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quinta-feira, 21 de maio de 2009

TOPÔNIMO CAMBUQUIRA - uma proposta de releitura.

CAMBUQUIRA
[uma proposta de releitura do topônimo]

BRASIL – outros 500

A palavra possui valor divino (sagrado) na cultura Guarani, age como um elemento mediador entre os deuses e os homens. Por isso deve ser rezada, cantada e dançada. "As belas palavras são dádivas dos deuses, enviados pelo ser supremo para guiar a vida dos futuros homens".
(Isquerdo, 1992, p. 9).

No tupi cada palavra é uma verdadeira frase
Professor de tupi Joubert di Mauro.
Curso de Tupi “On line”.
Date: Wed, 18 Mar 2009 18:24:26 -0300> To: marcoamigo2009@hotmail.com> From: joubert@ism.com.br> Subject: RERE-consulta em tupi Cambuquira Re-tese-toponímia> > Você está de parabéns pela revisão do topônimo > Cambuquira. Inteiramente fundamentado e > muitíssimo bem fundamentado. Você talvez nem > imagine como isto é importante para a Cidade. Há > algum tempo atrás dei uma nova versão para o nome > de uma cidade lá no Sul, muito mais compatível > com a realidade da cidade, assim como você fez > com Cambuquira e eles ficaram muitos felizes. O > Secretário de Turismo passou a colocar a nova > versão em toda a propaganda turística da > cidade...os hotéis também fizeram o mesmo. O > Secretário de Educação enviou para as escolas > fundamentais também a nova versão. Vai acontecer > o mesmo com Cambuquira. l. Na verdade a gente desculpa o > Theodoro Sampaio, até porque ele foi um > gigante...na época...e é sempre assim, quem faz > comete erros. E ele, tenho certeza, ficaria > muitíssimo satisfeito com a nova, e, sem dúvida, > correta, versão.


Prof. Marco Antonio Santos Cruz.
Graduado em Educação Física – UFRJ. 1982.
Missiologia- Instituto Cristão de Pesquisas – 1992
Extensão em Arqueologia – U.V.A. 2004
Pós-graduação em História da Educação – 2005
Aluno especial da USP: Disciplinas “Tupi antigo” e “toponímia.”
marcoamigo2009@hotmail.com

CAMBUQUIRA
[uma proposta de releitura do topônimo]

Cambuquira: Município, estância hidromineral do Sul de Minas Gerais- Brasil. A cidade possui muitas fontes de águas minerais, cada uma com uma peculiaridade:
Ex: Sulfurosa; ferruginosa, magnesiana, contendo lítio,etc. Existe um “Parque das águas”, no qual encontram-se cinco fontes .

Assim sendo, através do topônimo Cambuquira iremos “investigar” os seus componentes buscando elucidar seus sentidos possíveis e a idéia global a ser transmitida por eles.
1-O começo:
O texto básico que estaremos revisando é o clássico: O tupi na geografia nacional, * de Teodoro Sampaio, cuja primeira edição saiu em 1901. Estarei utilizando a 5ª edição de 1987.
Veja a nota abaixo sobre “a época unitarista’ dos estudos do tupi:
O Dr. Frederico Edelweiss, revisando a referida obra na p.36 [5ª edição] esclareceu:
Para Couto de Magalhães tupi e Nhenngatu eram sinônimos e o guarani um simples dialeto deles. //é esse, em resumo, o caos de concepções com que se defronta Teodoro Sampaio quando, ao findar do século 19. O resultado foi uma colcha de retalhos desnortenante, de consulta perigosa nos ensinamentos, nas exemplificações e nas conclusões.
[...] estes antigos locais podem ser apreendidos hoje, como “lugares da memória indígena”- ambientes carregados de significados pois apresentam concretudes de um passado vivido e sentido.
Alenice Motta Baeta – Escola indígena- Índios de Minas Gerais. [artigo]
Ao lado da formação etimológica para os topônimos de origem tupi, a qual deveria traduzir, se tanto fosse possível, a motivação mesma que lhes deu lugar no ambiente geográfico.
Toponímia de Minas Gerais- Joaquim Ribeiro Costa-2ª. Edição-1997.BDMG-CULT. Pág. 17.
[T.S] p.42-No tupi os nomes de lugares são frases acabadas traduzindo uma idéia, um episódio, uma feição característica dos lugares a que se aplicam; são, a bem dizer, verdadeiras definições do meio local.
p.56-Traduzir-lhe o significado de agora como o de outrora , o que com isto se visa, no sentido mais lato é fazer a própria históra do espírito humano e o estudo do passado.
p.56- Entretanto, as palavras primitivas foram pouco a pouco, truncadas no correr do tempo, o que tornava a sua etimologia quase impossível de decifrar.
p.64 – [...] e são todavia vocábulos doces e sonoros / como designação de lugares , mas que muito perdem do seu valor, por não se saber o que exprimem, o que recordam, o que nos revelam do sentir e do gênio do povo primitivo que no-los legou.
p.67- [...] terei, entretanto, levantado uma ponta desse véu de esquecimento, que pesa sobre a memória do povo desaparecido.
p.173- Assim, nos estudos linguísticos fica aberta a vereda por onde outros, quiçá mais felizes ou mais bem aparelhados, podem atingir a realidade ou o verdadeiro./

2-NA TRILA DA CAMBUQUIRA
1834 -
A fama das águas de Cambuquira, datam de longo tempo. Já em 1834 o vereador Midões, da Câmara Municipal de Campanha, providenciara sobre os concertos de pontes e estradas, de forma a facilitar aos boiadeiros e condutores de tropas para o Rio de janeiro, a passagem por Cambuquira, para que lhes pudessem aproveitar as águas SANTAS.
Interessantíssimo observar o peso das palavras : Águas santas o que pressupõe ocorrência de curas diversas. Também aqui a fama das águas é que é o “cartão de visita” e tradição da localidade. Nenhuma referência a brotos de abóbora ligada à cambuquira. [18-Pág.28].
1901 –
“O tupi na geografia nacional.” [Teodoro Sampaio]
p.76-Cambuquira: grelo, folha tenra.
caá: planta,mato.
ambyquyra: broto.
[Todo lugar tem folhas tenras/novas.] –Sampai nada fala de broto de abóbora.
1916.– 5º Congresso Brasileiro de Geografia. Bahia-
Pág.25: História. [...] A um modesto proprietário, por alcunha “o Cambuquira”, atribui-se a descoberta dos mananciaes da estância”.
Não havia, portanto, em 1916, nenhuma referência ou associação deste senhor com broto de abóbora algum. 1920-
Livro: Cambuquira de Brandão – Nada fala do topônimo Cambuquira e muito menos de broto de abóbora.
1958-
Enciclopédia dos Municípios. -Juandyr Pires Ferreira. I.B.G.E- 1958 – jan.
E, assim, ao que se presume por lenda e história, os escravos se tornavam vizinhos do sitiante Alferes José Antônio Rodrigues, que tinha a alcunha de “cambuquira” [grelos de aboboreira], na cidade de Campanha.
Quanto à razão de ser do nome dado ao florescente povoado, pressupõe tenha sido pelo motivo da farta produção de cambuquiras em seu território e não por aquela pessoa marcada pelo tradicional comércio. Pág. 294:
Notemos que, em 1834, não havia associação alguma entre o Sr. Cambuquira e broto de abóboras e gora já se introduz que ele era ligado ao tradicional comércio, ou seja, comércio de longa data que não era citado anteriormente.
O Dr. Thomé Brandão em seu livro,Cambuquira, de 1958. Escreveu, após analisar artigo de um jornal sobre o topônimo Cambuquira baseado em Teodoro Sampaio:
[...] que nos autoriza admitir como interpretação da palavra Cambuquira o significado de brotos ou grelos de abóbora.
1959-
É criado o “Brasão” do município. Nenhum ícone referente a broto de abóbora.

3-REVISITANDO O TOPÔNIMO

Vasculhando “O tupi na geografia nacional”, observamos que T.Sampaio “viu” o seio [“cama”] em alguns vocábulos e, no caso de Cambuquira dividiu o topônimo em caa: planta não enxergando o cama: seio, inserido em Cambuquira – cama -cambu...

É ele mesmo que registrou:

p.213: CAMA : o peito, os seios, elevação. Alt. Cam, cã.

p.213.CAMAMBU: Cama-mbur: o peito que entesa [de líquido.]

p.213:CAMAPUÃ: O peito arredondado, a colina arredondada.

p.214: CAMBUCY:CAMBU-CHI: CAMBUKI –CAMBUQUI -O vaso d'água, o pote, cântaro.
Obs: Os seios são, de fato, duas “vasilhas” cheias de líquido.
Observemos que no topônimo Cambuy, pela primeira vez um outro estudioso propõe uma
versão alternativa.

p.214:CAMBUY:
caá-mboy A planta, folha que se desprende. [Teodoro Sampaio]
[ora, toda folha se desprende]
camby-y: O rio do leite . Carvalho, Alfredo
– O tupi na geografia mineira-in. Anuário de Minas Gerais do Dr. Nélson de Sena – 1907.
Eu proporia: Rio leitoso/caudaloso.

Cambu-y: seio das águas [Marco Cruz-2009]

Cambucá: Fruta silvestre. O ca final , sim, provém de caa , no sentido de mato, herva ou fruto. Assim , teríamos fruta suculenta, uma vez que cambu é leite, leitoso, ou digamos suculento.


p.229: EMBAHY: Emba- y: rio ou água que surge de conduto natural ou subterrâneo.

p.230:EMBAÚ:EMBA-Ú; a bica, beber da bica.


p.308: -...como forma contrata de QUARA significa também poço, cisterna, buraco, furo.


O Dicionário de tupi antigo do Prof. Eduardo de Almeida Navarro,USP, março de 2006

. p.182, dá as seguintes entradas:

Kambyk [ou, substituindo o Y por U, grifo meu]: Cambuqui [Bica]: espremer

Kamambu:Cambu/ bolha de ar na água [gasosa, grifo meu]p. 73:

Bur : bubur [redupl] jorrar , manar em borbulhões [por. Ex: a água na fonte].

B-ú: beber; mamar; espremer [6]

Nas aglutinações o “r” some ficando só [bu].

Prosseguindo com o dicionário de Navarro:

p.209: Bú: ybú - y-bú: a água que surge, o olho d’água, o manancial, emergir.

p.212: CAIBU: caá-ybú; a fonte; olho d’água da mata.

p.65 ; ‘IRA: soltura, desprendimento, água “presa” no subsolo, solta-se. [CAMBUQU IRA.]

p.418: ‘Y:[ou U- nota minha]:[-3] – fonte.

Lembrando que, já no tupi pré-colonial Y substituía U.
Na fase histórica [1549] era facultativo U em lugar de Y.
Notamos os vestígios do tupi antigo no topônimo “cambuquira.”o Y substituía o U, mais antigo.
“O estudo lingüístico do fonema especial do tupi “Y” mostra também sua realização em, “U”.
[15-p.226]

Vejamos o texto abaixo, esclarecedor da difícil questão do “U”, “Y”, tentativas de transpor graficamente o fonema para água.

“... la vocal “i” [com til encima] era el nombre de lãs cosas que fluyen, que ascienden, que crecem suavemente. De ahi el concepto de água, que no es sino derivación; el concepto es licor
, es decir, liquido , es decir fluido; pero como el água es el liquido universal, por antonomásia, i~ passo a significar água.
Ex.
Kambi:[ou Kambu – nota minha] leche [ka-mb – í, es decir: líquido [soro] que espele o peito.]

MARTINEZ, Alfredo. Orígenes y leyes del lenguaje aplicadas al idioma guarani. Buenos Aires, Coni Hermanos, 1916, p. 139.

Contextualizamos citando um autor de Cambuquira:

[...] temos para nós a crença absoluta de que a água mineral natural é um verdadeiro
Composto coloidal. – [portanto soro,licor,linfa- nota minha]

[Dr. Brandão, Thomé – Livro: “ Cambuquira”- pág.63]

Cambuchi jeroki: dança do cântaro. Velha tradição guarani em que se pedia água aos deuses no tempo de grande estiagem.
Tijelas para beber ou /cambuchi caguaba.
Jarra para bebida ou cambuchi.
Prossigamos, agora tentando encontrar significados relevantes do “quira”.
Uquire: dormir.
Quer: Dormir -latente; também silencioso.
Quiry: De quira, chuva.
Quira: adj.gordo, engordar.
Quyra: adj. Verde, não maduro [5]
Ycuara ou Ucuara : poço.
Jgcoara: fonte. –[13]
Este verbo também se emprega no sentido de cair quando se refere à queda da chuva, porque o nativo diz: “A chuva dorme” em vez de : “A chuva cai”. [5-Pág.: 64]
Itiquira : água vertente, minadouro. [15p. 253.]
A “Amantiquira”, ou goteira ou pouso da chuva era a linha divisória[...]
[Casadei ;Pág. 13:]
Riqueza polissêmica que pode ser inferida do topônimo CAMBUQUIRA em seus componentes:
mbu[r] e Quira: sendo usualmente traduzido ambyquira como broto com sentido de renovo.
Mbu [r]
Quira[Ker]
Verticalidade
Horizontalidade
Para cima
Para baixo
Despertar
Adormecer
Manar
Acumular,reservatório
Borbulhar [da água gasosa]
Engordar,repousar
Animado/entusiasmado
Abatido/apático
De pé
Deitado
Brotar, logo maduro.
Verde, latente
Dinâmico
Estático
Elevado
Caído
Motivado
DeprimidoTímido
Ativo
Inativo
emergir
Submergir
Tornei a mim
Me atolei, afundei
retesado
inerte


Com tantos possíveis significados proponho a seguinte tradução do topônimo:
Cambuquira:
As águas que deitam [chuva que cai] -QUIRA- e, ainda QUIRA – engordam [encharcam-se de sais minerais,etc], desprendem-se do subsolo -IRA- e manam/brotam leitosas [soro] CAMBU em borbulhões- MBU -[águas gaseificadas] no seio -CAMA- da natureza.

Temos então, um sistema hidrodinâmico de renovação e revitalização das águas que manam como um soro [águas minerais] e, portanto,quando ingeridas pelos seres vivos propiciam revitalização orgânica e ainda psíquica.
Por que não dizer:

CAMBUQUIRA A F O N T E D A J U V E N T U D E

“Incomparável retorta que realmente distila o ELIXIR DA LONGA VIDA”.
Thomé Brandão – Cambuquira.
Continua o :


CAMBUQUIRA CIDADE BROTINHO


O que brota é saúde
[só que o “brotinho” são todos que aqui vivem ou visitam]
Cambuquirense: mamador no seio das águas da mãe natureza. Relação afetuosa com a terra.
A palavra “cambuquira”, além de designar um local especial, sagrado, como fontes límpidas e restauradoras, assumia, no passado, a meu ver, o Status de saudação:
Dizer: CAMBUQUIRA era o mesmo que dizer:
Restaura-te...,Levanta-te...,Cura-te...mamando na mãe natureza.
Qual outra tem a virtude
Da vida humana estender?
Manter intacta a saúde
Sem nunca o viço perder?
Só tu, amada Cambuquira
Terra por Deus destinada
Às glórias de um novo Éden
Tu que tens a sorte
De fazer fugir a morte
P’ras profundezas do além!!...

Adeus ! Terra hospitaleira
Das estâncias a primeira
Cambuquira, adeus, adeus!!

Maia Filho.
“Adeus Cambuquira” –Offerecido aos companheiros do Hotel Silva, em Abril de 1921.
4-Hipóteses:
Suspeitas das possíveis correlações entre a tradução inicial de T.Sampaio como “folhas tenras” e o posterior acréscimo como “broto de abóbora”.

Do número /plural, em tupi. Curi: pinhão Curityba: pinhal.

As cabaças feitas da casca da abóbora são adequadas pois, com o gargalo estreito impedem a água de escapar quando transportadas.
Jurumum: abóbora em tupi. Sendo; Juru: garganta / mum; estreito -
A abóbora assume formas de gargalo.

Jurumuntyba: abobral

Para ter o significado de broto de abóbora uma cidade teria o seguinte nome [aproximadamente]:
Jurumunbyquira: broto de abóbora.

Possíveis indícios de uma construção antropológica relacionando o topônimo Cambuquira a broto de abóbora
A—O indivíduo faz cabaças de algumas abóboras [e aproveitando, come os brotos/ ambuquira indo à fonte [seio] das águas minerais –Cambuquira.
Há uma fusão ou confusão [corruptela] entre os termo Cambuquira como fonte e ambuquira como broto e ainda Cambuchi como vaso,cântaro.

Do livro : “Cambuquira – Um dedo de prosa. “Página 61. /Suely Fonseca Vilhena, refere-se ao tema falando algo assim, como:
Porque vendiam os escravos os brotos de abóbora se havia por toda parte?

Um questionamento que coloca em cheque a incoerência de “broto de abóbora” designar qualquer localidade.

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Marco Antônio Santos Cruz.
2008/2009.




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