O que não me sai da lembrança é o seu olhar triste de quem não está entendendo nada, solicitando socorro e talvez perguntando para si mesmo o "porque" daquilo. Com as sua orelhas viradas para trás, ela que era um bichinho dócil parecia ter a expressão de um lobo, talvez pelas dores intensas e as seguidas convulsões que se repetiam sem que pudéssemos comprar o medicamento que tem uso controlado e, apesar de solicitado, não foi receitado pelo médico.
Por excesso de zelo, queríamos preservá-la de uma possível complicação futura. Então levamos ao veterinário para ver um pequeno caroço que nasceu junto à sua mama. De pronto ele nos informou que aquilo deveria ser retirado sob pena de que crescesse e virasse algo maligno. Marcamos a cirurgia numa segunda-feira às nove e meia da manhã.
No dia, a levamos para internação na hora marcada com a promessa de que ligariam quando já estivesse liberada para ir para casa.
As horas passaram e então ligamos para saber se estava tudo bem. Por telefone, nos informaram que a cirurgia não havia acontecido e que seria realizada às quatorze horas, mudança essa devido a um atendimento de emergência de outro animal e que o local seria desinfectado para que ela fosse ali internada.
Mais tarde, recebemos o telefonema comunicando que estava tudo bem e que podíamos buscá-la, quando o veterinário nos disse que não tinha usado anestesia, nosso maior temor e tinha dado apenas um relaxante muscular que até o assustou quando ela dormiu além da conta. (Para nós nesse lapso de tempo que foi definida a sentença fatal.)
Levamos esse anjinho em forma de cão para o que foi o começo do seu fim.
A cirurgia foi um sucesso, nem cicatriz ficou. Mas, depois de 15 dias ela começou a apresentar alguns sintomas de que algo não estava bem. Voltamos à clínica e o veterinário disse que ela apresentava indícios de pneumonia. Tratamos disso. Dias depois, ela começou a ficar tonta, esbarrar nas coisas e não queria mais comer. Levamos novamente ao dito cujo que receitou mais remédios, antibióticos, suplemento alimentar, etc. Pediu um exame de sangue que acusou a diminuição de plaquetas no sangue. Diagnóstico: Erliquiose, na opinião do médico.
Minhas filhas em pesquisa na internet se tornaram catedráticas em Erliquiose e afirmavam, sob contestação do médico, que o caso não se tratava do mal diagnosticado mas sim "Cinomose".
O cabeça dura do veterinário insistiu que o mal era mesmo o mal transmitido pelo carrapato, a tal da "Erliquiose". Depois de 50 dias, depois de muita insistência nossa, fez o exame de sangue para detectar se era ou não era "Cinomose". Deu negativo. (Nesse estágio, conforme nos informou o segundo veterinário, o vírus já não aparece mais no exame de sangue!)
Nikita a essas horas, digo dias, já não se alimentava mais sozinha, tomava mamadeira como se fosse um bebê e já tinha perdido o movimento das pernas e não conseguia sustentar o pescoço. Começamos com o soro na veia por várias vezes até que num determinado dia quando fomos buscá-la tivemos informação de que, depois de mais de 5 horas na clínica, não tinham conseguido dar o soro e nem coletar uma amostra de sangue que pedíamos para ver se havia a necessidade de transfusão.
Eu e meu filho saímos de lá com ela nos braços decepcionados com a conduta desse veterinário.
No outro dia, procurei outro profissional que sem muitas delongas nos informou que o caso era mesmo a maldita Cinomose, contra a qual quase cachorro nenhum tem chances de sobrevida e se ela não mata deixa sequelas.
Também nos deu um pouco de esperança dizendo que se ela já sobrevivia a tanto tempo, ela talvez tivesse alguma chance. Ficamos entusiasmados quando ele até nos indicou uma especialista em acumputura que já havia conseguido fazer andar um doberman e outros bichinhos.
Na última sexta-feira, depois de uma série de pequenos ataques epilépticos resultado da doença, que não estavam sendo tratados mesmo com o nosso pedido ao primeiro profissional, ela teve um em dose atômica que tirou o movimento facial o que afetou até o simples ato de engolir.
Adaptei um frasco de plástico com um pedaço de mangueira de chuveiro e com isso consegui alimentá-la no sábado e domingo. A essas horas ela já estava tomando um anti-convulsivo e os ataques não aconteceram mais. Mas, o seu estado geral era praticamente um pré-coma, o que nos desanimou demais. Fatos esses que não consigo esquecer, tais como os seus olhos aflitos que não entendiam o por que aquilo, sua orelhas esticadas para atrás mostrando que sofria dores, calafrios e sintomas que nunca experimentamos.
Desanimado, fui dormir com a certeza, quando a olhei antes de ir para cama, que aquele era o nosso último encontro nessa vida.
Na madrugada acordei com um imenso sufoco no peito. Tomei um medicamento e pensei dar uma olhadinha nela. Minha esposa pediu que eu não me levantasse que ainda era cedo: mais ou menos 5 da manhã.
Ao acordar novamente lá pelas 7,30, ouvi um som parecido com a sua respiração ofegante da noite. Levantei correndo com a esperança de poder ainda levá-la ao veterinário para uma última tentativa. Então fui ver a minha companheira que estava como se estivesse dormindo, mas já não respirava mais. Seu corpinho ainda estava morno debaixo da manta nova que havíamos comprado para ela. Foi a nossa despedida.
Para todos nós ela pegou a doença na clínica, na mesa de cirurgia contaminada pelo primeiro caso citado. Pois, depois de mais ou menos 15 dias, tempo de manifestação do vírus, ela começou ter os sintomas.
A presente história verídica serve de alerta não só para este profissional que foi relapso nos seus procedimentos.
Primeiro: não houve uma preparação como se faz nas cirurgias humanas, o que acho uma falha pois tudo deve ser igual, principalmente quando está envolvido um membro da família que sempre se tornam esses bichinhos de estimação, cuja falta afeta até o psicológico de crianças e até de adultos.
Segundo: a limpeza e desinfecção deve ser perfeita tanto do local de trabalho, entrada, calçada e principalmente da sala de cirurgia, muitas vezes parecidas com qualquer coisa menos com uma sala cirúrgica.
Terceiro: uma falha quase que geral dos profissionais da área, confessada pelo veterinário deste caso ( sob o argumento que não o faz com medo de ser mal interpretado como "empurro terapia"), é a de não orientar que algumas vacinas tem que ser anual sob pena de certas doenças atingirem nossos animais como o caso de Nikita. Nós que tínhamos vacinado quando ela era pequena com um reforço dado, conforme orientação do profissional aplicador, não sabíamos que ela já não estava mais imune. Se soubéssemos disso, não a levaríamos como aconteceu para um risco cirúrgico dessa natureza. Quarto: a morosidade nas decisões também foi um fator determinante na conduta médica que definiu o agravamento da crise que a doença provoca na maioria dos casos. A falta de um medicamento para proteger o cérebro das convulsões, o colírio específico para proteger os olhos, tudo isso, na minha opinião contribuiu para o trágico epílogo. Nesse caso, o colírio só foi receitado por insistência nossa, o mesmo acontecendo com o soro nas veias e o "gardenal" já com o segundo profissional receitado num instante em que ele quase nada fez a não ser aliviar o sofrimento de nossa cadelinha.
4 comentários:
Sei bem o que é isso, omissão e descaso de um mau profissional...Há quase dez anos nossa Tukinha também foi vítima desse descaso (envenenamento, mas não sabíamos) porque quando fomos pedir ajuda a um certo veterinário ele se negou em atendê-la falando que só atendia vacas, cavalos, animais de grande porte, em poucos dias ela já não estava mais entre nós e hoje sabemos que se ela tivesse sido socorrida a tempo poderia estar mais alguns anos com a gente...Hoje não é sempre que posso levar minhas pets ao veterinário, mas o veterinário que dá as vacinas para minhas pets sempre que chega em casa faz questão de examiná-las sem que eu peça, isso se chama vocação, amor aos bichos...Meus sinceros sentimentos, estou muito triste...
Meu nome é Kleber Borel e tenho meu cachorro o Robinho, estava com cinomose, mas após diversos medicamentos, para tentar reanima-lo, atualmente o quadro dele é entristecedor, pois parece que ele está cego, não anda, come comida apenas como papa na seringa.
Acontece que ele ainda mexe as patinhas mas parece que o cerebro dele não responde, pois ele fica mexendo as patinhas mas não sai do lugar.
Minha familia está tentando de tudo para fazer ele melhorar mas está difícil. Estou deixando esta mensagem para quem lêr e souber de algum cachorro que obteve a cura informar o medicamento utilizado e o veterinário, pois realizamos diversas tentativas sem sucesso.
Hoje completa 40 dias que foi detectada a doença, ele se encontra vivo mas sem movimento.
Peço a todos que tem um animal de estimação e ama, e saiba de uma cura gentileza informar, pois fico desesperado só de saber que ele pode nos deixar.
Oi Kleber!
Você não deixou e-mail para resposta.
Vou responder aqui e espero que leia.
O caso do seu mascote Robinho é o mesmo de nossa Nikita.
Ele provavelmente não está cego. O virus da doença baixa mais a imunidade, então abre o organismo para o ataque de outros virus, bactérias e outros agentes causadores de doenças. Um colírio para conjuntivite canina ajuda um pouco.
Essa paralização geral mostra que ele deve estar sendo atacado por convulsões que vão danificando o cérebro do bichinho. Então, poderia ver com o veterinário o uso de uma dose de Gardenal de acordo com o peso dele para evitar que esses ataques afetem mais os neurônios.
Se ele sair dessa, pode ficar com sequelas e um acumputurista pode melhorar. Existe casos de sucesso com essa alternativa.
Se o seu médico veterinário indicar o tratamento de choque com desinflamatório peça para ele acrescentar um antibiótico pois o desinflamatório sozinho também destroi o sistema imunológico.
Não sou profissional da área. Isso eu aprendi com pobre Nikita, e pesquisando na internet, trocando informações. Mas, infelizmente descobri isso muito tarde.
Boa Sorte.
Gilberto Lemes - adm. do blog.
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Existe uma comunidade no Orkut onde pessoas, donas de cães que tiveram essa doença, trocam informações.
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