Nikita, uma mestiça com dachshund e pintcher, entrou na nossa vida por causa de uma das minhas filhas muito apegada à nossa outra cadelinha, "Bambina". Tínhamos medo que com a falta daquela "paulistinha" nossa filha ficasse até doente.
O que aconteceu? Bambina e Nikita se tornaram amigas inseparáveis de todas as horas.
Nikita vivia cortando com os dentes os bigodes de Bambina e acabou até deixando a mais velha mais dócil.
Quando moramos em Monte Santo de Minas, nossa casa ficava no meio do terreno e existia uma calçada por onde as duas passeavam, principalmente à noite quando estava quente. Ainda lá, uma vez nossa companheirinha sumiu por algumas horas. Durante esse tempo "Bambina" a sua companheira apareceu sozinha. Todos achavam que ela tinha se mandado como aconteceu ainda em nossa cidade. Depois de alguma procura no quintal e de chamá-la insistentemente ouviram um latidinho fraco vindo de um buraco no solo. Nikita tinha dado uma de tatu e cavado um túnel e não conseguia sair de ré. Puxaram-na para fora suja como um porquinho que assustada fez a maior festa de agradecimento.
Em Cambuquira, nossa cidade de origem, logo que chegou à nossa casa, ela já aprontou. Ainda muito pequena e assanhada descobriu o portão aberto e fugiu para a rua. Perguntamos a várias pessoas das imediações e ninguém a tinha visto, até que minha sogra comentou com uma cabeleira de uma rua próxima que deu o seu paradeiro. Nikita, muito simpática com todo mundo, tinha entrado numa vendinha cujo dono a pegou e a mandou para um sítio, onde ficou quase uma semana. Depois, de saber que ela era nossa através de minha sogra, ela nos foi devolvida e como se nada tivesse acontecido, voltou fazendo aquela festa.
Nesse lugar, acho eu que levou algumas vassouradas por ser intrometida, pois tomou um medo de vassoura. E, quando ela queria entrar em casa era só dizer: "__Olha a vassoura!..."
Noutra ocasião anterior, ela acompanhou alguém que a viu no portão com a sua companheira Bambina, que aliás não fazia graça para ninguém que não fosse da família. E, não é que ela passou faceira em frente a casa de minha mãe acompanhando o tal sujeito. Foi a sorte! Minha irmã a conheceu e a chamou e ela da mesma forma de sempre foi ao encontro dela fazendo aquela costumeira festa.
Enquanto Bambina viveu, Nikita era um pouco temperamental como se quisesse imitar um pouco a sua companheira. Mas, quando Bambina foi embora com os seus dezoito anos, Nikitinha, como passamos a chamá-la, além de Niki, Nika e Nikitinga (quando ela pecou um fungo que fazia cair os pelos e dava um cheirinho desagradável que foi curado, mas o apelido ficou), ela se tornou mais dócil e amável. Também emagreceu um pouco, o que percebemos que a sua gula era uma espécie de competição com a sua companheira. Ela acostumava encher a boca de ração ou qualquer alimento e ficar parada com aquilo na boca para comer mais que Bambina. E, por causa disso levou algumas advertências. Por causa da gordura exagerada chegou naquela época a não passar no vão da grade do portão, voltando ao peso ideal depois da morte de Bambina.
Quase não a deixávamos subir no sofá, só quando estava limpinha. Então, toda vez que acabava de tomar banho e estava cheirosa vinha correndo, dava uma olhada p'rá gente e pulava no canto onde se estendia como se fosse gente.
Ela gostava de dar um passeio na calçada e principalmente nos dias em que passava o "caminhão do lixo" quando eu descia para levar o saco de entulhos, ela já começava a me chamar para descer.
Uma vez, eu estava deitado no sofá e já estava quase na hora do caminhão passar. Ela veio perto de mim e latiu baixinho. Como eu não acordei ela deu um pulinho e bateu as suas narinas no meu nariz para me avisar que estava na hora.
O pessoal de casa gostava de ver a maneira com se portava com as visitas. Não estranhava ninguém, o que motivou um comentário em tom de brincadeira: "se um ladrão entrasse em casa, ela iria o acompanhar no furto". Quando algum profissional vinha até nossa residência para efetuar algum conserto, como no caso de nossa máquina de lavar, lá foi ela acompanhar todos os procedimentos como se quisesse aprender alguma coisa: olhava dentro da máquina, a caixa de ferramentas e seguia os movimentos do técnico. E, nós até brincamos: "__presta uma atenção, mas não aprende nada!...E, como me disse um amigo da internet, fato que também aconteceu em casa: "aquele bichinho só faltava falar e nós até a colocamos ao fone para ouvir a voz de alguém da família que estava longe"...
Uma cadelinha da vizinha, dessas escandalosas, não podia ver Nikita passar pela calçada da sua casa e começava aquele latido sem parar. Nossa cachorrinha olhava para ela e como quem entendia a sua fraqueza nem ligava, prova de uma inteligência superior a daquela barulhenta.
Outro fato que me chamava a atenção era a sua mania de cheirar flores. Fazia isso, um ato que nunca tinha visto em outros da sua raça. Pena que não tirei uma foto como prova!...
Com a morte de Bambina a ela foi permitido entrar em casa, o que não permitíamos antes, assim era só eu me levantar do sofá ou do computador lá ia ela atrás de mim. Por causa disso, diziam em casa que ela era a minha seguidora, "a seguidora do gilbertismo". E, eu acrescentava: "a única!"... Até quando eu ia ao banheiro, lá estava ela à porta a me esperar.
Agora, o gilbertismo ficou sem adepta e virou quem sabe uma lenda, pelo menos para nós.
De manhã quando ela resolvia se levantar, o que demorava pois era bem preguiçosa. Primeiro fazia uma espécie de alongamento dianteiro, depois traseiro e enfim uma esticada total. Depois, ia até a janela da cozinha e emitia apenas um "au!" como se quisesse dizer: "abre a porta p'rá mim, abre!..." Ou começava a cheirar o vão debaixo da porta fungando forte. Às vezes, quando não ligávamos e não abríamos a porta ela parava e quando íamos vê-la lá estava ela de barriga para cima tomando o sol da manhã, "pegando uma corzinha"...
Na hora do lanche, como gostava de biscoitinhos tipo "maizena", eu lhe dava e mandava ir comer no tapete, nesse da foto. E, lá ia ela degustar lentamente o petisco para depois com essa carinha bonita pedir outra sem mesmo emitir qualquer latido.
Minha mulher e meus filhos não gostaram muito dessa minha definição de "única seguidora".Dizem que eles também me seguem. Mas, eu acrescentei que "como ela, passivamente, sem exigir nada"...
Bem, essas são uma daquelas peças da vida da qual temos que aprender a tirar alguma mensagem para o nosso aprendizado na vida. Até agora, não consegui destacar com clareza mas devo ter aprendido muito com a sua existência e com a sua partida brusca. O tempo dirá o quê. O que sei, o que sentimos é o vazio a sua falta. O que sei é que talvez eu seja o membro da casa que mais sente a sua falta. Ela era a minha "seguidora" desde da manhã, quando me levantava até à noite quando, na maioria das vezes, eu a levava para a sua casinha na área de serviço. E, essa convivência aumentou ainda mais depois de eu me aposentar. quando ela era autorizada a entrar, ficava deitada perto dos meus pés ou fiscalizando o que tinha atrás da mesa do computador. Acho que por isso, nesses momentos a sua falta se torna maior. Pela idade que tinha e a idade que Bambina morreu, ela ainda teria mais 7 anos de alegria na nossa casa.
Hoje, ficou um misto de revolta, angústia, arrependimento... Nunca senti isso antes!
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