sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
“Considero Cambuquira o meu paraíso”.
Ana Paula Lemes de Souza
Dr. Vicente Urti: nome de um dos maiores benfeitores de nossa Cambuquira e figura de grande importância da nossa história.
Com 93 anos de idade, de muita saúde, e 69 anos de clínica médica, o ilustre 3° Presidente dessa Casa Legislativa nos conta sobre sua paixão por Cambuquira e pela medicina.
01) Como e quando o senhor ficou conhecendo Cambuquira?
A primeira vez que aqui estive foi em 1940. Eu trabalhava em um Hospital do Rio de Janeiro, cujo Chefe era compadre de um médico de Cambuquira, chamado Dr. Emílio Póvoa, que aqui clinicou em 1937, 1938 e 1939, deixando a cidade para se instalar em São Lourenço, lugar em que chegou a ser prefeito por duas vezes. Na época, esse meu Chefe estava pensando em pra cá se transferir e, como ele era muito amigo de meu pai, tentou convencê-lo, de toda maneira, de que eu deveria aqui me instalar. Vim a Cambuquira a passeio dia 04 de Maio de 1940, ficando hospedado no Hotel Silva. Após cinco dias de estadia, apareceu um caminhão na porta do Hotel com o mobiliário todo do meu consultório do Rio de Janeiro, que meu pai havia despachado pra cá. Acabei aqui ficando. Na época, eu era solteiro, mas já estava namorando minha atual esposa. Quando nos casamos, dois anos depois, viemos morar onde atualmente é a residência do comerciante Dario, lugar em que vivi por dez anos.
02) Como foi recebido pela comunidade na época?
Fui muito bem recebido. Eu montei um consultório, na Rua Direita, em frente ao antigo Hotel Globo, onde atualmente funciona a Prefeitura. Também clinicava em casa, onde tinha outro consultório pronto para atender quando vinham a minha procura. Fora isso, também ia à casa das pessoas para atendê-las.
03) Como foi a sua luta para a construção do Hospital, na época em que fora Vice-Prefeito?
Quando aqui cheguei, havia um casarão, que era pra ser o Hospital, mas não estava funcionando. Com a minha chegada, ele começou a funcionar. Comecei com o ambulatório. Atendia três vezes por semana, ocasião em que eu atendia aos pobres. Vinha gente até de Lambari para clinicar aqui comigo. Dois anos depois, solicitei ao então Prefeito um dinheiro para montar pelo menos um centro cirúrgico, uma sala de operações e uma sala de parto. E assim foi. Reservei quatro quartos particulares que se tornaram: sala de parto, sala de cirurgia e esterilização. Então o Hospital começou a se desenvolver. Operei muita gente de Cambuquira lá, até mesmo quatro veranistas.
Toquei aquele hospital, e eu era o seu único médico. Dr. Manoel Brandão, médico antigo da cidade, esteve lá algumas vezes, quando eu lhe pedia ajuda em uma operação ou alguma outra coisa. Fora isso, eu era sozinho. Eu e mais duas enfermeiras, irmãs, do município de Três Corações, que aqui trabalhavam e moravam.
No Governo do Gaspar Dutra, surgiu uma oportunidade para a cidade: ele destinou cinco hospitais para as Estâncias Hidrominerais. Quando tive notícias, dois dias depois, corri ao Rio de Janeiro, mas já haviam sido distribuídos: um para São Lourenço, um para Poços de Caldas e três para o Estado de São Paulo. Então, reclamei. Acabaram me dando uma planta baixa do Hospital, somente o andar inferior, e aceitei. Mas, vendo que Cambuquira merecia algo melhor, eu, mesmo não sendo engenheiro, nem arquiteto, construí a planta do andar superior: os apartamentos e o centro cirúrgico. A partir desse fato, houve uma denúncia ao Ministério. As subvenções ao Hospital, nessa época, foram cortadas, ocasião em que fui ao Rio de Janeiro e, com esforço, consegui a volta do auxílio, que fora enviado para o interior do Mato Grosso. Tive a ajuda de um deputado eleito por Minas Gerais, Afonso Arinos de Melo Franco, que esteve em Cambuquira, para acompanhar-me ao Ministério.
Quando Diretor do Hospital, dediquei-me inteiramente.
04) As funções de médico e político têm em comum a objetivação de melhoria de vida das pessoas.
Apesar de terem formas diferentes, a ênfase em ambas as profissões é o ser humano e o sucesso se reflete na forma em que lhe é dedicado o cuidado, e no amor com que é exercida a profissão. O humanismo está à frente, como ponto crucial. Baseando-se na sua experiência profissional em ambas as funções, nos diga: em qual delas houve mais amor em exercer? E em qual delas houve maior facilidade em lograr resultados?
Em amor, com certeza a profissão de médico. Mas em lograr resultados, pela abrangência e possibilidades de trabalhar com o coletivo, com certeza a política, esta que eu entrei por mera casualidade.
Quando acabou o Governo de Getúlio, as eleições voltaram. Àquela época, aqui existiam dois partidos: o PSD e a UND, que eram opositores políticos. O PSD era representante das oligarquias rurais e era favorável a Getúlio e a UDN reunia os setores liberais de oposição a Getúlio. De início, eu não queria entrar na política de jeito nenhum, mas acabei entrando.
Entrei na UDN. Para a chapa, foi escolhido André Bacha para Prefeito, e eu entrei como Vice-Prefeito. Na eleição, eu tive o maior numero de votos, maior inclusive que do próprio André. Quando ia acabar o mandato, eu fui o candidato escolhido pelo partido, e pedido também pelo povo, na sucessão do André Bacha, o que me fez largar a Prefeitura três meses antes das eleições para a desincompatibilização de cargos.
Na homologação de minha candidatura, o Dr. Manoel Brandão me fez um apelo para que eu abrisse mão dela, para que ele pudesse ser o candidato. Apesar de eu ter ganhado a eleição na convenção por quatro a dois, acabei cedendo. E então ele foi candidato a Prefeito e ganhou. E eu fui candidato a Vereador, sendo Presidente da Câmara em 1951.
05) O seu trabalho como médico iniciou-se quando? Até quando exerceu a profissão?
Eu me formei médico em 1938, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dois anos e meio depois, eu vim para Cambuquira. Exerci a profissão até agosto do ano passado (2007), e tudo que restou do meu consultório de Copacabana foi enviado pra cá, para o Hospital de Cambuquira: vinte e cinco caixas de material médico bom, sendo três deles com livros de medicina, que já não cabiam mais na biblioteca do meu apartamento no Rio de Janeiro, além de material para o laboratório.
Foram 69 anos de vida profissional, trabalhando intensamente e apaixonadamente.
06) Como foi a conciliação entre a profissão de médico e político?
Houve uma boa conciliação. O cargo de político, naquela época, era algo ligeiro, não tomava tempo. Exerci minha profissão de médico inteiramente. As reuniões ordinárias da Câmara eram semanais e sempre à noite. Quando havia algum assunto em pauta, o Presidente convocava, extraordinariamente. A Câmara Municipal funcionava no andar superior da Prefeitura antiga, em frente ao Hotel Silva.
07) O senhor foi o Vereador mais votado em sua época, e escolhido como Presidente da Casa, demonstrando o carinho e a confiança que o povo, e seus colegas políticos, por você inspiravam. O que o levou a renunciar ao mandato em 12 de novembro de 1952?
Foram questões familiares. A minha senhora não gostava de Cambuquira e não queria aqui continuar vivendo. Tanto que os dois últimos anos em que aqui permaneci, fiquei sozinho, e minha mulher no Rio de Janeiro. Se eu insistisse em continuar, o casamento acabava. Eu abdiquei de tudo: uma boa clínica, casa, terrenos. Vendi tudo para ir embora em 1954.
Durante um certo período, eu vinha a cidade todo ano. Depois, exerci uma profissão que me tomou muito tempo: eu fui concursado como médico legista da polícia. Tirei segundo lugar. Exerci durante trinta e três anos o cargo. Eu não era muito adepto, mas precisava do emprego.
Em 1959, eu passei no concurso para a Previdência Social. Chefiei o serviço de cirurgia ginecológica desse órgão durante vinte anos. Depois, comecei a fazer clínica, e fiz clínica boa, quando abri um consultório de ginecologia e obstetrícia em Copacabana.
08) Até hoje seu nome é lembrado com muito carinho pelos cambuquirenses, principalmente os que puderam conhecê-lo e que se beneficiaram da sua dedicação como médico, e de sua luta pelo desenvolvimento de Cambuquira, onde o senhor batalhou pela construção do Hospital, e por outras causas que beneficiaram a qualidade de vida dos cambuquirenses. Como foi deixar a cidade a que você tanto amava, e era amado? As pessoas ainda te reconhecem na rua?
Senti muito, senti demais. Eu amo essa cidade. Considero Cambuquira o meu paraíso. Os médicos antigos que daqui saíram, nunca mais voltaram. Eu volto uma ou duas vezes por ano. E venho contra a vontade da minha mulher e da minha filha, Tereza Maria Urti, que, apesar de cambuquirense, também não gosta daqui. Já o meu filho, Vicente Urti, adora. São ambos nascidos e registrados em Cambuquira.
Aqui fiz clínica, fui Diretor do Hospital, Vice-Prefeito, Presidente da Câmara e também o primeiro presidente do Cambuquira Tênis Clube (CTC).
O Governador de Minas, Benedito Valadares, destinou dez Praças de Esportes a cidades mineiras. Dentre as agraciadas, estava Cambuquira. O prefeito da época, Dr. José Ribeiro Lage, era uma pessoa muito ligada ao governador. Então ele nomeou-me o primeiro Presidente do Clube.
As pessoas ainda me reconhecem na rua e têm por mim muito carinho. Principalmente os antigos, que me abraçam na rua, e os velhos amigos, que aqui deixei.
09) O senhor exerceu encargos tanto do Executivo, como Vice-Prefeito do André Bacha, no primeiro mandato eletivo de prefeito em Cambuquira, no ano de 1948, como do Legislativo, como o Presidente da Casa, em 1951. Em qual houve mais prazer em exercer?
Como Presidente da Câmara. Mas como Vice-Prefeito eu tive mais chance de tratar dos assuntos de interesse da cidade.
10) Comparando a cidade na sua época e nos dias de hoje, qual a sua perspectiva para o futuro de Cambuquira?
Sinceramente, desde a época em que eu saí da cidade, até agora, não vejo melhoramento nenhum. Nada de bom. Naquele tempo a água mineral de Cambuquira era explorada, medicinalmente e comercialmente, e era engarrafada. Há quanto tempo não vejo uma água de Cambuquira no Rio de Janeiro. O Balneário fechado. A cidade, ao invés de melhorar, só regrediu.
11) Para finalizar, deixe um recado para os futuros políticos da cidade e conte seus desejos como médico, e cambuquirense de coração, para o futuro de nossa Cambuquira.
Desejo que os novos políticos façam duas coisas: o melhoramento e a divulgação de nossa cidade. Do contrário, aqui não vai pra frente. Cambuquira quase não é conhecida. Só se fala em São Lourenço.
Em relação à saúde, desejo que a Prefeitura zele pelo Hospital, e dê incentivos para a sua manutenção. Uma coisa que sou contra é a denominação “Lar de Meimei”. Nome de hospital é o nome da localidade, como “Hospital Geral de Cambuquira”, ou o nome de uma pessoa que foi seu beneficiário, ou, ainda, de grandes nomes da medicina.
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Dr. Vicente Urti: nome de um dos maiores benfeitores de nossa Cambuquira e figura de grande importância da nossa história.
Com 93 anos de idade, de muita saúde, e 69 anos de clínica médica, o ilustre 3° Presidente dessa Casa Legislativa nos conta sobre sua paixão por Cambuquira e pela medicina.
01) Como e quando o senhor ficou conhecendo Cambuquira?
A primeira vez que aqui estive foi em 1940. Eu trabalhava em um Hospital do Rio de Janeiro, cujo Chefe era compadre de um médico de Cambuquira, chamado Dr. Emílio Póvoa, que aqui clinicou em 1937, 1938 e 1939, deixando a cidade para se instalar em São Lourenço, lugar em que chegou a ser prefeito por duas vezes. Na época, esse meu Chefe estava pensando em pra cá se transferir e, como ele era muito amigo de meu pai, tentou convencê-lo, de toda maneira, de que eu deveria aqui me instalar. Vim a Cambuquira a passeio dia 04 de Maio de 1940, ficando hospedado no Hotel Silva. Após cinco dias de estadia, apareceu um caminhão na porta do Hotel com o mobiliário todo do meu consultório do Rio de Janeiro, que meu pai havia despachado pra cá. Acabei aqui ficando. Na época, eu era solteiro, mas já estava namorando minha atual esposa. Quando nos casamos, dois anos depois, viemos morar onde atualmente é a residência do comerciante Dario, lugar em que vivi por dez anos.
02) Como foi recebido pela comunidade na época?
Fui muito bem recebido. Eu montei um consultório, na Rua Direita, em frente ao antigo Hotel Globo, onde atualmente funciona a Prefeitura. Também clinicava em casa, onde tinha outro consultório pronto para atender quando vinham a minha procura. Fora isso, também ia à casa das pessoas para atendê-las.
03) Como foi a sua luta para a construção do Hospital, na época em que fora Vice-Prefeito?
Quando aqui cheguei, havia um casarão, que era pra ser o Hospital, mas não estava funcionando. Com a minha chegada, ele começou a funcionar. Comecei com o ambulatório. Atendia três vezes por semana, ocasião em que eu atendia aos pobres. Vinha gente até de Lambari para clinicar aqui comigo. Dois anos depois, solicitei ao então Prefeito um dinheiro para montar pelo menos um centro cirúrgico, uma sala de operações e uma sala de parto. E assim foi. Reservei quatro quartos particulares que se tornaram: sala de parto, sala de cirurgia e esterilização. Então o Hospital começou a se desenvolver. Operei muita gente de Cambuquira lá, até mesmo quatro veranistas.
Toquei aquele hospital, e eu era o seu único médico. Dr. Manoel Brandão, médico antigo da cidade, esteve lá algumas vezes, quando eu lhe pedia ajuda em uma operação ou alguma outra coisa. Fora isso, eu era sozinho. Eu e mais duas enfermeiras, irmãs, do município de Três Corações, que aqui trabalhavam e moravam.
No Governo do Gaspar Dutra, surgiu uma oportunidade para a cidade: ele destinou cinco hospitais para as Estâncias Hidrominerais. Quando tive notícias, dois dias depois, corri ao Rio de Janeiro, mas já haviam sido distribuídos: um para São Lourenço, um para Poços de Caldas e três para o Estado de São Paulo. Então, reclamei. Acabaram me dando uma planta baixa do Hospital, somente o andar inferior, e aceitei. Mas, vendo que Cambuquira merecia algo melhor, eu, mesmo não sendo engenheiro, nem arquiteto, construí a planta do andar superior: os apartamentos e o centro cirúrgico. A partir desse fato, houve uma denúncia ao Ministério. As subvenções ao Hospital, nessa época, foram cortadas, ocasião em que fui ao Rio de Janeiro e, com esforço, consegui a volta do auxílio, que fora enviado para o interior do Mato Grosso. Tive a ajuda de um deputado eleito por Minas Gerais, Afonso Arinos de Melo Franco, que esteve em Cambuquira, para acompanhar-me ao Ministério.
Quando Diretor do Hospital, dediquei-me inteiramente.
04) As funções de médico e político têm em comum a objetivação de melhoria de vida das pessoas.
Apesar de terem formas diferentes, a ênfase em ambas as profissões é o ser humano e o sucesso se reflete na forma em que lhe é dedicado o cuidado, e no amor com que é exercida a profissão. O humanismo está à frente, como ponto crucial. Baseando-se na sua experiência profissional em ambas as funções, nos diga: em qual delas houve mais amor em exercer? E em qual delas houve maior facilidade em lograr resultados?
Em amor, com certeza a profissão de médico. Mas em lograr resultados, pela abrangência e possibilidades de trabalhar com o coletivo, com certeza a política, esta que eu entrei por mera casualidade.
Quando acabou o Governo de Getúlio, as eleições voltaram. Àquela época, aqui existiam dois partidos: o PSD e a UND, que eram opositores políticos. O PSD era representante das oligarquias rurais e era favorável a Getúlio e a UDN reunia os setores liberais de oposição a Getúlio. De início, eu não queria entrar na política de jeito nenhum, mas acabei entrando.
Entrei na UDN. Para a chapa, foi escolhido André Bacha para Prefeito, e eu entrei como Vice-Prefeito. Na eleição, eu tive o maior numero de votos, maior inclusive que do próprio André. Quando ia acabar o mandato, eu fui o candidato escolhido pelo partido, e pedido também pelo povo, na sucessão do André Bacha, o que me fez largar a Prefeitura três meses antes das eleições para a desincompatibilização de cargos.
Na homologação de minha candidatura, o Dr. Manoel Brandão me fez um apelo para que eu abrisse mão dela, para que ele pudesse ser o candidato. Apesar de eu ter ganhado a eleição na convenção por quatro a dois, acabei cedendo. E então ele foi candidato a Prefeito e ganhou. E eu fui candidato a Vereador, sendo Presidente da Câmara em 1951.
05) O seu trabalho como médico iniciou-se quando? Até quando exerceu a profissão?
Eu me formei médico em 1938, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dois anos e meio depois, eu vim para Cambuquira. Exerci a profissão até agosto do ano passado (2007), e tudo que restou do meu consultório de Copacabana foi enviado pra cá, para o Hospital de Cambuquira: vinte e cinco caixas de material médico bom, sendo três deles com livros de medicina, que já não cabiam mais na biblioteca do meu apartamento no Rio de Janeiro, além de material para o laboratório.
Foram 69 anos de vida profissional, trabalhando intensamente e apaixonadamente.
06) Como foi a conciliação entre a profissão de médico e político?
Houve uma boa conciliação. O cargo de político, naquela época, era algo ligeiro, não tomava tempo. Exerci minha profissão de médico inteiramente. As reuniões ordinárias da Câmara eram semanais e sempre à noite. Quando havia algum assunto em pauta, o Presidente convocava, extraordinariamente. A Câmara Municipal funcionava no andar superior da Prefeitura antiga, em frente ao Hotel Silva.
07) O senhor foi o Vereador mais votado em sua época, e escolhido como Presidente da Casa, demonstrando o carinho e a confiança que o povo, e seus colegas políticos, por você inspiravam. O que o levou a renunciar ao mandato em 12 de novembro de 1952?
Foram questões familiares. A minha senhora não gostava de Cambuquira e não queria aqui continuar vivendo. Tanto que os dois últimos anos em que aqui permaneci, fiquei sozinho, e minha mulher no Rio de Janeiro. Se eu insistisse em continuar, o casamento acabava. Eu abdiquei de tudo: uma boa clínica, casa, terrenos. Vendi tudo para ir embora em 1954.
Durante um certo período, eu vinha a cidade todo ano. Depois, exerci uma profissão que me tomou muito tempo: eu fui concursado como médico legista da polícia. Tirei segundo lugar. Exerci durante trinta e três anos o cargo. Eu não era muito adepto, mas precisava do emprego.
Em 1959, eu passei no concurso para a Previdência Social. Chefiei o serviço de cirurgia ginecológica desse órgão durante vinte anos. Depois, comecei a fazer clínica, e fiz clínica boa, quando abri um consultório de ginecologia e obstetrícia em Copacabana.
08) Até hoje seu nome é lembrado com muito carinho pelos cambuquirenses, principalmente os que puderam conhecê-lo e que se beneficiaram da sua dedicação como médico, e de sua luta pelo desenvolvimento de Cambuquira, onde o senhor batalhou pela construção do Hospital, e por outras causas que beneficiaram a qualidade de vida dos cambuquirenses. Como foi deixar a cidade a que você tanto amava, e era amado? As pessoas ainda te reconhecem na rua?
Senti muito, senti demais. Eu amo essa cidade. Considero Cambuquira o meu paraíso. Os médicos antigos que daqui saíram, nunca mais voltaram. Eu volto uma ou duas vezes por ano. E venho contra a vontade da minha mulher e da minha filha, Tereza Maria Urti, que, apesar de cambuquirense, também não gosta daqui. Já o meu filho, Vicente Urti, adora. São ambos nascidos e registrados em Cambuquira.
Aqui fiz clínica, fui Diretor do Hospital, Vice-Prefeito, Presidente da Câmara e também o primeiro presidente do Cambuquira Tênis Clube (CTC).
O Governador de Minas, Benedito Valadares, destinou dez Praças de Esportes a cidades mineiras. Dentre as agraciadas, estava Cambuquira. O prefeito da época, Dr. José Ribeiro Lage, era uma pessoa muito ligada ao governador. Então ele nomeou-me o primeiro Presidente do Clube.
As pessoas ainda me reconhecem na rua e têm por mim muito carinho. Principalmente os antigos, que me abraçam na rua, e os velhos amigos, que aqui deixei.
09) O senhor exerceu encargos tanto do Executivo, como Vice-Prefeito do André Bacha, no primeiro mandato eletivo de prefeito em Cambuquira, no ano de 1948, como do Legislativo, como o Presidente da Casa, em 1951. Em qual houve mais prazer em exercer?
Como Presidente da Câmara. Mas como Vice-Prefeito eu tive mais chance de tratar dos assuntos de interesse da cidade.
10) Comparando a cidade na sua época e nos dias de hoje, qual a sua perspectiva para o futuro de Cambuquira?
Sinceramente, desde a época em que eu saí da cidade, até agora, não vejo melhoramento nenhum. Nada de bom. Naquele tempo a água mineral de Cambuquira era explorada, medicinalmente e comercialmente, e era engarrafada. Há quanto tempo não vejo uma água de Cambuquira no Rio de Janeiro. O Balneário fechado. A cidade, ao invés de melhorar, só regrediu.
11) Para finalizar, deixe um recado para os futuros políticos da cidade e conte seus desejos como médico, e cambuquirense de coração, para o futuro de nossa Cambuquira.
Desejo que os novos políticos façam duas coisas: o melhoramento e a divulgação de nossa cidade. Do contrário, aqui não vai pra frente. Cambuquira quase não é conhecida. Só se fala em São Lourenço.
Em relação à saúde, desejo que a Prefeitura zele pelo Hospital, e dê incentivos para a sua manutenção. Uma coisa que sou contra é a denominação “Lar de Meimei”. Nome de hospital é o nome da localidade, como “Hospital Geral de Cambuquira”, ou o nome de uma pessoa que foi seu beneficiário, ou, ainda, de grandes nomes da medicina.
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