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sexta-feira, 14 de maio de 2010

MEIO AMBIENTE

Panorama Global da Biodiversidade destaca risco de colapso ambiental

Após quatro anos de estudos, a Convenção Sobre Diversidade Biológica (CDB) lançou, durante a reunião do Órgão Subsidiário de Aconselhamento Científico, Técnico e Tecnológico (SBSTTA, em inglês), o relatório Panorama Global da Biodiversidade 3 (GBO-3). Os dados apontam para um cenário não muito animador: o mundo não conseguiu cumprir a meta de reduzir significativamente a perda de biodiversidade.
O relatório GBO-3 será debatido pelos líderes mundiais e chefes de Estado em um evento da Assembleia Geral da Onu, no qual ocorrerão discussões especializadas sobre biodiversidade e a sua contribuição para atinigir os Objetivos do Milênio, que acontecerá em 22 de setembro na sede da Onu, em Nova York. Suas conclusões também serão fundamentais para o debate e negociações que ocorrerão durante a reunião da Conferência das Partes da Convenção Sobre Diversidade Biológica, a ser realizada em Nagoya (Japão), em outubro.
De acordo com o relatório, as pressões sobre a diversidade biológica continuam aumentando. Por isso, os sistemas naturais estão em risco de sofrer rápida degradação ou até mesmo um colapso. Caso medidas urgentes e radicais não sejam adotadas, a capacidade dos ecossistemas proverem serviços ambientais será catastroficamente reduzida.
Os sistemas naturais são indispensáveis para a economia e os meios de vida em todo o planeta. No atual contexto de crise climática, ganham ainda mais importância por seu papel protagonista na mitigação e adaptação às mudanças climáticas. O colapso dos ecossistemas pode significar uma crise sem precedentes no modo de vida atual.
Em termos econômicos, o estudo aponta que as perdas anuais em consequência do desmatamento e degradação florestal podem chegar de US$ 2 trilhões a US$ 4,5 trilhões, o que poderia ser evitado com um investimento anual de US$ 45 bilhões.
“O relatório mostra que, infelizmente, a conservação dos ecossistemas e das espécies, o uso sustentável dos recursos naturais e a repartição dos benefícios da biodiversidade ainda não fazem parte dos principais critérios considerados por tomadores de decisão, sejam governos ou empresas”, afirma o superintendente de Conservação do WWF-Brasil, Cláudio Maretti.
O líder dos estudos que resultaram no GBO-3, Tom Lovejoy, destacou, entre outros aspectos, a redução do desmatamento e a criação de áreas protegidas na Amazônia como um ponto positivo dos esforços pela conservação da biodiversidade realizados nos últimos 10 anos.
O Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), desenvolvido pelo Ministério do Meio Ambiente brasileiro em parceria com o Funbio, o KfW, o Banco Mundial, a GTZ e o WWF-Brasil, foi um dos poucos programas destacados no relatório como exemplos de iniciativas bem sucedidas.
No entanto, apesar dos grandes esforços empreendidos pelo Brasil e outros países amazônicos pela conservação do bioma, a Amazônia ainda corre risco de degradação grave em decorrência das oscilações climáticas dos últimos anos, combinadas com o desmatamento e as queimadas.
A solução apresentada para evitar que a Amazônia ultrapasse o limiar da degradação irrefreável é limitar o desmatamento a no máximo 20% ou 30% de sua área original e manter o aumento da temperatura do planeta no limite de 2ºC. Para tanto, a sugestão do relatório é empreender ações eficazes e coordenadas para reduzir a pressão sobre a biodiversidade, entre elas, a redução da poluição de fontes terrestres, como o lixo, a proibição da pesca destrutiva, e ainda acabar com subsídios a atividades degradantes.
Além da Amazônia, o cerrado é outro bioma ameaçado no país que aparece no relatório. Segundo dados da publicação, plantações e pastos substituíram quase metade do cerrado, que tem uma variedade excepcionalmente rica de espécies de plantas e animais endêmicos. Entre 2002 e 2008, a perda do cerrado foi estimada em mais de 14 mil quilômetros quadrados por ano, o que equivale a 0,7% da sua extensão original anualmente. Os ecossistemas aquáticos também encontram-se bastante ameaçados, principalmente pelo risco de fragmentação associado à construção de usinas hidroelétricas.
“Quando olhamos para esse cenário futuro, sentimos que precisamos agir. A restauração dos ecossistemas é um dos mecanismos viáveis para resolver o problema, aliada à justa distribuição dos benefícios da biodiversidade, a melhores práticas dos mercados sobre o uso de recursos naturais e redução dos subsídios perversos, ou seja, aqueles que incentivam atividades predatórias”, explica Maretti.

Fonte: Folhablu

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