que queriam resolver seus negócios e ainda regressarem no mesmo dia.
Era um progresso para a cidade. Meu pai considerava-se o "Pioneiro da Campanha", pois com as dificuldades da época ele se sentia um desbravador. Talvez muitos não saibam, que em nossa terra já houve essa comunicação direta a capital do Estado; por isso, eu reforço que ele fez parte da história da Campanha. Bom lembrar que neste período para ir a Belo Horizonte levava em média dois dias, pois tinha de fazer baldeação em outra cidade. Quando as pessoas tinham urgência iam de táxi.
Como pessoa era muito brincalhão, gozador e tinha ditado para tudo. Não deixava passar nada. Transcrevo muito dos ditados usados e, às vezes, criado por ele e que encaixava de cheio quando comentava:

"Quem fala muito, dá Bom Dia a cavalo".
"Viola é na mão de violeiro, sanfona é na mão de sanfoneiro".
"Comigo quanto mais o burro pula, mais eu meto a espora".
"Comigo é assim, com meus parentes eu não sei".
"Pegou fogo no mato". Referia-se às pessoas que falavam demais.
"Debaixo deste angu tem carne”.
"Rádio, relógio, revólver e mulher têm que ser novo”.
"Dois sacos vazios não param em pé”.
"Festa de jacu, urubu não vai".

Na época, em que estava sendo muito utilizado o jargão "primo" ele adorava brincar com as crianças fazendo a pergunta, com dupla interpretação:
- Esse cachorro é teu primo? Em vez de: Esse cachorro é teu, primo? As crianças ficavam sem entender nada. Ele achava uma graça.
Num belo dia, ele resolveu perguntar que cidade era essa? (Referindo-se à Campanha). As crianças logo respondiam que era Campanha, pensando que ele não sabia ou coisa igual. Mas desta vez, ele encontrou um que respondeu que era Barbacena, chamando-o de louco. Ele adorou. Então, ele passou a perguntar se Campanha era Barbacena. Para tudo ele dava um jeito.
No período, em que foi proprietário do "Bar e Restaurante San Remo" e que o mesmo ficava às moscas, muito vazio, ele para não deixar por menos ficava falando:
- Mais que freguesia! Isto era motivo de graça, para aqueles que por lá passavam.
Já na velhice, comentava que o governo pagava para ele dormir. Com isso, ele dormia até tarde. De vez em quando, batiam aqueles viajantes insistentes à porta ele levantava muito invocado e perguntava:
-Tem cobertor de orelha, para vender? A pessoa ia embora sem graça.
Como pai, era o verdadeiro “pai mineiro”: severo, exigente e ao mesmo tempo carinhoso e preocupado.
Concluindo, meu pai foi um lutador que amou Campanha e por esse motivo, em seu túmulo mandei colocar o epitáfio: “Pioneiro da Campanha", como ele mesmo se considerava. Faleceu em 14 de novembro de 1991, com 75 anos, deixando como filhos: Lubélia, Lindáurea, Lourival, Laudemir, Lenildo e Lindbergh.

Texto enviado por Angélica Andrès e de autoria de Lindáurea (filha)

REVOLUÇÃO DE 30 - CAMPANHA/CAMBUQUIRA.

Contribuição de Angélica Andrès - pesquisador campanhense.


A Revolução


Leonardo Lima


A sede pelo poder leva a humanidade a cometer os maiores desatinos. A prova disso são as guerras e conflitos que ao longo da história provocam mortes e lágrimas. A revolução de 1930 em nosso país não foi diferente. Duas facções políticas achando-se prejudicadas em seus acordos e conchavos acabaram por se estranhar e foram defender seus direitos pelo pior caminho: o das armas. Paulistas, governo central e diversos estados da federação, enfrentando mineiros, gaúchos e paraibanos. Não pretendo aqui falar dessa revolução a não ser nos episódios em que a nossa Campanha esteve envolvida.

Esses combates sangrentos trouxeram conseqüências que afetou, naquela época, toda a população. Uma delas foi a carência de alimentos. Nossa cidade se transformou num celeiro partindo daqui caminhões para as cidades vizinhas com carregamentos de farinha de trigo e cereais de modo a evitar a escassez de produtos básicos para a alimentação da população. As cidades mais favorecidas com esse fornecimento foram São Gonçalo do Sapucaí e Cambuquira.

O comando das forças mineiras escolheu Campanha como ponto de concentração das forças para atacar o Regimento em Três Corações.

Foi no dia 11 de outubro de 1930 que aqui chegou o major Lemos à frente de uma coluna de soldados, sendo recebido entusiasticamente pela população. Após rápido descanso segue para Três Corações para reforçar a coluna do coronel Fonseca que já assediava o quartel. Nesse mesmo dia, a coluna do major Lemos entrou em combate. O regimento, após trinta e seis horas de intenso fogo, cai em poder das forças mineiras. Nesse combate ocorreram as mortes dos tenentes Dutra e Vasconcelos, da polícia mineira. O tenente Vasconcelos foi trazido ainda ferido para a Santa Casa de Misericórdia da Campanha onde faleceu, confortado pelos santos sacramentos.

Quando tudo isso ocorria lá em Três Corações, chega aqui em Campanha uma tropa paulista, que tinha como objetivo socorrer o regimento que estava sendo atacado. Era dia 13 de outubro. Nada encontraram aqui, pois a força havia se deslocado para Três Corações. Resolveram, então, acampar. Instalaram-se no antigo fórum e cometeram inúmeros desatinos, tomando os trabalhos manuais dos presos que se encontravam detidos na parte baixa do fórum, colocaram na parte superior do prédio um cartaz com os seguintes dizeres: “Campanha - Estado de São Paulo”. Resolveram, então, pernoitar aqui. A população vendo o modo como se comportavam os paulistas e temendo a volta da tropa mineira o que possibilitaria um confronto formidável, fugiu embrenhando-se no mato ou furou buracos nos assoalhos de suas casas e lá permaneceu escondida. Nessa noite chovia muito, o que tornou a fuga um verdadeiro tormento para os fugitivos. Foram duas noites e dois dias de sofrimento.

Essa tropa paulista comandada pelo capitão Antonio Piestscher, após descanso de dois dias, seguiu para Três Corações, pois ainda não sabia da queda do regimento. Quando chegou na ponte do rio São Bento encontrou com uma patrulha mineira resultando aí um entrevero que resultou em mortes e feridos. Após esse combate a tropa paulista, sabedora de que as tropas mineiras dominavam o regimento retrocedeu imediatamente passando velozmente pela nossa cidade, deixando caminhões e armas pelo caminho retornando para Pouso Alegre.

As colunas mineiras tentaram cercar a tropa paulista, vindo a tropa do major Lemos pela estrada de Cambuquira, enquanto o coronel Fonseca trazia a sua, pela estrada de Varginha. Quando se encontraram em Campanha, os paulistas já estavam longe.

Esse é, em resumo, o que se depreende da leitura do esplêndido artigo publicado na revista campanhense “Alvorada”, edição de novembro de 1930.

Há, no entanto, um artigo provavelmente escrito pelo então padre Hugo Bressane, que servia em nossa paróquia, cujo teor transcrevo a seguir:

“Desde o dia 4 de outubro se acha a cidade sob o tétrico véu da revolução. Os fieis, diariamente, correm às igrejas a fazer oração pela paz. No dia 12 passam por Campanha os voluntários vindos de Machado, Alfenas, Varginha e Elói Mendes, para auxiliarem as tropas mineiras que atacavam Três Corações. Em 15 passaram as tropas paulistas que depois de atirarem à patrulha mineira, fogem velozmente, deixando doze feridos na Santa Casa. O Tenente Vasconcelos, mineiro, teve morte edificante, confortado com os santos sacramentos. Seu enterro foi com assistência numerosíssima. Todos os feridos salvaram-se. Em 24 chegou a notícia da vitória da revolução. Houve Te Deum pela paz. Em 30 houve missa solene de ‘Réquiem’ pelos mortos da revolução. Em ambos os atos a catedral esteve repleta. Dr. Artur Bernardes enviou um telegrama de agradecimentos ao Cura da Sé”.

Dos relatos acima há divergência quanto à morte do Tenente Vasconcelos, pois enquanto na “Alvorada” o falecimento aconteceu por ocasião do ataque ao quartel em Três Corações, o segundo diz que o fato ocorreu na emboscada preparada pela tropa paulista na ponte do São Bento.

Quanto ao militar morto ele se chamava Joaquim José de Vasconcelos, era 2º tenente da Força Pública mineira, natural de Mariana e residente em Uberaba. Consta dos assentamentos da Santa Casa de Misericórdia que ele deu entrada com ferimento no tórax, lado direito, que ocasionou hemorragia interna. O seu sepultamento foi providenciado pelo Dr. Serafim Maria Paiva de Vilhena que na época era o presidente da Câmara Municipal.

Há, ainda, nos livros da Santa Casa o registro de mais um óbito ocorrido no dia 15. Trata-se do soldado José Pedro, natural de Ouro Preto e residente em Três Corações que deu entrada no dia 14 com ferimento no crânio.


Nosso jornal na coluna “Em Branco e Preto”, de fevereiro de 99, edição 22, faz referência sobre esse episódio triste da vida brasileira.


É vergonhoso a ocorrência desse tipo de revolução em que se envolvem brasileiros. Mais triste ainda saber que pessoas tenham sacrificado suas vidas para a satisfação do ego de políticos.

Muito triste.




domingo, 15 de março de 2009

Alguém se lembra dessa "caninha"?

Infelizmente, mais um "rótulo do passado", como o "Café Cambuquira" e por enquanto "nossas águas minerais", até agora sem definição por parte dos órgãos governamentais responsáveis. Enquanto isso, a cidade sofre com a falta de empregos, de rendas e de divisas para o próprio poder público municipal, já que se não se vende não se arrecada. E,como sem gasolina o carro não anda... a máquina fica emperrada, patina, atola no barro e coitado do motorista!
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segunda-feira, 9 de março de 2009

AS ARREPENDIDAS.

O Arquivo de Notícias tem a honra de apresentar!....As Arrependidas, maior bloco caricato entre os tantos que apareceram na Estância Hidromineral de Cambuquira. "Já são vinte e quatro anos,literalmente, na estrada"pois grande parte dos participantes, inclusive o grande chefão dessa “gangue do bem, apesar de cambuquirense de nascimento não reside mais na cidade. Mas, é como se fosse pois os temas que usa nos seus versos de cada ano sempre lembram alguma coisa de nossa cidade.
O refrão “ Mulher veste de homem , homem veste de mulher. E o resto? O resto vai do jeito que quiser” já virou um hino de todos os Carnavais na cidade.
Até tentam criar novos grupos, mas na hora “H”(se é que posso usar essa expressão) todos aderem ao velho canto de vinte anos.

No texto abaixo, Dimas Ferreira, o “Poderoso Chefão” do grupo, conta com as suas próprias palavras a história particular que tem com “As Arrependidas” por essas duas décadas de existência.
No texto ele faz um convite para que aqueles que não conhecem a cidade que vá até lá tomar um pouco das suas águas maravilhosas e quem sabe no próximo ano possa transvestir-se no melhor sentido para fazer parte da multidão numa manifestação popular que já virou até tema de tese em um curso universitário.

“AS ARREPENDIDAS”-20 ANOS DE HISTÓRIA NO CARNAVAL-
CAMBUQUIRA - MINAS GERAIS

“MULHER VESTE DE HOMEM,

HOMEM VESTE DE MULHER

E O ‘RESTO’ SAI DO JEITO QUE QUISER”



POR: DIMAS FERREIRA/2004/05/09

CAMBUQUIRA

Situada no sul de Minas Gerais, Cambuquira é uma cidade que destaca-se por seu clima, suas águas medicinais e hospitalidade do seu povo.

Possuindo boa rede hoteleira, é visitada por turistas das mais diversas localidades, principalmente, Rio de Janeiro e São Paulo.

Dentre as diversas festas locais destacam-se as Folias de Reis, Semana Santa, a confraternização ausentes/presentes no fim do ano, temporada de inverno e o carnaval entre outras.

E foi no ano de 1986 que surgiu o Bloco Carnavalesco “AS ARREPENDIDAS” para se tornar em pouco tempo o mais popular entre os blocos e escolas de samba da cidade.

Já é uma tradição no Carnaval Cambuquirense o desfile das ARREPENDIDAS na segunda-feira de Carnaval, e não é só isso, pois, no domingo de Carnaval o Bloco promove um evento esportivo no Estádio Municipal em prol das entidades beneficentes da cidade.

Tão tradicional quanto o Bloco são as suas marchinhas carnavalescas que, a cada ano, anima os foliões e que por ora apresentamos nesta coletânea.
(Obs.: Incluindo o enredo de 96).

A você que participa e colabora com o nosso Bloco o nosso muito obrigado.

E a vocês turistas, visitantes, amigos de Cambuquira...

“Venham sempre” Cambuquira os espera de braços abertos.



Dimas Ferreira
Componente, compositor e intérprete das ARREPENDIDAS


AS ARREPENDIDAS “UM CASO DE AMOR POR CAMBUQUIRA”

Íntegra do texto publicado no livreto – ARREPENDIDAS - Músicas - 1996

Patrocinado pela Gomy Produtos Eletrônicos SJC – João Gonçalves – Cambuquirense

CAMBUQUIRA

TEM LINDAS CASCATAS, CACHOEIRAS...
TEM A MATA TÃO FRONDOSA
E QUANDO CHOVE
VAI DEIXANDO A IMPRESSÃO
CADA PINGO QUE CAINDO LÁ DO CÉU
FAZ BROTAR AMOR NO CHÃO


DIMAS FERREIRA/96


O texto ora apresentado é de autoria de Dimas Ferreira que às vezes se coloca como narrador e outras na terceira pessoa, como se o mesmo estive sendo entrevistado.

AS ARREPENDIDAS – MÚSICAS

A letras apresentadas a seguir são todas de autoria do compositor das ARREPENDIDAS - Dimas Ferreira - que a partir do terceiro ano de desfile do bloco começou a compor marchinhas carnavalescas como o intuito de animar ainda mais o desfile.

Sempre ligado ao momento histórico da época, seja com fatos nacionais, como política, televisão, futebol, seja com fatos locais, principalmente a política local, não se esquecendo também das riquezas naturais da cidade como o parque e suas águas medicinais.

Pelas letras das marchinhas passeiam José Sarney, Rede Globo, TV Sul de Minas, Mãe Dinah, Delfos, candidatos e prefeitos locais, Bin Laden, PC Faria, o Ginásio Barilão, Cassino, Cinema, Boate, os flamenguistas, vascaínos, mês de Portugal, hotéis, turistas, e o parque com suas águas medicinais etc...

Citações como, “Invente tente faça diferente”, “Corra prá galera”, “É brinquedo não”, “Muita calma nessa hora”, entre outras, demonstram a preocupação do autor em estar em contato com a realidade do momento seja ela jornalística, históricas, artística...

Sempre da maneira criativa, crítica e engraçada as marchinhas das ARREPENDIDAS são aguardadas por todos com a curiosidade para se saber qual tema será abordado.

Perguntado como são feitas as músicas o autor revela não haver uma fórmula, a não ser o refrão que deve ser de fácil assimilação. Algumas letras, por exemplo, foram escritas no Shopping ou em casa em São José dos Campos, outras em Cambuquira, no bares, na casa da sogra e as mais recentes no “sítio” na zona rural da cidade ao lado da esposa e filhos.

Uma curiosidade com relação á música que fala sobre o Parque da Águas, cuja composição ocorreu durante retorno do autor do carnaval de 1995 na quarta-feira de cinzas de Cambuquira para São José dos Campos.
Com o objetivo de espantar o sono o autor foi mentalizando a letra de uma marchinha. Fazia um verso, e repetia várias vezes mentalmente para memorizar. Mais um verso e assim durante a viagem toda.


Observação: O mesmo estava dirigindo. Dá para acreditar?
Pois ao chegar em São José, desceu do carro, pegou caneta e papel, transcreveu os versos, com o violão fez a música, gravou e guardou a fita.

No carnaval seguinte resgatou aquele material, lapidou e pronto...Estava feita, na opinião do próprio autor, uma das melhores marchinhas de sua autoria.

Em Cambuquira pessoas de diversas faixas etárias sabem de cor o refrão do hino do bloco, também de autoria de Dimas Ferreira e que diz

“MULHER VESTE DE HOMEM, HOMEM VESTE DE MULHER
E O RESTO SAI DO JEITO QUE QUISER”.



Relembrando então que as marchinhas começaram a fazer parte dos desfiles a partir do terceiro ano em que o bloco saiu e de lá até 2004 foram sendo compostas. Cabe ressaltar que em 2003 a música do ano anterior foi repetida por opção do próprio autor.

Agradecimentos

- O autor agradece a participação de músicos de Cambuquira e técnicos de som que voluntariamente colaboraram com algumas gravações. A maioria das marchinhas porém, foi gravada pelo próprio autor em equipamento muito simples e sem qualquer recurso mais sofisticado. Outras nem gravação tiveram e simplesmente foram apresentadas na avenida, quando era possível utilizar o som do local dos desfiles.

- Ao Sr. João Gonçalves e a Gomy Produtos Eletrônicos - São José dos Campos pelo patrocínio do livreto de 1996


- UM AGRADECIMENTO ESPECIAL Á GRÁFICA CANTISANO
Pelo apóio, em vários anos, imprimindo graciosamente panfletos para o bloco


AS ARREPENDIDAS – MÚSICAS

A seguir as marchinhas e temas abordados em ordem cronológica.
Não há um título particular para cada uma e sim o nome do bloco e o ano em que a marchinha foi apresentada.

1989 - Foi a primeira. Plano Verão, Cruzado, José Sarney ...
1990 - Ano do Hino . Mulher veste de homem, homem veste de mulher...
1991 - Ano dos flamenguistas, vascaínos, sapatão etc...
1992 - Ano de protesto por falta de escola de samba na cidade.
1993 - Ano de confirmação do bloco como tradição na segunda-feira.
1994 - Ano do convite para preparação dos dez anos.
1995 - Ano dos dez anos do bloco.
1996 - Ano de exaltar as riquezas medicinais das águas de Cambuquira.
1997 - Ano de relembrar os aspectos positivos da cidade depositando esperança com a nova administração eleita para a prefeitura.
1998 - Ano de brincar com os esotéricos. O bloco completava treze anos.
1999 - Ano de brincar com a praga: “Cambuquira vai virar um formigueiro”.
2000 - Ano em que o bloco completa quinze anos
2001 - Ano da reeleição do prefeito
2002 - Ano do muita calma nessa hora e é brinquedo não
2003 - Ano em que se repetiu a música
2004 - Ano da cassação do prefeito, indicação de um segundo e um terceiro toma posse... vai acabar em pizza.
2005 - Ano em que o bloco comemora 20 anos. Possivelmente repetir o HINO e repetiu ( anotação feita em outubro de 2005)
2006 – 2007-2008 - Não houve música, porém, há de se destacar a participação nos dois últimos anos do trio elétrico Salomão que deu um toque especial na festa.
2009 – Eleição de Barak Obama e de Kaka foi o tema associado aos 24 anos de Arrependidas


AS ARREPENDIDAS – MÚSICAS

ARREPENDIDAS – 89

Letra e Música: Dimas Ferreira


Este ano nem que eu fique “P” da vida
Eu vou sair no ARREPENDIDAS (bis)

Ninguém aguenta o Plano Verão
Nem mesmo o Novo Cruzado
Ninguém segura esta inflação
Nem meu salário que está congelado

Mas este ano
Este ano nem que eu fique “P” da vida...

Não tem mais jeito agora eu sei
Arrebentou a boca do balão
Pois nem mesmo José Sarney
Vai dar um jeito na situação

Mas este ano...

ARREPENDIDAS – 90 ( O HINO )
Letra e Música: Dimas Ferreira

Mulher veste de homem
Homem veste de mulher (bis)
E o resto sai do jeito que quiser

Mas se você...
Se você está chateado
Saia logo desta vida
Se for homem compre um vestido rodado
Se for mulher uma gravata bem cumprida
Deixe a tristeza de lado olha ai
E saia no ARREPENDIDAS

Mulher veste de homem
Homem veste de mulher (bis)
E o resto sai do jeito que quiser

Eu sei é uma beleza
A Rede Globo está aí
Pra mostrar o ARREPENDIDAS (bis)
Na nossa Sapucaí

Mulher veste de homem...

A TV Sul de Minas
Diz que integra a região
Mas (sempre)* não vejo Cambuquira (bis)
Na minha televisão

Mulher veste de homem...

* A Palavra sempre em itálico foi acrescentada pelo autor na hora do desfile pois, a TV Sul de Minas afiliada da rede Globo, neste dia, fez cobertura do evento.

ARREPENDIDAS – 91
Letra e Música: Dimas Ferreira
Você que no ano passado
Se arrependeu por não sair
Só bateu palmas na avenida (bis)
Este ano deixe a tristeza de lado
E venha desfilar no ARREPENDIDAS

Preto ou branco
Flamenguista ou vascaíno
O nosso bloco não tem discriminação
Os homens mostram o seu jeito feminino
E as mulheres o seu lado sapatão

Você que no ano passado
Se arrependeu por não sair
Só bateu palmas na avenida (bis)
Este ano deixe a tristeza de lado
E venha desfilar no ARREPENDIDAS

Mas não se esqueça que tudo é só brincadeira
O carnaval não dura mais que quatro dias
E você dever ficar muito preocupado
Se por acaso acostumar com a fantasia

Você que no ano passado
Se arrependeu por não sair
Só bateu palmas na avenida (bis)
Este ano deixe a tristeza de lado
E venha desfilar no ARREPENDIDAS

ARREPENDIDAS – 92
Letra e Música: Dimas Ferreira
Cadê a escola de samba
Que este ano não sai
E o carnaval de rua
Vai ter ou não vai

Vamos lá rapaziada
Não fique só na espera
Solte suas energias... olha aí
E corra pra galera

Invente tente
Faça diferente (bis)
Neste carnaval
Venha brincar com a gente

É isso aí
É isso aí
Com escola ou sem escola
O nosso bloco vai sair
Eu sai no ARREPENDIDAS

Cadê a escola de samba.....

ARREPENDIDAS – 93
Letra e Música: Dimas Ferreira
Vem, vem brincar
No ARREPENDIDAS este ano (bis)
Se algum amigo te gozar você diz
Vesti a fantasia por engano

Sábado tem escola de samba
Domingo tem folia no salão
Segunda desfilando em Cambuquira
O ARREPENDIDAS já é tradição

Chova ou faça sol
Estando na avenida (bis)
No ARREPENDIDAS
Vou feliz da vida

Por isso eu vou
Brincar até cair (bis)
Neste carnaval
Quero me divertir

Vem vem brincar
No ARREPENDIDAS este ano (bis)
Se algum amigo te gozar você diz
Vesti a fantasia por engano

Sábado tem escola de samba...

ARREPENDIDAS – 94
Letra e Música: Dimas Ferreira

Estamos chegando, oi...
Pra convidar oi pra convidar
Todo povo da avenida
Desta festa colorida
Participar oi participar

Da alegria
Que será

Quando o ARREPENDIDAS (bis)
Completar

Dez anos de glória
E de tradição
Desfilando na avenida
Balançando o povão

Dez anos de glória
E de alegria
Desfilando em Cambuquira
E caindo na folia

Neste ano são nove
Mas tudo bem (bis)
Serão dez anos
No ano que vem

Estamos chegando oi...

ARREPENDIDAS – 95

Letra e Música: Dimas Ferreira

Parabéns pra você
Nesta data querida (bis)
Muitas felicidades
“Dez anos de ARREPENDIDAS”

O carnaval está aí
Você tem que participar
Dez anos de ARREPENDIDAS
Vamos comemorar

O carnaval está aí
Viemos te convidar
Dez anos de ARREPENDIDAS
Venha comemorar

Vem, Vem, Vem

Vem Brincar comigo neste dia
Vem Participar desta alegria
Vem Se divertir venha se alegrar

Pois, o nosso bloco é da segunda-feira
O ARREPENDIDAS é só brincadeira
É carnaval pra quem quiser brincar Vem

Vem Brincar comigo neste dia
Vem Participar desta alegria
Vem Se divertir venha se alegrar

Pois, o nosso bloco está feliz da vida
O ARREPENDIDAS vai para a avenida
Fazer Cambuquira cantar ( mas parabéns)

Parabéns pra você...

ARREPENDIDAS – 96
Letra e Música: Dimas Ferreira
Lá vou eu de novo
Balançando o povo
Eu vou desfilar Vou desfilar (bis)
No ARREPENDIDAS vou feliz da vida
Me dê água que eu quero tomar
Ai me dê água pra tomar... Mas este ano...

O ARREPENDIDAS este ano
Vem pra avenida agradecer
A mãe natureza por seus planos
De sempre abastecer
Cambuquira com suas águas minerais medicinais
(...Vai regando com saúde e energia
o Sul de Minas Gerais Eh Oh...) (bis) Tem a fonte...

Tem a fonte Gasosa e Magnésia
Barracão e Sulfurosa
Tem água Férrea
Que se esconde de você
Mas se você jurar que volta em Cambuquira
Ela volta a aparecer...

É no parque das águas...

É no parque das águas
que eu afogo as mágoas
Minha sede e muito mais (bis)
Cambuquira meu Senhor
É um caso de amor
No Sul de Minas Gerais...

Obrigado meu Senhor...

ARREPENDIDAS – 96 (continuação)


Obrigado meu Senhor Eh Oh Eh Oh
Pelas águas que nos deu (bis)
Cambuquira meu amor
Sou feliz ao lado seu Mas este ano...


O ARREPENDIDAS este ano
Vem pra avenida agradecer
A mãe natureza por seus planos
De sempre abastecer
Cambuquira com suas águas minerais medicinais
(...Vai regando com saúde e energia
o Sul de Minas Gerais Eh Oh...) (bis) Mas tem...

Tem lindas cascatas cachoeiras
Tem a mata tão frondosa
E quando chove vai deixando a impressão
Cada pingo que caindo lá do céu
Faz brotar amor no chão

É no parque das águas...

É no parque das águas que eu afogo as mágoas
Minha sede e muito mais (bis)
Cambuquira meu Senhor é um caso de amor
No Sul de Minas Gerais...

Obrigado meu Senhor...

Lá vou eu de novo...

ARREPENDIDAS – 97
Letra e Música: Dimas Ferreira


Chegou mais uma vez o carnaval
E o ARREPENDIDAS vem lembrar
Das boas coisas que tivemos
E hoje não podemos desfrutar

Cassino, cinema e boate
Festa do ovo e futebol
Como era gostoso assistir
As nossas Olimpíadas de Inverno

Os hotéis repletos de turistas
Nas temporadas até o carnaval
Quem não se recorda com saudade
O Mês de Portugal

Porém agora surge uma esperança
De nossa cidade melhorar
Quem sabe os velhos tempos vão voltar

E dessa vez vai ser assim
Isso aqui vai ser mais mole e mais doce que pudim (com Pudim)
Eu acredito e você pode crer
A Cidade do já teve vai voltar a ter.

Eu quero ver o parque cheio de turistas
Nossas praças mais bonitas
Sonho que eu sempre quis

Trazendo vida nova pra cidade
Trabalho e dignidade
E o povo mais feliz

Chegou mais uma vez....

ARREPENDIDAS – 98
Letra e Música: Dimas Ferreira

Se o Delfhos não resolveu sua vida
Nem mesmo o Walter Mercado
Ms. King jogando seus búzios
Só deu Só deu palpite furado

Se a Dione Fortes com seus místicos
Tentou não conseguiu revelar nada diferente
Se ligue no 1398 ARREPENDIDAS
E venha desfilar com a gente

Treze anos de alegria festa e animação
Pra tristeza nós temos a solução
Treze anos de folia você vai gostar
É melhor que Mãe Dinah

Treze anos de alegria festa e animação
Cambuquira neste dia é só diversão
Treze anos de folia
VOUZÊ vai gostar AH! AH!
NON espere desfile DJÁ

Disk namoro disk 0-800
Oi disk sexo ou disk sim ou não
Enquanto VOCÊ DECIDE
Sua cabeça é só confusão

Sua conta telefônica aumenta
Problemas...tristezas...sua vida vai mal
Se ligue no 1398 ARREPENDIDAS
É só alegria neste carnaval

Treze anos de alegria festa e animação...

ARREPENDIDAS – 99
Letra e Música: Dimas Ferreira
Mais um ano e o nosso bloco vai passar
Espalhando alegria pra todo lugar
Vai levando folia e felicidade
Cambuquira vira a mais alegre das cidades

É sempre assim você sabe como é
Mulher veste de homem, homem veste de mulher
No ARREPENDIDAS sai quem quiser

É sempre assim você sabe como é
Tem que ser muito macho pra se vestir de mulher
Eu quero ver quem é quem é

Na segunda feira já virou tradição
Nosso bloco arrastando a multidão
Muita gente ainda fica indecisa
Mas é neste dia
Que muito enrustido se realiza

É sempre assim....

E é em Cambuquira
Que tudo acontece
Quem mora em baixo sobe (bis)
Quem mora em cima desce
E vira um formigueiro
Quando o ARREPENDIDAS aparece

Mas um ano...

ARREPENDIDAS – 2000
Letra e Música: Dimas Ferreira
Vamos Cambuquira
Está chegando a hora
Vista a fantasia
Que a segunda não demora

O ARREPENDIDAS
Vai passar
Quinze anos de folia na avenida
Vamos lá
Quinze anos de folia na avenida
Desfilar

Eu vou eu vou brincar brincar
Eu vou eu vou pular pular
Aliás quinze anos
Não é todo dia que se faz

Alegria é carnaval
Todos juntos tudo igual
Cambuquira é só animação
A cidade inteira
Canta este refrão

“Mulher veste de homem, homem veste de mulher
E o resto sai do jeito que quiser”

Olha aí vai ser interessante
Quinze anos de folia
Eu quero ver/ser
ARREPENDIDAS debutante

Eu vou eu vou...

ARREPENDIDAS – 2001

Letra e Música: Dimas Ferreira

Vamos Cambuquira
Chegou a sua hora
É o ARREPENDIDAS
Que na avenida comemora

Um novo tempo
Pra nossa cidade
Dá pra sentir no ar
Um jeito de prosperidade

Me belisca não acredito no que estou vendo
Nossa cidade progredindo e crescendo (bis)

Tem gente que também não está acreditando
Que as coisas por aqui estão mudando (bis)

Até o povo da cidade está pensando diferente
Parede que a luz do estádio olha aí...
Está clareando sua mente

E quando Cambuquira realmente melhorar
Vai ser uma satisfação
O ARREPENDIDAS irá comemorar
Dançando no Barilão

Mais uma vez valeu a vontade do povo
A sobremesa vai ser pudim de novo

Mais uma vez valeu a vontade do povo
Por isso vamos ter Pudim de novo

Mas vamos...

ARREPENDIDAS – 2002/2003
Letra e Música: Dimas Ferreira


Hoje só quero alegria...Nada de confusão
Jogue fora sua mágoas...E abra seu coração

Curta em paz o carnaval
Pois é segunda-feira
No ARREPENDIDAS só tem alegria
O resto é besteira
No ARREPENDIDAS só tem alegria
Caia nessa brincadeira

É só folia, é alegria, então vamos embora
O nosso bloco é sempre festa dia e noite, noite e dia
MUITA CALMA NESSA HORA

É alegria, é fantasia, então vamos embora
O nosso bloco é sempre festa dia e noite, noite e dia
MUITA CALMA NESSA HORA

E como diz a Rede Globo “A paz, é a gente que faz”

Mas hoje....

No carnaval arrumar confusão
É BRINQUEDO NÃO
Levar porrada e até safanão
É BRINQUEDO NÃO
Igual Bin Laden no Afeganistão
É BRINQUEDO NÃO
Sair no bloco e não cantar o refrão
É BRINQUEDO NÃO
E pouca ajuda na organização
É BRINQUEDO NÃO Mas hoje...

ARREPENDIDAS – 2004
Letra e Música: Dimas Ferreira

Quem foi que mexeu no meu “Pudim”
Isto ninguém queria
Já disseram para mim
É coisa que “PC Faria”

Se vai acabar em “pizza”
Então eu não me engano
Acho que a solução
É chamar um “Neto” de “Italiano”

E para aumentar esta confusão
Quero concorrer na próxima eleição
Para em “Cambuquira” dar um jeito
Vou botar um “ARREPENDIDAS”
Para ser “prefeito”

Vote no “PA”
Vote sim
É o “PARTIDO ARREPENDIDAS” até o fim

Vote no “PA” pra ficar legal
Serão mais de mil prefeitos neste carnaval

TRCE - O Tribunal Regional Eleitoral do Carnaval adverte:
“Excesso de Prefeitos faz mal à administração”


Estou relendo este material hoje 21/10/2005, pois, recebi no dia de ontem um telefonema um tanto quanto inesperado. Uma cambuquirense de nome Cássia pretende em seu trabalho de graduação para a faculdade onde estuda elaborar sua monografia de final de curso um estudo sobre o Bloco AS ARREPENDIDAS, o que me deixou muito emocionado afinal só eu sei o quanto gosto não só do bloco mas principalmente pelo movimento que o mesmo proporciona na divulgação de CAMBUQUIRA. Existe até comunidades virtuais onde os participantes trocam informações sobre o bloco. É realmente uma manifestação cultural das mais espontâneas e com participação popular em grande escala.

Sempre me perguntam quantas pessoas saem no bloco e é praticamente impossível precisar este número sendo que se fala em mais de mil pessoas em alguns anos. Somente que vive o momento pode sentir a força que reúne tanta gente com o mesmo objetivo, jovens, crianças, adultos e pessoas de mais idade sendo que famílias inteiras saem no desfile.

Poucas vezes ocorreram confusões e na maioria envolvendo pessoas que não estão em sintonia com o bloco, participam pela primeira vez ou nem participam e simplesmente tentam atrapalhar um festa tão simples e gostosa como a nossa.

Não se paga nada, não precisa comprar nada, você sai onde quiser, na frente , nomeio no final do bloco e se diverte do mesmo jeito. Grupo de pessoas se fantasiam a caráter o que abrilhanta ainda mais o desfile.

A cada ano que passa músicos cambuquirenses estão dando o maior apóio ao desfile e graciosamente animam o bloco com músicas tradicionais de carnaval, marchinhas etc.

Penso em abandonar este “trabalho”, pois, a cada ano é cada vez menor o número de colaboradores para tentar de alguma forma organizar o desfile. Sei que é tarefa impossível, e que o mais gostoso e talvez ai esteja o segredo da longevidade do bloco (20anos) é não ter regras, não ter limites, nem imposições.

A preocupação é simplesmente em caso de alguma confusão, briga ou coisa parecida. No bloco tem muita criança e um tumulto pode machucar muita gente. Pode não parecer, mas, é muita responsabilidade e quem é o responsável.

Tenho certeza que não sou eu e nem tenho a pretensão de ser, porém para todos o Dimas é o responsável, o dono, quem manda.......

Eu não mando nada, não sou dono de nada, sou apenas mais um, aliás, o bloco não tem nenhum patrimônio, a não ser o nome.
Não temos sede, não temos sócios, não temos instrumentos, não temos sequer um baqueta.

Falo isto porque em carnavais anteriores, uma briga de rua resultou em “furto” de um celular e em quem colocaram a culpa?????
Estou bem tranqüilo no meu sítio em Cambuquira quando me aparece o proprietário do celular roubado dizendo que deu parte na delegacia envolvendo o meu nome, pois, um componente do bloco, que nesta altura virou meu, havia roubado o referido celular.... Vê se pode....

E por essas e outra que fica difícil comandar sozinho um evento desta magnitude. Tenho pedido a várias pessoas para que ajudem e não deixem morrer mais esta tradição de Cambuquira, cidade que anda tão carente de oportunidades para seu povo.

Muito ainda tenho a declarar e com certeza ficaria muito tempo frente ao computador afinal são 20 anos
Então a gente continua a qualquer momento

Cássia espero que este material preliminar possa te ajudar e tenho muita coisa guardada em casa no sítio. Coisa simples, mas, que poderão te auxiliar em seu trabalho. ( Cássia está escrevendo uma monografia sobre o bloco)

Desde já agradeço a oportunidade e

Muito sucesso!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!11

dimas
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Nos anos que se seguiram 2005, 2006, 2007 e 2008 não houve música nova e sim reprise de algumas entre elas a do parque da águas, sendo que o hino predominou em todos os desfiles.
Há de se destacar a presença do trio elétrico Salomão, contratado pela prefeitura municipal de Cambuquira, Prefeito Marcus Vinicius, e que deu uma cara nova ao bloco embora muitos dos foliões prefiram a tradicional bandas com as marchinhas de carnaval.

No final do carnaval de 2008 como o bloco faria 24 anos em 2009 elaborei um esboço do que seria a marchinha para o ano seguinte.

A seguir a marchinha de 2009 com algumas alterações contemplando o momento político que vive o mundo e em particular a cidade de Cambuquira.

ARREPENDIDAS 2009
Letra e música DIMAS FERREIRA

VEM FAZER O 24 COMIGO FALE QUEM QUISER QUE EU NEM LIGO

VEM FAZER O 24 COMIGO FALE QUEM QUISER QUE EU NEM LIGO


SAIR NO ARREPENDIDAS É O MAIOR BARATO
VEM COMIGO FAZER O 24

POIS EU SOU MAIS BONITO QUE O ALEXANDRE PATO
VEM COMIGO FAZER O 24

EU VOU BEIJAR NA BOCA O QUE IMPORTA É O ATO
VEM COMIGO FAZER O 24

MORANDO EM CAMBUQUIRA SOU FELIZ DE FATO

E SAIR NO ARREPENDIDAS É O MAIOR BARATO MAS VEM...


VEM FAZER O 24 COMIGO FALE QUEM QUISER QUE EU NEM LIGO

VEM FAZER O 24 COMIGO FALE QUEM QUISER QUE EU NEM LIGO



NOS ESTADOS UNIDOS DEU BARAKA

EM CAMUBUQUIRA DEU KAKA

NA TERRA DO TIO SAM DEU BARAKA

NA ( terra) DA AGUA MINERAL DEU KAKA MAS VEM


VEM FAZER O 24 COMIGO FALE QUEM QUISER QUE EU NEM LIGO ...

Hoje é quinta feira após o carnaval e resolvi escrever mais um pouco sobre as ARREPENDIDAS. Em primeiro lugar dizer que mais uma vez o bloco foi um sucesso e que o número de participantes superou em muito as expectativas. Por volta das 19:00 hs eram poucos os foliões fantasiados no bairro da Lavra, porém por volta de 21:00hs as ruas estavam tomadas de ARREPENDIDAS e cada vez chegando mais.

O som montando na Lavra animou o pessoal que dançou pra valer. Muitas fantasias diferentes e não apenas ARREPENDIDAS, coisas que a cada ano tem aumentado.

A marchinha cantada pelo povo foi outro ponto importante o que na maioria dos anos anteriores não aconteceu.

A prefeitura dentro de suas possibilidades contribuiu com a organização, segurança e carro de som, gravação da música bem como distribuição das letras durante o desfile.

Algumas pessoas ficaram para traz e mais uma vem o bloco ficou dividido, coisa que é necessário repensar para que não aconteça no ano que vem quando o bloco estará completando 25 anos.

Um fato curioso foi o erro da data nas faixas colocadas pela cidade que faziam alusão aos 25 anos do bloco coisa que só ocorrerá se DEUS quiser em 2010.

Aproveitando a deixa, uma vez que a letra da marchinha foi complementada com mais um verso coloquei mais um “in off” cantado apenas no palanque:

- “A nossa prefeitura mandou bem, já fizeram a faixa pro ano que vem
- Erraram a data mais eu não sinto ao invés de 24 colocaram 25” mais vem...

A seguir a letra da marchinha apresentada na avenida

Obs.: Foi questionado pelo filho do Nê se eu não teria material a respeito do Bloco para que a filha dele pudesse fazer um trabalho para a escola, fiquei muito contente com a iniciativa e deixei com ele material de apóio e indiquei a Cássia que já escreveu sobre o bloco para auxiliá-lo

ARREPENDIDAS 2009 ( 24 anos de carnaval em CAMBUQUIRA)
Letra e música DIMAS FERREIRA

VEM FAZER O 24 COMIGO FALE QUEM QUISER QUE EU NEM LIGO (bis)

SAIR NO ARREPENDIDAS É O MAIOR BARATO
VEM COMIGO FAZER O 24

POIS EU SOU MAIS BONITO QUE O ALEXANDRE PATO
VEM COMIGO FAZER O 24

EU VOU BEIJAR NA BOCA O QUE IMPORTA É O ATO
VEM COMIGO FAZER O 24

MORANDO EM CAMBUQUIRA SOU FELIZ DE FATO

E SAIR NO ARREPENDIDAS É O MAIOR BARATO MAS VEM...


VEM FAZER O 24 COMIGO FALE QUEM QUISER QUE EU NEM LIGO

VEM FAZER O 24 COMIGO FALE QUEM QUISER QUE EU NEM LIGO


NOS ESTADOS UNIDOS DEU BARAKA EM CAMBUQUIRA DEU KAKA

NA TERRA DO TIO SAN DEU BARAKA

NA ( terra) DA AGUA MINERAL DEU KAKA MAS VEM

VEM FAZER O 24 COMIGO FALE QUEM QUISER QUE EU NEM LIGO ...

O NOSSO ABADÁ NÃO É BRINCADEIRA
SE VOCE SAIR DE ROSA ENTRA NA MANGUEIRA

O NOSSO ABADÁ NÃO É BRINCADEIRA
QUEM SAIR DE ROSA......... ENTRA NA MANGUEIRA........MAS VEM

VEM FAZER O 24 COMIGO FALE QUEM QUISER QUE EU NEM LIGO ...

- “A nossa prefeitura mandou bem, já fizeram a faixa pro ano que vem
- Erraram a data mais eu não sinto ao invés de 24 colocaram 25” mais vem...

Até o momento recebi da Cássia Mafra os parabéns pelo desfile 2009 e fiquei muito contente, pois, é muito bom ver o seu trabalho reconhecido.
A divulgação da música na internet pelo Orkut e pela comunicada do Clóvis salgado foi outra novidade. Divulguei também na comunidade AS ARREPENDIDAS.
Vamos melhorando...estou com um monte de idéias para 2010 que espero colocar em prática lógico com a ajuda dos amigos.

Hoje é quinta 8:20 hs é hora de trabalhar acabou a moleza.

Fui!...

Hoje 7 de Março e cá estou eu novamente para escrever mais um pouco sobre o bloco.

Tenho como idéia para os 25 anos repetir duas músicas (marchinha/ enredo)

A primeira como não poderia deixar de ser é o hino

MULHER VESTE DE HOMEM, HOMEM VESTE DE MULHER...

E uma segunda música que acho, modéstia a parte, a mais bonita de todas é a que fala do parque das águas enredo de 1996

“É NO PARQUE DAS ÁGUAS QUE EU AFOGO MAS MÁGOAS MINHA SEDE E MUITO MAIS”......

Enfim esta é a sugestão inicial que espero caia no gosto do povo. Pretendo gravar as músicas com bastante antecedência para que o pessoal aprenda ou reaprenda para cantarmos na avenida.

....................................................................................................................

E assim, vamos aguardar o próximo Carnaval para escrever mais um capítulo dessa história.


domingo, 8 de março de 2009

DIA INTERNACIONAL DA MULHER.

Este dia 08 de Março não poderia passar em branco sem uma homenagem deste blog a todas as mulheres do mundo.
Escolhi essa flor silvestre que floresceu em pleno asfalto da rua da minha casa para homenagear todas essas guerreiras. Embora eu saiba que muitas adorariam receber rosas cheirosas, mas como monitor não exala odor nenhum, essa aí pela beleza representa bem todas elas, essas representantes do sexo frágil que de fraco nada tem.
Muitas pelo mundo ainda sofrem os preconceitos, às vezes até codificados nas normas e nos dogmas e em nome desses princípios até são mutiladas. Outras não podem mostrar a beleza natural que naturalmente são dotadas, como se isso fosse pecado. Mas, como essa plantinha floresce no chão quente, elas vencem tudo, tornam-se alicerces, mães que como a singela flor vencem todos os obstáculos. São anjos e são feras conforme as exigências do meio.
Quantas todos conhecem assim? Muitas! Incontáveis...
Parabéns mulheres pelo seu Dia Internacional.


sábado, 7 de março de 2009

O que é responsabilidade social?

"... Nunca é demais lembrar que o
papel da iniciativa privada é gerar lucro, pois sem isso não há
desenvolvimento sustentável. O papel do governo é garantir
condições que promovam o desenvolvimento humano em todas
as suas dimensões. O que acontece é que a sociedade se tornou
tão complexa e o nível populacional tão alto, que os governos de
forma geral, em todo o mundo, já não conseguem mais atender
às demandas econômicas, sociais, políticas e ambientais,
cabendo às empresas dividir essa responsabilidade, pois
formamos uma grande força alavancadora na sociedade.


Leia o texto original, entrevista dada por Miguel Krigsner (presidente de "O Boticário") e Emerson Kapaz (do Instituto Ethos) sobre o que é responsabilidade social da empresas.
Fonte: Revista Business (Fae). (clique no destaque!)

Coloquei esse texto que pode ser visto no original em PDF para mostrar a necessidade de todos participarem efetivamente e ativamente dos atos relacionados às suas comunidades, como o Projeto lançado por algumas cidades como o "Adote uma Praça".

terça-feira, 3 de março de 2009

DELÍCIAS DO BRASIL.

Brazilian Apples in march
Posted by Picasa

A Carta
(Pero Vaz de Caminha)

Senhor,
posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que -- para o bem contar e falar -- o saiba pior que todos fazer!
Todavia tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual bem certo creia que, para aformosentar nem afear, aqui não há de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu.
Da marinhagem e das singraduras do caminho não darei aqui conta a Vossa Alteza -- porque o não saberei fazer -- e os pilotos devem ter este cuidado.
E portanto, Senhor, do que hei de falar começo:
E digo que:
A partida de Belém foi -- como Vossa Alteza sabe, segunda-feira 9 de março. E sábado, 14 do dito mês, entre as 8 e 9 horas,nos achamos entre as Canárias, mais perto da Grande Canária. E ali andamos todo aquele dia em calma, à vista delas, obra de três a quatro léguas. E domingo, 22 do dito mês, às dez horas mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo Verde, asaber da ilha de São Nicolau, segundo o dito de Pero Escolar, piloto.
Na noite seguinte à segunda-feira amanheceu, se perdeu da frota Vasco de Ataíde com a sua nau, sem haver tempo forte ou contrário para poder ser !
Fez o capitão suas diligências para o achar, em umas e outras partes. Mas... não apareceu mais !
E assim seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até que terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra, estando da dita Ilha -- segundo os pilotos diziam, obra de 660 ou 670 léguas -- os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, e assim mesmo outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam furabuchos.
Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz!
Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braças. E ao sol-posto umas seis léguas da terra, lançamos ancoras, em dezenove braças -- ancoragem limpa. Ali ficamo-nos toda aquela noite. E quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos em direitura à terra, indo os navios pequenos diante -- por dezessete, dezesseis, quinze, catorze, doze, nove braças -- até meia légua da terra, onde todos lançamos ancoras, em frente da boca de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem às dez horas, pouco mais ou menos.
E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos que chegaram primeiro.
Então lançamos fora os batéis e esquifes. E logo vieram todos os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor. E ali falaram. E o Capitão mandou em terra a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou a ir-se para lá, acudiram pela praia homens aos dois e aos três, de maneira que, quando o batel chegou à boca do rio, já lá estavam dezoito ou vinte.
Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas. Vinham todos rijamente em direção ao batel. E Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os depuseram. Mas não pôde deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, por o mar quebrar na costa. Somente arremessou-lhe um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E um deles lhe arremessou um sombreiro depenas de ave, compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas, como de papagaio. E outro lhe deu um ramal grande de continhas brancas, miúdas que querem parecer de aljôfar, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza. E com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por causa do mar.
À noite seguinte ventou tanto sueste com chuvaceiros que fez caçar as naus. E especialmente a Capitaina. E sexta pela manhã, às oito horas, pouco mais ou menos, por conselho dos pilotos, mandou o Capitão levantar ancoras e fazer vela. E fomos de longo da costa, com os batéis e esquifes amarrados na popa, em direção norte, para ver se achávamos alguma abrigada e bom pouso, onde nós ficássemos, para tomar água e lenha. Não por nos já minguar, mas por nos prevenirmos aqui. E quando fizemos vela estariam já na praia assentados perto do rio obra de sessenta ou setenta homens que se haviam juntado ali aos poucos. Fomos ao longo, e mandou o Capitão aos navios pequenos que fossem mais chegados à terra e, se achassem pouso seguro para as naus, que amainassem.
E velejando nós pela costa, na distância de dez léguas do sítio onde tínhamos levantado ferro, acharam os ditos navios pequenos um recife com um porto dentro, muito bom e muito seguro, com uma mui larga entrada. E meteram-se dentro e amainaram. E as naus foram-se chegando, atrás deles. E um pouco antes de sol-pôsto amainaram também, talvez a uma légua do recife, e ancoraram a onze braças.
E estando Afonso Lopez, nosso piloto, em um daqueles navios pequenos, foi, por mandado do Capitão, por ser homem vivo e destro para isso, meter-se logo no esquife a sondar o porto dentro. E tomou dois daqueles homens da terra que estavam numa almadia: mancebos e de bons corpos. Um deles trazia um arco, e seis ou sete setas. E na praia andavam muitos com seus arcos e setas; mas não os aproveitou. Logo, já de noite, levou-os à Capitaina, onde foram recebidos com muito prazer e festa.
A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do beiço; ea parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita a modo de roque de xadrez. E trazem-no ali encaixado de sorte que não os magoa, nem lhes põe estorvo no falar, nem no comer e beber.
Os cabelos deles são corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta antes do que sobre-pente, de boa grandeza, rapados todavia por cima das orelhas. E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a fonte, na parte detrás, uma espécie de cabeleira, de penas de ave amarela, que seria do comprimento de um coto, mui basta e mui cerrada, que lhe cobria o toutiço e as orelhas. E andava pegada aos cabelos, pena por pena, com uma confeição branda como, de maneira tal que a cabeleira era mui redonda e mui basta, e mui igual, e não fazia míngua mais lavagem para a levantar.
O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, aos pés uma alcatifa por estrado; e bem vestido, com um colar de ouro, mui grande, ao pescoço. E Sancho de Tovar, e Simão de Miranda, e Nicolau Coelho, e Aires Corrêa, e nós outros que aqui na nau com ele íamos, sentados no chão, nessa alcatifa. Acenderam-se tochas. E eles entraram. Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao Capitão; nem a alguém. Todavia um deles fitou o colar do Capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois para o colar, como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra. E também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para o castiçal, como se lá também houvesse prata!
Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como se os houvesse ali.
Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso dele.
Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela, e não lhe queriam pôr a mão. Depois lhe pegaram, mas como espantados.
Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada; e se provavam alguma coisa, logo a lançavam fora.
Trouxeram-lhes vinho em uma taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram dele nada, nem quiseram mais.
Trouxeram-lhes água em uma albarrada, provaram cada um o seu bochecho, mas não beberam; apenas lavaram as bocas e lançaram-na fora.
Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal que lhas dessem, e folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço; e depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se dariam ouro por aquilo.
Isto tomávamos nós nesse sentido, por assim o desejarmos! Mas se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não queríamos nós entender, por que lho não havíamos de dar! E depois tornou as contas a quem lhas dera. E então estiraram-se de costas na alcatifa, a dormir sem procurarem maneiras de encobrir suas vergonhas, as quais não eram fanadas; e as cabeleiras delas estavam bem rapadas e feitas.
O Capitão mandou pôr por baixo da cabeça de cada um seu coxim; e o da cabeleira esforçava-se por não a estragar. E deitaram um manto por cima deles; e consentindo, aconchegaram-se e adormeceram.
Sábado pela manhã mandou o Capitão fazer vela, fomos demandar a entrada, a qual era mui larga e tinha seis a sete braças de fundo. E entraram todas as naus dentro, e ancoraram em cinco ou seis braças -- ancoradouro que é tão grande e tão formoso de dentro, e tão seguro que podem ficar nele mais de duzentos navios e naus. E tanto que as naus foram distribuídas e ancoradas, vieram os capitães todos a esta nau do Capitão-mor. E daqui mandou o Capitão que Nicolau Coelho e Bartolomeu Dias fossem em terra e levassem aqueles dois homens, e os deixassem ir com seu arco e setas, aos quais mandou dar a cada um uma camisa nova e uma carapuça vermelha e um rosário de contas brancas de osso, que foram levando nos raços, e um cascavel e uma campainha. E mandou com eles, para lá ficar, um mancebo degredado, criado de dom João Telo, de nome Afonso Ribeiro, para lá andar com eles e saber de seu viver e maneiras. E a mim mandou que fosse com Nicolau Coelho. Fomos assim de frecha direitos à praia. Ali acudiram logo perto de duzentos homens, todos nus, com arcos e setas nas mãos. Aqueles que nós levamos acenaram-lhes que se afastassem e depusessem os arcos. E eles os depuseram. Mas não se afastaram muito. E mal tinham pousado seus arcos quando saíram os que nós levávamos, e o mancebo degredado com eles.
E saídos não pararam mais; nem esperavam um pelo outro, mas antes corriam a quem mais correria. E passaram um rio que aí corre, de água doce, de muita água que lhes dava pela braga. E muitos outros com eles. E foram assim correndo para além do rio entre umas moitas de palmeiras onde estavam outros. E ali pararam. E naquilo tinha ido o degredado com um homem que, logo ao sair do batel, o agasalhou e levou até lá. Mas logo o tornaram a nós. E com ele vieram os outros que nós leváramos, os quais vinham já nus e sem carapuças.
E então se começaram de chegar muitos; e entravam pela beira do mar para os batéis, até que mais não podiam. E traziam cabaças d'água, e tomavam alguns barris que nós levávamos e enchiam-nos de água e traziam-nos aos batéis. Não que eles de todo chegassem a bordo do batel. Mas junto a ele, lançavam-nos da mão. E nós tomávamo-los. E pediam que lhes dessem alguma coisa.
Levava Nicolau Coelho cascavéis e manilhas. E a uns dava um cascavel, e a outros uma manilha, de maneira que com aquela encarna quase que nos queriam dar a mão. Davam-nos daqueles arcos e setas em troca de sombreiros e carapuças de linho, e de qualquer coisa que a gente lhes queria dar.
Dali se partiram os outros, dois mancebos, que não os vimos mais.
Dos que ali andavam, muitos -- quase a maior parte --traziam aqueles bicos de osso nos beiços.
E alguns, que andavam sem eles, traziam os beiços furados e nos buracos traziam uns espelhos de pau, que pareciam espelhosde borracha. E alguns deles traziam três daqueles bicos, a saber um no meio, e os dois nos cabos.
E andavam lá outros, quartejados de cores, a saber metade deles da sua própria cor, e metade de tintura preta, um tanto azulada; e outros quartejados d'escaques.
Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem novinhas e gentis, com cabelos muito pretos e compridos pelas costas; e suas vergonhas, tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as nós muito bem olharmos, não se envergonhavam.
Ali por então não houve mais fala ou entendimento com eles, por a barbana deles ser tamanha que se não entendia nem ouvia ninguém. Acenamos-lhes que se fossem. E assim o fizeram e passaram-se para além do rio. E saíram três ou quatro homens nossos dos batéis, e encheram não sei quantos barris d'água que nós levávamos. E tornamo-nos às naus. E quando assim vínhamos, acenaram-nos que voltássemos. Voltamos, e eles mandaram o degredado e não quiseram que ficasse lá com eles, o qual levava uma bacia pequena e duas ou três carapuças vermelhas para lá as dar ao senhor, se o lá houvesse. Não trataram de lhe tirar coisa alguma, antes mandaram-no com tudo. Mas então Bartolomeu Dias o fez outra vez tornar, que lhe desseaquilo. E ele tornou e deu aquilo, em vista de nós, a aquele que o da primeira agasalhara. E então veio-se, e nós levamo-lo.
Esse que o agasalhou era já de idade, e andava por galanteria, cheio de penas, pegadas pelo corpo, que parecia seteado como São Sebastião. Outros traziam carapuças de penas amarelas; e outros, de vermelhas; e outros de verdes. E uma daquelas moças era toda tingida de baixo a cima, daquela tintura e certo era tão bem feita e tão redonda, e sua vergonha tão graciosa que a muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhe tais feições envergonhara, por não terem as suas como ela. Nenhum deles era fanado, mas todos assim como nós.
E com isto nos tornamos, e eles foram-se.
À tarde saiu o Capitão-mor em seu batel com todos nós outros capitães das naus em seus batéis a folgar pela baía, perto da praia. Mas ninguém saiu em terra, por o Capitão o não querer, apesar de ninguém estar nela. Apenas saiu -- ele com todos nós -- em um ilhéu grande que está na baía, o qual, aquando baixamar, fica mui vazio. Com tudo está de todas as partes cercado de água, de sorte que ninguém lá pode ir, a não ser de barco ou a nado. Ali folgou ele, e todos nós, bem uma hora e meia. E pescaram lá, andando alguns marinheiros com um chinchorro; e mataram peixe miúdo, não muito. E depois volvemo-nos às naus, já bem noite.
Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão ir ouvir missa e sermão naquele ilhéu. E mandou a todos os capitães que se arranjassem nos batéis e fossem com ele. E assim foi feito. Mandou armar um pavilhão naquele ilhéu, e dentro levantar um altar mui bem arranjado. E ali com todos nós outros fez dizer missa, a qual disse o padre frei Henrique, em vozentoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres e sacerdotes que todos assistiram, a qual missa, segundo meu parecer, foi ouvida por todos com muito prazer e devoção.
Ali estava com o Capitão a bandeira de Cristo, com que saíra de Belém, a qual esteve sempre bem alta, da parte do Evangelho.
Acabada a missa, desvestiu-se o padre e subiu a uma cadeira alta; e nós todos lançados por essa areia. E pregou uma solene e proveitosa pregação, da história evangélica; e no fim tratou da nossa vida, e do achamento desta terra, referindo-se à Cruz, sob cuja obediência viemos, que veio muito a propósito, e fez muita devoção.
Enquanto assistimos à missa e ao sermão, estaria na praia outra tanta gente, pouco mais ou menos, como a de ontem, com seus arcos e setas, e andava folgando. E olhando-nos, sentaram. E depois de acabada a missa, quando nós sentados atendíamos a pregação, levantaram-se muitos deles e tangeram corno ou buzina e começaram a saltar e dançar um pedaço. E alguns deles se metiam em almadias -- duas ou três que lá tinham -- as quais não são feitas como as que eu vi; apenas são três traves, atadas juntas. E ali se metiam quatro ou cinco, ou esses que queriam, não se afastando quase nada da terra, só até onde podiam tomar pé.
Acabada a pregação encaminhou-se o Capitão, com todos nós, para os batéis, com nossa bandeira alta. Embarcamos e fomos indo todos em direção à terra para passarmos ao longo por onde eles estavam, indo na dianteira, por ordem do Capitão, Bartolomeu Dias em seu esquife, com um pau de uma almadia que lhes o mar levara, para o entregar a eles. E nós todos trás dele, a distância de um tiro de pedra.
Como viram o esquife de Bartolomeu Dias, chegaram-se logo todos à água, metendo-se nela até onde mais podiam. Acenaram-lhes que pousassem os arcos e muitos deles os iam logo pôr em terra; e outros não os punham.
Andava lá um que falava muito aos outros, que se afastassem. Mas não já que a mim me parecesse que lhe tinham respeito ou medo. Este que os assim andava afastando trazia seu arco e setas. Estava tinto de tintura vermelha pelos peitos e costas e pelos quadris, coxas e pernas até baixo, mas os vazios com a barriga e estômago eram de sua própria cor. E a tintura era tão vermelha que a água lha não comia nem desfazia. Antes, quando saía da água, era mais vermelho. Saiu um homem do esquife de Bartolomeu Dias e andava no meio deles, sem implicarem nada com ele, e muito menos ainda pensavam em fazer-lhe mal.
Apenas lhe davam cabaças d'água; e acenavam aos do esquife que saíssem em terra. Com isto se volveu Bartolomeu Dias ao Capitão. E viemo-nos às naus, a comer, tangendo trombetas e gaitas, sem os mais constranger. E eles tornaram-se a sentar na praia, e assim por então ficaram.
Neste ilhéu, onde fomos ouvir missa e sermão, espraia muito a água e descobre muita areia e muito cascalho. Enquanto lá estávamos foram alguns buscar marisco e não no acharam. Mas acharam alguns camarões grossos e curtos, entre os quais
vinha um muito grande e muito grosso; que em nenhum tempo o vi tamanho. Também acharam cascas de berbigões e de amêijoas, mas não toparam com nenhuma peça inteira. E depois de termos comido vieram logo todos os capitães a esta nau, por ordem do Capitão-mor, com os quais ele se aportou; e eu na companhia. E perguntou a todos se nos parecia bem mandar a nova do achamento desta terra a Vossa Alteza pelo navio dos mantimentos, para a melhor mandar descobrir e saber dela mais do que nós podíamos saber, por irmos na nossa viagem.
E entre muitas falas que sobre o caso se fizeram foi dito, por todos ou a maior parte, que seria muito bem. E nisto concordaram. E logo que a resolução foi tomada, perguntou mais, se seria bem tomar aqui por força um par destes homens para os mandar a Vossa Alteza, deixando aqui em lugar deles outros dois destes degredados.
E concordaram em que não era necessário tomar por força homens, porque costume era dos que assim à força levavam para alguma parte dizerem que há de tudo quanto lhes perguntam; e que melhor e muito melhor informação da terra dariam dois homens desses degredados que aqui deixássemos do que eles dariam se os levassem por ser gente que ninguém entende. Nem eles cedo aprenderiam a falar para o saberem tão bem dizer que muito melhor estoutros o não digam quando cá Vossa Alteza mandar.
E que portanto não cuidássemos de aqui por força tomar ninguém, nem fazer escândalo; mas sim, para os de todo amansar e apaziguar, unicamente de deixar aqui os dois degredados quando daqui partíssemos.
E assim ficou determinado por parecer melhor a todos.
Acabado isto, disse o Capitão que fôssemos nos batéis em terra. E ver-se-ia bem, quejando era o rio. Mas também parafolgarmos.
Fomos todos nos batéis em terra, armados; e a bandeira conosco. Eles andavam ali na praia, à boca do rio, para onde nós íamos; e, antes que chegássemos, pelo ensino que dantes tinham, puseram todos os arcos, e acenaram que saíssemos. Mas,
tanto que os batéis puseram as proas em terra, passaram-se logo todos além do rio, o qual não é mais ancho que um jogo de mancal. E tanto que desembarcamos, alguns dos nossos passaram logo o rio, e meteram-se entre eles. E alguns aguardavam; e outros se afastavam. Com tudo, a coisa era de maneira que todos andavam misturados. Eles davam desses arcos com suas setas por sombreiros e carapuças de linho, e por qualquer coisa que lhes davam. Passaram além tantos dos nossos e andaram assim misturados com eles, que eles se esquivavam, e afastavam-se; e iam alguns para cima, onde outros estavam. E então o Capitão fez que o tomassem ao colo dois homens e passou o rio, e fez tornar a todos. A gente que ali estava não seria mais que aquela do costume. Mas logo que o Capitão chamou todos para trás, alguns se chegaram a ele, não por o reconhecerem por Senhor, mas porque a gente, nossa, já passava para aquém do rio. Ali falavam e traziam muitos arcos e continhas, daquelas já ditas, e resgatavam-nas por qualquer coisa, de tal maneira que os nossos levavam dali para as naus muitos arcos, esetas e contas.
E então tornou-se o Capitão para aquém do rio. E logo acudiram muitos à beira dele.
Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo, assim pareciam bem. Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam mal. Entre elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda tingida daquela tintura preta; e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma.
Também andava lá outra mulher, nova, com um menino ou menina, atado com um pano aos peitos, de modo que não se lhe viam senão as perninhas. Mas nas pernas da mãe, e no resto, não havia pano algum.
Em seguida o Capitão foi subindo ao longo do rio, que corre rente à praia. E ali esperou por um velho que trazia na mão uma pá de almadia. Falou, enquanto o Capitão estava com ele, na presença de todos nós; mas ninguém o entendia, nem ele a nós,por mais coisas que a gente lhe perguntava com respeito a ouro, porque desejávamos saber se o havia na terra.
Trazia este velho o beiço tão furado que lhe cabia pelo buraco um grosso dedo polegar. E trazia metido no buraco uma pedra verde, de nenhum valor, que fechava por fora aquele buraco. E o Capitão lha fez tirar. E ele não sei que diabo falava e ia com ela para a boca do Capitão para lha meter. Estivemos rindo um pouco e dizendo chalaças sobre isso. E então enfadou-se o Capitão, e deixou-o. E um dos nossos deu-lhe pela pedra um sombreiro velho; não por ela valer alguma coisa, mas para amostra. E depois houve-a o Capitão, creio, para mandar com as outras coisas a Vossa Alteza.
Andamos por aí vendo o ribeiro, o qual é de muita água e muito boa. Ao longo dele há muitas palmeiras, não muito altas; e muito bons palmitos. Colhemos e comemos muitos deles.
Depois tornou-se o Capitão para baixo para a boca do rio, onde tínhamos desembarcado.
E além do rio andavam muitos deles dançando e folgando, uns diante os outros, sem se tomarem pelas mãos. E faziam-no bem. Passou-se então para a outra banda do rio Diogo Dias, que fora almoxarife de Sacavém, o qual é homem gracioso e de prazer. E levou consigo um gaiteiro nosso com sua gaita. E meteu-se a dançar com eles, tomando-os pelas mãos; e eles folgavam e riam e andavam com ele muito bem ao som da gaita. Depois de dançarem fez ali muitas voltas ligeiras, andando no chão, e salto real, de que se eles espantavam e riam e folgavam muito. E conquanto com aquilo os segurou e afagou muito, tomavam logo uma esquiveza como de animais montezes, e foram-se para cima.
E então passou o rio o Capitão com todos nós, e fomos pela praia, de longo, ao passo que os batéis iam rentes à terra. E chegamos a uma grande lagoa de água doce que está perto da praia, porque toda aquela ribeira do mar é apaulada por cima e sai a água por muitos lugares.
E depois de passarmos o rio, foram uns sete ou oito deles meter-se entre os marinheiros que se recolhiam aos batéis. E levaram dali um tubarão que Bartolomeu Dias matou. E levavam-lho; e lançou-o na praia.
Bastará que até aqui, como quer que se lhes em alguma parte amansassem, logo de uma mão para outra se esquivavam, como pardais do cevadouro. Ninguém não lhes ousa falar de rijo para não se esquivarem mais. E tudo se passa como eles querem -- para os bem amansarmos !
Ao velho com quem o Capitão havia falado, deu-lhe uma carapuça vermelha. E com toda a conversa que com ele houve, e com a carapuça que lhe deu tanto que se despediu e começou a passar o rio, foi-se logo recatando. E não quis mais tornar do rio para aquém. Os outros dois o Capitão teve nas naus, aos quais deu o que já ficou dito, nunca mais aqui apareceram -- fatos de que deduzo que é gente bestial e de pouco saber, e por isso tão esquiva. Mas apesar de tudo isso andam bem curados, e muito limpos. E naquilo ainda mais me convenço que são como aves, ou alimárias montezinhas, as quais o ar faz melhores penas e melhor cabelo que às mansas, porque os seus corpos são tão limpos e tão gordos e tão formosos que não pode ser mais! E isto me faz presumir que não tem casas nem moradias em que se recolham; e o ar em que se criam os faz tais. Nós pelo menos não vimos até agora nenhumas casas, nem coisa que se pareça com elas.
Mandou o Capitão aquele degredado, Afonso Ribeiro, que se fosse outra vez com eles. E foi; e andou lá um bom pedaço, mas a tarde regressou, que o fizeram eles vir: e não o quiseram lá consentir. E deram-lhe arcos e setas; e não lhe tomaram nada do seu. Antes, disse ele, que lhe tomara um deles umas continhas amarelas que levava e fugia com elas, e ele se queixou e os outros foram logo após ele, e lhas tomaram e tornaram-lhas a dar; e então mandaram-no vir. Disse que não vira lá entre eles senão umas choupaninhas de rama verde e de feteiras muito grandes, como as de Entre Douro e Minho. E assim nos tornamos às naus, já quase noite, a dormir.
Segunda-feira, depois de comer, saímos todos em terra a tomar água. Ali vieram então muitos; mas não tantos como as outras vezes. E traziam já muito poucos arcos. E estiveram um pouco afastados de nós; mas depois pouco a pouco misturaram-se conosco; e abraçavam-nos e folgavam; mas alguns deles se esquivavam logo. Ali davam alguns arcos por folhas de papel e por alguma carapucinha velha e por qualquer coisa. E de tal maneira se passou a coisa que bem vinte ou trinta pessoas das nossas se foram com eles para onde outros muitos deles estavam com moças e mulheres. E trouxeram de lá muitos arcos e barretes de penas de aves, uns verdes, outros amarelos, dos quais creio que o Capitão há de mandar uma amostra a Vossa Alteza.
E segundo diziam esses que lá tinham ido, brincaram com eles. Neste dia os vimos mais de perto e mais à nossa vontade, por andarmos quase todos misturados: uns andavam quartejados daquelas tinturas, outros de metades, outros de tanta feição como
em pano de ras, e todos com os beiços furados, muitos com os ossos neles, e bastantes sem ossos. Alguns traziam uns ouriços verdes, de árvores, que na cor queriam parecer de castanheiras, embora fossem muito mais pequenos. E estavam cheios de uns grãos vermelhos, pequeninos que, esmagando-se entre os dedos, se desfaziam na tinta muito vermelha de que andavam tingidos. E quanto mais se molhavam, tanto mais vermelhos ficavam.
Todos andam rapados até por cima das orelhas; assim mesmo de sobrancelhas e pestanas.
Trazem todos as testas, de fonte a fonte, tintas de tintura preta, que parece uma fita preta da largura de dois dedos.
E o Capitão mandou aquele degredado Afonso Ribeiro e a outros dois degredados que fossem meter-se entre eles; e assim mesmo a Diogo Dias, por ser homem alegre, com que eles folgavam. E aos degredados ordenou que ficassem lá esta noite.
Foram-se lá todos; e andaram entre eles. E segundo depois diziam, foram bem uma légua e meia a uma povoação, em que haveria nove ou dez casas, as quais diziam que eram tão compridas, cada uma, como esta nau capitaina. E eram de madeira, e das ilhargas de tábuas, e cobertas de palha, de razoável altura; e todas de um só espaço, sem repartição alguma, tinham de dentro muitos esteios; e de esteio a esteio uma rede atada com cabos em cada esteio, altas, em que dormiam. E de baixo, parase aquentarem, faziam seus fogos. E tinha cada casa duas portas pequenas, uma numa extremidade, e outra na oposta. E diziam que em cada casa se recolhiam trinta ou quarenta pessoas, e que assim os encontraram; e que lhes deram de comer dos alimentos que tinham, a saber muito inhame, e outras sementes que na terra dá, que eles comem. E como se fazia tarde fizeram-nos logo todos tornar; e não quiseram que lá ficasse nenhum. E ainda, segundo diziam, queriam vir com eles.
Resgataram lá por cascavéis e outras coisinhas de pouco valor, que levavam, papagaios vermelhos, muito grandes e formosos, e dois verdes pequeninos, e carapuças de penas verdes, e um pano de penas de muitas cores, espécie de tecido assaz belo, segundo Vossa Alteza todas estas coisas verá, porque o Capitão vo-las há de mandar, segundo ele disse. E com isto vieram; e nós tornamo-nos às naus.
Terça-feira, depois de comer, fomos em terra, fazer lenha, e para lavar roupa. Estavam na praia, quando chegamos, uns sessenta ou setenta, sem arcos e sem nada. Tanto que chegamos, vieram logo para nós, sem se esquivarem. E depois acudiram muitos, que seriam bem duzentos, todos sem arcos. E misturaram-se todos tanto conosco que uns nos ajudavam a acarretar lenha e metê-las nos batéis. E lutavam com os nossos, e tomavam com prazer. E enquanto fazíamos a lenha, construíam dois carpinteiros uma grande cruz de um pau que se ontem para isso cortara. Muitos deles vinham ali estar com os carpinteiros. E creio que o faziam mais para verem a ferramenta de ferro com que a faziam do que para verem a cruz, porque eles não tem coisa que de ferro seja, e cortam sua madeira e paus com pedras feitas como cunhas, metidas em um pau entre duas talas, mui bem atadas e por tal maneira que andam fortes, porque lhas viram lá. Era já a conversação deles conosco tanta que quase nos estorvavam no que havíamos de fazer.
E o Capitão mandou a dois degredados e a Diogo Dias que fossem lá à aldeia e que de modo algum viessem a dormir às naus, ainda que os mandassem embora. E assim se foram.
Enquanto andávamos nessa mata a cortar lenha, atravessavam alguns papagaios essas árvores; verdes uns, e pardos, outros, grandes e pequenos, de sorte que me parece que haverá muitos nesta terra. Todavia os que vi não seriam mais que nove ou dez, quando muito. Outras aves não vimos então, a não ser algumas pombas-seixeiras, e pareceram-me maiores bastante do que as de Portugal. Vários diziam que viram rolas, mas eu não as vi. Todavia segundo os arvoredos são mui muitos e grandes, e de infinitas espécies, não duvido que por esse sertão haja muitas aves!
E cerca da noite nós volvemos para as naus com nossa lenha.
Eu creio, Senhor, que não dei ainda conta aqui a Vossa Alteza do feitio de seus arcos e setas. Os arcos são pretos e compridos, e as setas compridas; e os ferros delas são canas aparadas, conforme Vossa Alteza verá alguns que creio que o Capitão a Ela há de enviar.
Quarta-feira não fomos em terra, porque o Capitão andou todo o dia no navio dos mantimentos a despejá-lo e fazer levar às naus isso que cada um podia levar. Eles acudiram à praia, muitos, segundo das naus vimos. Seriam perto de trezentos, segundo Sancho de Tovar que para lá foi. Diogo Dias e Afonso Ribeiro, o degredado, aos quais o Capitão ontem ordenara que de toda maneira lá dormissem, tinham voltado já de noite, por eles não quererem que lá ficassem. E traziam papagaios verdes; e outras aves pretas, quase como pegas, com a diferença de terem o bico branco e rabos curtos. E quando Sancho de Tovar recolheu à nau, queriam vir com ele, alguns; mas ele não admitiu senão dois mancebos, bem dispostos e homens de prol.
Mandou pensar e curá-los mui bem essa noite. E comeram toda a ração que lhes deram, e mandou dar-lhes cama de lençóis, segundo ele disse. E dormiram e folgaram aquela noite. E não houve mais este dia que para escrever seja.
Quinta-feira, derradeiro de abril, comemos logo, quase pela manhã, e fomos em terra por mais lenha e água. E em querendo o Capitão sair desta nau, chegou Sancho de Tovar com seus dois hóspedes. E por ele ainda não ter comido, puseram-lhe toalhas, e veio-lhe comida. E comeu. Os hóspedes, sentaram-no cada um em sua cadeira. E de tudo quanto lhes deram, comeram mui bem, especialmente lacão cozido frio, e arroz. Não lhes deram vinho por Sancho de Tovar dizer que o não bebiam bem.
Acabado o comer, metemo-nos todos no batel, e eles conosco. Deu um grumete a um deles uma armadura grande de porco montês, bem revolta. E logo que a tomou meteu-a no beiço; e porque se lhe não queria segurar, deram-lhe uma pouca de cera vermelha. E ele ajeitou-lhe seu adereço da parte de trás de sorte que segurasse, e meteu-a no beiço, assim revolta para cima; e ia tão contente com ela, como se tivesse uma grande jóia. E tanto que saímos em terra, foi-se logo com ela. E não tornou a aparecer lá.
Andariam na praia, quando saímos, oito ou dez deles; e de aí a pouco começaram a vir. E parece-me que viriam este dia a praia quatrocentos ou quatrocentos e cinqüenta. Alguns deles traziam arcos e setas; e deram tudo em troca de carapuças e por qualquer coisa que lhes davam. Comiam conosco do que lhes dávamos, e alguns deles bebiam vinho, ao passo que outros o não podiam beber. Mas quer-me parecer que, se os acostumarem, o hão de beber de boa vontade! Andavam todos tão bem dispostos e tão bem feitos e galantes com suas pinturas que agradavam. Acarretavam dessa lenha quanta podiam, com mil boas vontades, e levavam-na aos batéis. E estavam já mais mansos e seguros entre nós do que nós estávamos entre eles.
Foi o Capitão com alguns de nós um pedaço por este arvoredo até um ribeiro grande, e de muita água, que ao nosso parecer é o mesmo que vem ter à praia, em que nós tomamos água. Ali descansamos um pedaço, bebendo e folgando, ao longo dele, entre esse arvoredo que é tanto e tamanho e tão basto e de tanta qualidade de folhagem que não se pode calcular. Há lá muitas palmeiras, de que colhemos muitos e bons palmitos.
Ao sairmos do batel, disse o Capitão que seria bom irmos em direitura à cruz que estava encostada a uma árvore, junto ao rio, a fim de ser colocada amanhã, sexta-feira, e que nos puséssemos todos de joelhos e a beijássemos para eles verem o acatamento que lhe tínhamos. E assim fizemos. E a esses dez ou doze que lá estavam, acenaram-lhes que fizessem o mesmo; e logo foram todos beijá-la.
Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências. E portanto se os degredados que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem, não duvido que eles, segundo a santa tenção de Vossa Alteza, se farão cristãos e hão de crer na nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque certamente esta gente é boa e de bela simplicidade. E imprimir-se-á facilmente neles qualquer cunho que lhe quiserem dar, uma vez que Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a homens bons. E o Ele nos para aqui trazer creio que não foi sem causa. E portanto Vossa Alteza, pois tanto deseja acrescentar a santa fé católica, deve cuidar da salvação deles. E prazerá a Deus que com pouco trabalho seja assim!
Eles não lavram nem criam. Nem há aqui boi ou vaca, cabra, ovelha ou galinha, ou qualquer outro animal que esteja acostumado ao viver do homem. E não comem senão deste inhame, de que aqui há muito, e dessas sementes e frutos que a terra e as árvores de si deitam. E com isto andam tais e tão rijos e tão nédios que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos.
Nesse dia, enquanto ali andavam, dançaram e bailaram sempre com os nossos, ao som de um tamboril nosso, como se fossem mais amigos nossos do que nós seus. Se lhes a gente acenava, se queriam vir às naus, aprontavam-se logo para isso, de modo tal, que se os convidáramos a todos, todos vieram. Porém não levamos esta noite às naus senão quatro ou cinco; a saber, o Capitão-mor, dois; e Simão de Miranda, um que já trazia por pagem; e Aires Gomes a outro, pagem também. Os que o Capitão trazia, era um deles um dos seus hóspedes que lhe haviam trazido a primeira vez quando aqui chegamos -- o qual veio hoje aqui vestido na sua camisa, e com ele um seu irmão; e foram esta noite mui bem agasalhados tanto de comida como de cama, de colchões e lençóis, para os mais amansar.
E hoje que é sexta-feira, primeiro dia de maio, pela manhã, saímos em terra com nossa bandeira; e fomos desembarcar acima do rio, contra o sul onde nos pareceu que seria melhor arvorar a cruz, para melhor ser vista. E ali marcou o Capitão o sítio onde haviam de fazer a cova para a fincar. E enquanto a iam abrindo, ele com todos nós outros fomos pela cruz, rio abaixo onde ela estava. E com os religiosos e sacerdotes que cantavam, à frente, fomos trazendo-a dali, a modo de procissão. Eram já aí quantidade deles, uns setenta ou oitenta; e quando nos assim viram chegar, alguns se foram meter debaixo dela, ajudar-nos. Passamos o rio, ao longo da praia; e fomos colocá-la onde havia de ficar, que será obra de dois tiros de besta do rio. Andando-se ali nisto, viriam bem cento cinqüenta, ou mais. Plantada a cruz, com as armas e a divisa de Vossa Alteza, que primeiro lhe haviam pregado, armaram altar ao pé dela. Ali disse missa o padre frei Henrique, a qual foi cantada e oficiada por esses já ditos. Ali estiveram conosco, a ela, perto de cinqüenta ou sessenta deles, assentados todos de joelho assim como nós.
E quando se veio ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos levantadas, eles se levantaram conosco, e alçaram as mãos, estando assim até se chegar ao fim; e então tornaram-se a assentar, como nós. E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram assim como nós estávamos, com as mãos levantadas, e em tal maneira sossegados que certifico a Vossa Alteza que nos fez muita devoção.
Estiveram assim conosco até acabada a comunhão; e depois da comunhão, comungaram esses religiosos e sacerdotes; e o Capitão com alguns de nós outros. E alguns deles, por o Sol ser grande, levantaram-se enquanto estávamos comungando, e outros estiveram e ficaram. Um deles, homem de cinqüenta ou cinqüenta e cinco anos, se conservou ali com aqueles que ficaram. Esse, enquanto assim estávamos, juntava aqueles que ali tinham ficado, e ainda chamava outros. E andando assim entre eles, falando-lhes, acenou com o dedo para o altar, e depois mostrou com o dedo para o céu, como se lhes dissesse alguma coisa de bem; e nós assim o tomamos!
Acabada a missa, tirou o padre a vestimenta de cima, e ficou na alva; e assim se subiu, junto ao altar, em uma cadeira; e ali nos pregou o Evangelho e dos Apóstolos cujo é o dia, tratando no fim da pregação desse vosso prosseguimento tão santo e virtuoso, que nos causou mais devoção.
Esses que estiveram sempre à pregação estavam assim como nós olhando para ele. E aquele que digo, chamava alguns, que viessem ali. Alguns vinham e outros iam-se; e acabada a pregação, trazia Nicolau Coelho muitas cruzes de estanho com crucifixos, que lhe ficaram ainda da outra vinda. E houveram por bem que lançassem a cada um sua ao pescoço. Por essa causa se assentou o padre frei Henrique ao pé da cruz; e ali lançava a sua a todos -- um a um -- ao pescoço, atada em um fio, fazendo-lha primeiro beijar e levantar as mãos. Vinham a isso muitos; e lançavam-nas todas, que seriam obra de quarenta ou cinqüenta. E isto acabado -- era já bem uma hora depois do meio dia -- viemos às naus a comer, onde o Capitão trouxe consigo aquele mesmo que fez aos outros aquele gesto para o altar e para o céu, (e um seu irmão com ele). A aquele fez muita honra e deu-lhe uma camisa mourisca; e ao outro uma camisa destoutras.
E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente, não lhes falece outra coisa para ser toda cristã, do que entenderem-nos, porque assim tomavam aquilo que nos viam fazer como nós mesmos; por onde pareceu a todos que nenhuma idolatria nem adoração têm. E bem creio que, se Vossa Alteza aqui mandar quem entre eles mais devagar ande, que todos serão tornados e convertidos ao desejo de Vossa Alteza. E por isso, se alguém vier, não deixe logo de vir clérigo para os batizar; porque já então terão mais conhecimentos de nossa fé, pelos dois degredados que aqui entre eles ficam, os quais hoje também comungaram.
Entre todos estes que hoje vieram não veio mais que uma mulher, moça, a qual esteve sempre à missa, à qual deram um pano com que se cobrisse; e puseram-lho em volta dela. Todavia, ao sentar-se, não se lembrava de o estender muito para se cobrir.
Assim, Senhor, a inocência desta gente é tal que a de Adão não seria maior -- com respeito ao pudor.
Ora veja Vossa Alteza quem em tal inocência vive se se convertera, ou não, se lhe ensinarem o que pertence à sua salvação.
Acabado isto, fomos perante eles beijar a cruz. E despedimo-nos e fomos comer.
Creio, Senhor, que, com estes dois degredados que aqui ficam, ficarão mais dois grumetes, que esta noite se saíram em terra,desta nau, no esquife, fugidos, os quais não vieram mais. E cremos que ficarão aqui porque de manhã, prazendo a Deus fazemos nossa partida daqui.
Esta terra, Senhor, parece-me que, da ponta que mais contra o sul vimos, até à outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas de costa. Traz ao longo do mar em algumas partes grandes barreiras, umas vermelhas, e outras brancas; e a terra de cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é toda praia... muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande; porque a estender olhos, não podíamos ver senão terra e arvoredos -- terra que nos parecia muito extensa.
Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d'agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!
Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente queVossa Alteza em ela deve lançar. E que não houvesse mais do que ter Vossa Alteza aqui esta pousada para essa navegação de Calicute bastava. Quanto mais, disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa fé!
E desta maneira dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta Vossa terra vi. E se a um pouco alonguei, Ela me perdoe. Porque o desejo que tinha de Vos tudo dizer, mo fez pôr assim pelo miúdo.
E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro -- o que d'Ela receberei em muita mercê.
Beijo as mãos de Vossa Alteza.
Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500.
Pero Vaz de Caminha.