quinta-feira, 21 de maio de 2009
TOPÔNIMO CAMBUQUIRA - uma proposta de releitura.
[uma proposta de releitura do topônimo]
BRASIL – outros 500
A palavra possui valor divino (sagrado) na cultura Guarani, age como um elemento mediador entre os deuses e os homens. Por isso deve ser rezada, cantada e dançada. "As belas palavras são dádivas dos deuses, enviados pelo ser supremo para guiar a vida dos futuros homens".
(Isquerdo, 1992, p. 9).
No tupi cada palavra é uma verdadeira frase
Professor de tupi Joubert di Mauro.
Curso de Tupi “On line”.
Date: Wed, 18 Mar 2009 18:24:26 -0300> To: marcoamigo2009@hotmail.com> From: joubert@ism.com.br> Subject: RERE-consulta em tupi Cambuquira Re-tese-toponímia> > Você está de parabéns pela revisão do topônimo > Cambuquira. Inteiramente fundamentado e > muitíssimo bem fundamentado. Você talvez nem > imagine como isto é importante para a Cidade. Há > algum tempo atrás dei uma nova versão para o nome > de uma cidade lá no Sul, muito mais compatível > com a realidade da cidade, assim como você fez > com Cambuquira e eles ficaram muitos felizes. O > Secretário de Turismo passou a colocar a nova > versão em toda a propaganda turística da > cidade...os hotéis também fizeram o mesmo. O > Secretário de Educação enviou para as escolas > fundamentais também a nova versão. Vai acontecer > o mesmo com Cambuquira. l. Na verdade a gente desculpa o > Theodoro Sampaio, até porque ele foi um > gigante...na época...e é sempre assim, quem faz > comete erros. E ele, tenho certeza, ficaria > muitíssimo satisfeito com a nova, e, sem dúvida, > correta, versão.
Prof. Marco Antonio Santos Cruz.
Graduado em Educação Física – UFRJ. 1982.
Missiologia- Instituto Cristão de Pesquisas – 1992
Extensão em Arqueologia – U.V.A. 2004
Pós-graduação em História da Educação – 2005
Aluno especial da USP: Disciplinas “Tupi antigo” e “toponímia.”
marcoamigo2009@hotmail.com
CAMBUQUIRA
[uma proposta de releitura do topônimo]
Cambuquira: Município, estância hidromineral do Sul de Minas Gerais- Brasil. A cidade possui muitas fontes de águas minerais, cada uma com uma peculiaridade:
Ex: Sulfurosa; ferruginosa, magnesiana, contendo lítio,etc. Existe um “Parque das águas”, no qual encontram-se cinco fontes .
Assim sendo, através do topônimo Cambuquira iremos “investigar” os seus componentes buscando elucidar seus sentidos possíveis e a idéia global a ser transmitida por eles.
1-O começo:
O texto básico que estaremos revisando é o clássico: O tupi na geografia nacional, * de Teodoro Sampaio, cuja primeira edição saiu em 1901. Estarei utilizando a 5ª edição de 1987.
Veja a nota abaixo sobre “a época unitarista’ dos estudos do tupi:
O Dr. Frederico Edelweiss, revisando a referida obra na p.36 [5ª edição] esclareceu:
Para Couto de Magalhães tupi e Nhenngatu eram sinônimos e o guarani um simples dialeto deles. //é esse, em resumo, o caos de concepções com que se defronta Teodoro Sampaio quando, ao findar do século 19. O resultado foi uma colcha de retalhos desnortenante, de consulta perigosa nos ensinamentos, nas exemplificações e nas conclusões.
[...] estes antigos locais podem ser apreendidos hoje, como “lugares da memória indígena”- ambientes carregados de significados pois apresentam concretudes de um passado vivido e sentido.
Alenice Motta Baeta – Escola indígena- Índios de Minas Gerais. [artigo]
Ao lado da formação etimológica para os topônimos de origem tupi, a qual deveria traduzir, se tanto fosse possível, a motivação mesma que lhes deu lugar no ambiente geográfico.
Toponímia de Minas Gerais- Joaquim Ribeiro Costa-2ª. Edição-1997.BDMG-CULT. Pág. 17.
[T.S] p.42-No tupi os nomes de lugares são frases acabadas traduzindo uma idéia, um episódio, uma feição característica dos lugares a que se aplicam; são, a bem dizer, verdadeiras definições do meio local.
p.56-Traduzir-lhe o significado de agora como o de outrora , o que com isto se visa, no sentido mais lato é fazer a própria históra do espírito humano e o estudo do passado.
p.56- Entretanto, as palavras primitivas foram pouco a pouco, truncadas no correr do tempo, o que tornava a sua etimologia quase impossível de decifrar.
p.64 – [...] e são todavia vocábulos doces e sonoros / como designação de lugares , mas que muito perdem do seu valor, por não se saber o que exprimem, o que recordam, o que nos revelam do sentir e do gênio do povo primitivo que no-los legou.
p.67- [...] terei, entretanto, levantado uma ponta desse véu de esquecimento, que pesa sobre a memória do povo desaparecido.
p.173- Assim, nos estudos linguísticos fica aberta a vereda por onde outros, quiçá mais felizes ou mais bem aparelhados, podem atingir a realidade ou o verdadeiro./
2-NA TRILA DA CAMBUQUIRA
1834 -
A fama das águas de Cambuquira, datam de longo tempo. Já em 1834 o vereador Midões, da Câmara Municipal de Campanha, providenciara sobre os concertos de pontes e estradas, de forma a facilitar aos boiadeiros e condutores de tropas para o Rio de janeiro, a passagem por Cambuquira, para que lhes pudessem aproveitar as águas SANTAS.
Interessantíssimo observar o peso das palavras : Águas santas o que pressupõe ocorrência de curas diversas. Também aqui a fama das águas é que é o “cartão de visita” e tradição da localidade. Nenhuma referência a brotos de abóbora ligada à cambuquira. [18-Pág.28].
1901 –
“O tupi na geografia nacional.” [Teodoro Sampaio]
p.76-Cambuquira: grelo, folha tenra.
caá: planta,mato.
ambyquyra: broto.
[Todo lugar tem folhas tenras/novas.] –Sampai nada fala de broto de abóbora.
1916.– 5º Congresso Brasileiro de Geografia. Bahia-
Pág.25: História. [...] A um modesto proprietário, por alcunha “o Cambuquira”, atribui-se a descoberta dos mananciaes da estância”.
Não havia, portanto, em 1916, nenhuma referência ou associação deste senhor com broto de abóbora algum. 1920-
Livro: Cambuquira de Brandão – Nada fala do topônimo Cambuquira e muito menos de broto de abóbora.
1958-
Enciclopédia dos Municípios. -Juandyr Pires Ferreira. I.B.G.E- 1958 – jan.
E, assim, ao que se presume por lenda e história, os escravos se tornavam vizinhos do sitiante Alferes José Antônio Rodrigues, que tinha a alcunha de “cambuquira” [grelos de aboboreira], na cidade de Campanha.
Quanto à razão de ser do nome dado ao florescente povoado, pressupõe tenha sido pelo motivo da farta produção de cambuquiras em seu território e não por aquela pessoa marcada pelo tradicional comércio. Pág. 294:
Notemos que, em 1834, não havia associação alguma entre o Sr. Cambuquira e broto de abóboras e gora já se introduz que ele era ligado ao tradicional comércio, ou seja, comércio de longa data que não era citado anteriormente.
O Dr. Thomé Brandão em seu livro,Cambuquira, de 1958. Escreveu, após analisar artigo de um jornal sobre o topônimo Cambuquira baseado em Teodoro Sampaio:
[...] que nos autoriza admitir como interpretação da palavra Cambuquira o significado de brotos ou grelos de abóbora.
1959-
É criado o “Brasão” do município. Nenhum ícone referente a broto de abóbora.
3-REVISITANDO O TOPÔNIMO
Vasculhando “O tupi na geografia nacional”, observamos que T.Sampaio “viu” o seio [“cama”] em alguns vocábulos e, no caso de Cambuquira dividiu o topônimo em caa: planta não enxergando o cama: seio, inserido em Cambuquira – cama -cambu...
É ele mesmo que registrou:
p.213: CAMA : o peito, os seios, elevação. Alt. Cam, cã.
p.213.CAMAMBU: Cama-mbur: o peito que entesa [de líquido.]
p.213:CAMAPUÃ: O peito arredondado, a colina arredondada.
p.214: CAMBUCY:CAMBU-CHI: CAMBUKI –CAMBUQUI -O vaso d'água, o pote, cântaro.
Obs: Os seios são, de fato, duas “vasilhas” cheias de líquido.
Observemos que no topônimo Cambuy, pela primeira vez um outro estudioso propõe uma
versão alternativa.
p.214:CAMBUY:
caá-mboy A planta, folha que se desprende. [Teodoro Sampaio]
[ora, toda folha se desprende]
camby-y: O rio do leite . Carvalho, Alfredo
– O tupi na geografia mineira-in. Anuário de Minas Gerais do Dr. Nélson de Sena – 1907.
Eu proporia: Rio leitoso/caudaloso.
Cambu-y: seio das águas [Marco Cruz-2009]
Cambucá: Fruta silvestre. O ca final , sim, provém de caa , no sentido de mato, herva ou fruto. Assim , teríamos fruta suculenta, uma vez que cambu é leite, leitoso, ou digamos suculento.
p.229: EMBAHY: Emba- y: rio ou água que surge de conduto natural ou subterrâneo.
p.230:EMBAÚ:EMBA-Ú; a bica, beber da bica.
p.308: -...como forma contrata de QUARA significa também poço, cisterna, buraco, furo.
O Dicionário de tupi antigo do Prof. Eduardo de Almeida Navarro,USP, março de 2006
. p.182, dá as seguintes entradas:
Kambyk [ou, substituindo o Y por U, grifo meu]: Cambuqui [Bica]: espremer
Kamambu:Cambu/ bolha de ar na água [gasosa, grifo meu]p. 73:
Bur : bubur [redupl] jorrar , manar em borbulhões [por. Ex: a água na fonte].
B-ú: beber; mamar; espremer [6]
Nas aglutinações o “r” some ficando só [bu].
Prosseguindo com o dicionário de Navarro:
p.209: Bú: ybú - y-bú: a água que surge, o olho d’água, o manancial, emergir.
p.212: CAIBU: caá-ybú; a fonte; olho d’água da mata.
p.65 ; ‘IRA: soltura, desprendimento, água “presa” no subsolo, solta-se. [CAMBUQU IRA.]
p.418: ‘Y:[ou U- nota minha]:[-3] – fonte.
Lembrando que, já no tupi pré-colonial Y substituía U.
Na fase histórica [1549] era facultativo U em lugar de Y.
Notamos os vestígios do tupi antigo no topônimo “cambuquira.”o Y substituía o U, mais antigo.
“O estudo lingüístico do fonema especial do tupi “Y” mostra também sua realização em, “U”.
[15-p.226]
Vejamos o texto abaixo, esclarecedor da difícil questão do “U”, “Y”, tentativas de transpor graficamente o fonema para água.
“... la vocal “i” [com til encima] era el nombre de lãs cosas que fluyen, que ascienden, que crecem suavemente. De ahi el concepto de água, que no es sino derivación; el concepto es licor
, es decir, liquido , es decir fluido; pero como el água es el liquido universal, por antonomásia, i~ passo a significar água.
Ex.
Kambi:[ou Kambu – nota minha] leche [ka-mb – í, es decir: líquido [soro] que espele o peito.]
MARTINEZ, Alfredo. Orígenes y leyes del lenguaje aplicadas al idioma guarani. Buenos Aires, Coni Hermanos, 1916, p. 139.
Contextualizamos citando um autor de Cambuquira:
[...] temos para nós a crença absoluta de que a água mineral natural é um verdadeiro
Composto coloidal. – [portanto soro,licor,linfa- nota minha]
[Dr. Brandão, Thomé – Livro: “ Cambuquira”- pág.63]
Cambuchi jeroki: dança do cântaro. Velha tradição guarani em que se pedia água aos deuses no tempo de grande estiagem.
Tijelas para beber ou /cambuchi caguaba.
Jarra para bebida ou cambuchi.
Prossigamos, agora tentando encontrar significados relevantes do “quira”.
Uquire: dormir.
Quer: Dormir -latente; também silencioso.
Quiry: De quira, chuva.
Quira: adj.gordo, engordar.
Quyra: adj. Verde, não maduro [5]
Ycuara ou Ucuara : poço.
Jgcoara: fonte. –[13]
Este verbo também se emprega no sentido de cair quando se refere à queda da chuva, porque o nativo diz: “A chuva dorme” em vez de : “A chuva cai”. [5-Pág.: 64]
Itiquira : água vertente, minadouro. [15p. 253.]
A “Amantiquira”, ou goteira ou pouso da chuva era a linha divisória[...]
[Casadei ;Pág. 13:]
Riqueza polissêmica que pode ser inferida do topônimo CAMBUQUIRA em seus componentes:
mbu[r] e Quira: sendo usualmente traduzido ambyquira como broto com sentido de renovo.
Mbu [r]
Quira[Ker]
Verticalidade
Horizontalidade
Para cima
Para baixo
Despertar
Adormecer
Manar
Acumular,reservatório
Borbulhar [da água gasosa]
Engordar,repousar
Animado/entusiasmado
Abatido/apático
De pé
Deitado
Brotar, logo maduro.
Verde, latente
Dinâmico
Estático
Elevado
Caído
Motivado
DeprimidoTímido
Ativo
Inativo
emergir
Submergir
Tornei a mim
Me atolei, afundei
retesado
inerte
Com tantos possíveis significados proponho a seguinte tradução do topônimo:
Cambuquira:
As águas que deitam [chuva que cai] -QUIRA- e, ainda QUIRA – engordam [encharcam-se de sais minerais,etc], desprendem-se do subsolo -IRA- e manam/brotam leitosas [soro] CAMBU em borbulhões- MBU -[águas gaseificadas] no seio -CAMA- da natureza.
Temos então, um sistema hidrodinâmico de renovação e revitalização das águas que manam como um soro [águas minerais] e, portanto,quando ingeridas pelos seres vivos propiciam revitalização orgânica e ainda psíquica.
Por que não dizer:
CAMBUQUIRA A F O N T E D A J U V E N T U D E
“Incomparável retorta que realmente distila o ELIXIR DA LONGA VIDA”.
Thomé Brandão – Cambuquira.
Continua o :
CAMBUQUIRA CIDADE BROTINHO
O que brota é saúde
[só que o “brotinho” são todos que aqui vivem ou visitam]
Cambuquirense: mamador no seio das águas da mãe natureza. Relação afetuosa com a terra.
A palavra “cambuquira”, além de designar um local especial, sagrado, como fontes límpidas e restauradoras, assumia, no passado, a meu ver, o Status de saudação:
Dizer: CAMBUQUIRA era o mesmo que dizer:
Restaura-te...,Levanta-te...,Cura-te...mamando na mãe natureza.
Qual outra tem a virtude
Da vida humana estender?
Manter intacta a saúde
Sem nunca o viço perder?
Só tu, amada Cambuquira
Terra por Deus destinada
Às glórias de um novo Éden
Tu que tens a sorte
De fazer fugir a morte
P’ras profundezas do além!!...
Adeus ! Terra hospitaleira
Das estâncias a primeira
Cambuquira, adeus, adeus!!
Maia Filho.
“Adeus Cambuquira” –Offerecido aos companheiros do Hotel Silva, em Abril de 1921.
4-Hipóteses:
Suspeitas das possíveis correlações entre a tradução inicial de T.Sampaio como “folhas tenras” e o posterior acréscimo como “broto de abóbora”.
Do número /plural, em tupi. Curi: pinhão Curityba: pinhal.
As cabaças feitas da casca da abóbora são adequadas pois, com o gargalo estreito impedem a água de escapar quando transportadas.
Jurumum: abóbora em tupi. Sendo; Juru: garganta / mum; estreito -
A abóbora assume formas de gargalo.
Jurumuntyba: abobral
Para ter o significado de broto de abóbora uma cidade teria o seguinte nome [aproximadamente]:
Jurumunbyquira: broto de abóbora.
Possíveis indícios de uma construção antropológica relacionando o topônimo Cambuquira a broto de abóbora
A—O indivíduo faz cabaças de algumas abóboras [e aproveitando, come os brotos/ ambuquira indo à fonte [seio] das águas minerais –Cambuquira.
Há uma fusão ou confusão [corruptela] entre os termo Cambuquira como fonte e ambuquira como broto e ainda Cambuchi como vaso,cântaro.
Do livro : “Cambuquira – Um dedo de prosa. “Página 61. /Suely Fonseca Vilhena, refere-se ao tema falando algo assim, como:
Porque vendiam os escravos os brotos de abóbora se havia por toda parte?
Um questionamento que coloca em cheque a incoerência de “broto de abóbora” designar qualquer localidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Coimbra – 1595 – Rio de Janeiro, Ed. Da biblioteca nacional do Rio de Janeiro.- 1933. [1]
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BARBOSA ,Pe. A. Lemos –Pequeno dicionário tupi-portugues. .[4]
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BUENO , Francisco da Silveira. [5]
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BRANDÃO, Carlos R. Os Guarani, índios do Sul: religião, resistência e adaptação. Estudos Avançados, São Paulo, ano 4, n. 10, p. 53-90, 1990. [6]
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Cambuquira.
CASADEI, Antonio;CASADEI ,Thalita de Ol. Aspectos Históricos da cidade de Campanha –
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DRUMOND, Carlos – SP- 1952. USP.
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DICK,Maria Vicentina de Paula do Amaral A motivação toponímica e a realidade brasileira. [15]
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MELO, Otaviano de.
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NAVARRO, Eduardo de Almeida .-USP- 1995.
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SCHIAVETTO, Solange Nunes de Ol. A Arqueologia Guarani – FAPESP- FFLCH-USP- [26]
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TORRES, João Camilo de Oliveira
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VASCONCELOS, Diogo de , História antiga de Minas Gerais. [30]
Marco Antônio Santos Cruz.
2008/2009.
terça-feira, 19 de maio de 2009
Renate Köhler e Cambuquira -Capítulo 1 - A entrada
Cap. 1 - A Entrada.
Estes Blogs de Cambuquira se preocupam com os acontecimentos dos últimos 100 anos em Cambuquira, as personalidades que cunharam o lugar e as vidas nesta bela cidadezinha. Estas são pessoas inesquecíveis. Elas são o coração da comunidade. E, esse coração deve ser transmitido para nunca parar de bater.
Li várias vezes o artigo sobre Dr. Vicente Urti e fiquei entusiasmada. Ele também olha para frente, com preocupações, como me parece.
Eu procurei neste Blog os rastros da “minha cidade” – achei muito bonito. Acho que também devem se estar junto às “100 personalidades de 100 anos Cambuquira” aqueles que viveram aí sem deixar rastros, como também aqueles que vieram silenciosamente e partiram da mesma forma. Quem se lembra deles? Somente dentro deles mesmos vive a lembrança de uma época, que é inseparavelmente unida com a cidade. Assim também acontece comigo. Deixa-me escrever-lhe pouco como na sua vizinhança a felicidade florescia e desvanecia..... bem perto ao seu lado. E, nada é tão casual como as lembranças. A mente ou o espírito tem sua própria cabeça! Ou,como “Cees Nooteboom”escreve em “Rituale” –"... é como um cachorro, que se deita onde quer!"
Meus pais, Suzana e Gernot / Frederico Köhler, foram do nordeste do Brasil, de Recife para Cambuquira. Meu pai emigrou meio dos anos 1930 da Alemanha. Um pequeno aventureiro que, com um contrato de trabalho da firma Dannemann/Bahia na bolsa, queria tentar por si mesmo conquistar um mundo maior.
Os seus sonhos de uma vida de viagens e livre já iriam encontrar o seu fim na passagem de navio. Isso ele não podia imaginar, apaixonou-se no chão naval oscilante por uma linda brasileira, minha mãe.
A família de minha mãe, os seus pais eram alemães que já há várias gerações viviam no Brasil.
Meus pais se noivaram, casaram 1942 e partiram direção sul do país. Eu nasci em 1944 na cidade de Nova Friburgo. Depois de pouco tempo, eu ainda bebe, mudamos para Cambuquira. Eles compraram um sítio no Marimbeiro, onde eu penso que meu pai mandou construir lá a nossa casa. bem abaixo do Hotel Fonte Marimbeiro. Espero que a casa ainda exista e eu ficaria muito feliz se ele trouxe a felicidade à nossos proprietários.
Minha mãe escreveu naquela época aos sogros na Alemanha:
“Queridos pais, que dizem então à esta paisagem da carta postal? Não é Cambuquira uma cidadezinha linda? Nós somos tão feliz aqui! È como no paraíso............!”..........
”Na cidade como também perto de nós existem fontes curadoras, principalmente para doentes de fígado e com complicações do intestinal. Depois de ter provada todos medicamentos, somente as fontes conseguiram de me curar totalmente...........a cidade tem parque, jardins e plantações muito bem cuidados, já existiam nos tempos do imperador”........
Aqui primeiramente entram minhas lembranças de infância. Eu sonho muito com os poucos anos que descrevo agora. De vez enquando acordo na noite e me pergunto se esta época de infância feliz aí com vocês é verdadeiramente uma parte de um longo e já mais cinzento sonho e se o que aconteceu não é verdade.
– Os poucos anos de felicidade só foram um pequeno cochilo de nossa vida, a crônica da pequena de criança de um mundo desaparecido. Aqui ele ainda era lindo. Em breve já vou escavar coisas irreparáveis das ruínas do meu passado distante. Mas isto é uma outra história. E porém nada esquecido.
Vivemos até cerca de 1951 no sítio. Meu irmão nasceu lá, com a ajuda de Dr. Vicente Urti, nosso médico de família. Mas, tudo que começou como nos contos, acabou-se dolorosamente. Minha mãe, uma pessoa extraordinária, cheia de delicadeza, erudita, com muita graça, sempre gentil, muito indulgente e com muito amor, adoeceu – adoeceu incuravelmente. Ela se fechou ao nosso mundo, entrou na sua própria vida para nós inacessível. Perto dela, eu me sentia ainda muito mais sozinha.
Pouco antes dela partir acariciava-me os cabelos, olhando perdida para mim com lágrimas nos olhos. Os pedaços desse momento carrego até hoje no meu coração. Porém ela me faltou muito.E, ainda hoje apesar da falta de contato por cerca de 58 anos, ela me faz falta.
Penso que no fundo nunca compreendi o porque dela ir embora. A morte de uma pessoa querida, deveria ser outra coisa para aguentar. Se esta pessoa foi para sempre embora, a gente tem sentimento de tristeza e dó e – domina estes sentidos.
Mas, na nossa situação aqui a pessoa ainda esta perto,sem nos compreender, mesmo quando em frente de um. Foi bem violento o que aconteceu em nossa vida. Mais trágico para nossa mãe do que para nós. Nós tínhamos a chance de enfrentar este destino no futuro, lutar, nos defender e manter. Essa chance minha mãe não teve.– Daí tudo rolou ladeira abaixo. Ficaram as saudades!
Meu pai trabalhava em qualquer coisa em qualquer lugar e ficava longos tempos fora. A vida se tornou para nosso pai num campo de jogos, que ele ainda não conhecia. Nós crianças então vivíamos nas casas de pessoas muito boas, quais se preocuparam conosco.( Vou ainda falar sobre isso). Para nós crianças, quais se arranjaram com a situação foi mais uma cesura, quando o sítio foi vendido. Meu pai nos tomou nas mãos e fomos embora de Cambuquira. A felicidade dos anos que vivemos ali não voltou mais nos poucos anos que ainda estive no Brasil. Mais tarde achei na Alemanha uma nova casa e nova vida.
Minha mãe tem hoje 86 anos e vive em num lugar em Minas Gerais, acompanhada e cuidada com muito carinho pelo pessoal de lá e também por uma neta sua, que apesar de morar longe do Estado, se preocupa muito com ela com muito amor e responsabilidade,e por isso eu sou lhe especialmente grata.
Meu pai faleceu 1972 em Belo Horizonte. Dessas duas vidas não sobram mais do que as lembranças em uma caixa com fotos.
Meu irmão vive no Brasil. Eu tenho sobrinhos e sobrinhas, todos muito bem na vida.
Mais tarde, nasceu um outro irmão de outra mãe, que vive também no Brasil.
Hoje, eu respiro ar do mar leste no norte da Alemanha. Meus quatro filhos já são adultos e vivem a vida deles fora de nossa casa. E, o mais velho já tem 2 filhos com uma brasileira.
Se nós Köhlers de Cambuquira, vivemos bem nossas vidas, apesar das dificuldades dos tempos de juventude, com certeza, isso tornaria nossos pais muito felizes. E, como se diz em alemão “..und die Eltern Können sein, dass stolz...” ( e os pais podem ficar orgulhos que os seus filhos conseguiram algo na vida), o que resume tudo.
"...und die Eltern können stolz sein.“ E, assim que ter que ser.
Eu mesma nunca mais fui ao Brasil. Somente nos sonhos. Vejo aí um Brasil como se apresentava nos anos de 1950 à criança. E isto deve ficar assim....
Agora vocês sabem quem escreve. Talvez alguém da geração dos bisavós ainda conhece nossa família. Boas saudações à vocês. De alguns vou contar. Deixo então as minhas lembranças galopar para fora. Vou contar sem sortimento, sem corrigir, assim como os sentimentos e lembrança que carrego, com a cabeça e a linguagem de uma menina de 12 anos. Se a mulher mais velha vai mexer tentando entrar, não chance! Apago ela sem perdão.
Vai ser muito pessoalmente, para muitas leitoras/res talvez aborrecido e banal. Aí eu permito saírem. Eu talvez iria me comportar semelhante. Se somente 2 pessoas resistem - também isto seria para mim como aplauso - então escrevo somente para elas e para mim.
Sentam-se comigo perto do lume do fogão, tomamos um pouco vinho tinto e quando meia-noite passou e o ambiente já um pouco leve, começo.
Uma palavra ainda à minha linguagem. Vocês notam: assim falava uma criança 1957 – o vocabulário limitado que não aumentou. Já Peço desculpas. Espero que dê para entender.
De que me lembro: ...
Aguarde o fim da música da página para abrir o vídeo.
O vídeo acima, cujo link foi enviado por Renate Drews (do Norte da Alemanha), mostra o que ela sente quando revê em nossos blogs imagens da cidade e fotos de pessoas dos tempos em que viveu no Marimbeiro em Cambuquira.
Continue lendo no próximo capítulo (clique aqui!) ou vá para próxima página (postagem mais antiga)
Capitulo 2 Vida no sítio Marimbeiro
Os meus primeiros 8 anos da infância em Cambuquira/Marimbeiro na casa dos meus pais: brincar e sonhar entre as galinhas d'angolas, tarântulas e Serpentes...
Penso que a casa dos meus pais foi construída mais ou menos em 1945 no Marimbeiro em Cambuquira. Exatamente abaixo Hotel Fonte Marimbeiro. Entre Hotel e nosso sítio passava uma estrada em direção à Cambuquira.
Meus pais escolheram construir em um estilo bem simples e claro. Tudo em branco com janelas verdes. As janelas tinham um enfeite com orifício em forma de um coração. Penso que talvez ele tenha querido imitar um pouco o estilo da Bavária. Pelo menos para mim tinha um aspecto divertido e alegre. Lá dentro,continuava o mesmo estilo, acomodável, muito "gemütlich” (agradável, aconchegante), com jardim de inverno, copa, sala, entrada, os quartos, banheiro e cozinha... Nós gostávamos e penso que os pais também ficavam muito satisfeitos com a aura desta casa. Lembro-me ter sentido isso deles.
Na entrada do terreno abria-se por um portão enfeitado com uma "bougainvillea", planta trepadeira linda com inflorescência cor rosa/violeta. Ao redor da casa tínhamos grama, cercadas de hortênsias de cabeças grandes, rosas, hibiscus, que era o amor dos beija flores. Junto ao jardim, seguindo ao redor, o quintal e a horta com diversas plantações como tomates, legumes, milho, abacaxi e ....Um cercado com galinhas pretas, brilhantes, com ovos grandes, marrom claro e pontinhos marrom escuro.Tão gostosos no café de manha.
Livres e felizes, porque não ficavam presas, as galinhas d' angolas, com vestidos decorativos, andando para cá e para lá. Procurando..... minhocas?
Perto do alpendre que dava para a cocheira, diversos utensílios de jardineiro. Ah! não esquecer a moradia das tarântulas, não muito minhas amigas. Gostavam de me assustar quando ia por lá.
Meu pai criava carpas, lá mais no fundo do terreno. Com os viveiros de carpas, naturalmente viveiros também para os sapos e bichos menos queridos - pois eram perigosos - como cobras.
Mas com certeza, mesmo assim, sobreviveram bastante carpas para nos deixar festejar com esta delícia o Natal ou Ano Novo. Este era um “ambiente” enfeitado pelas libélulas, as sílfides dos lagos, encantando e sempre em movimento.
Perto também havia uma plantação de eucaliptos, mergulhando os passantes no cheiro gostoso das flores, já prometendo o mel, que meu pai colheria com ajuda das abelhas. Seria de novo uma delícia!
Ao redor disso tudo, a linda paisagem da região, com os montes como que pintados pelos pinceis cheios de cores em diversos verdes, os capins florescendo em vermelho escuro até rosa e sempre em movimento pelo ventinho suave, essa terra dos caminhos pelos campos em "orange" até vermelho.De um lado, lá em cima, ficava o Hotel Fonte Marimbeiro, ponto não só visual mas também de vários passeios, que fizemos.A diversidade dessa paisagem frequentada também pelas térmitas (cupins) com os seus grandes cupins, os urubus como majestades sentadas nas árvores ou na beira do regato, e o contraste : os colibris, esses pássaros lindos, o João de Barro construindo a casinha dele e chamando a fêmea.Também existia as pombinhas orgulhosas com suas plumagens interessantes, cada uma diferente.
Os carros de bois, transportando coisas pesadas, cana de açúcar, ou sacos de feijão, café ou ..... Pessoas passeando, camponeses à caminho das hortas, de vez em quando uma charrete de cavalos transportando turistas, até carros passando na estrada lá em cima. Não estávamos sozinhos, vivíamos em paz em uma comunidade colorida, sempre em movimento.
Não sei o que inspirou meus pais a se domiciliarem ali neste lugarzinho feito como para sonhar e viver tranquilo, mas foi uma ideia muito boa e pois ficou para sempre no meu coração, me fazendo imensamente feliz quando penso nisso.
Com este lugar cheio de boas impressões que no nosso dia-a-dia vivíamos o dia inteiro, embora praticamente ficávamos fora da casa, cada um ocupado com suas coisas. Minha mãe na maioria das vezes, estava ocupada em casa, meu irmão ainda pequeno, 2 ½ anos mais jovem do que eu em casa com mãe.
Meu pai, principalmente, ficava ocupado com trabalhos doe sítio e com os camponeses que o ajudavam. Eu brincava em qualquer canto, descobrindo cada dia coisas novas. Adorei esta vida livre, que acordaram em mim atividades criativas. Isto foi bom e importante, pois não tinha amigas na vizinhança para brincar.
Nossa mãe era uma pessoa quieta, muito fina, criativa nos domínios de literatura e pintura. Eu a encontrei muitas vezes, se descansando na sala, sentada na poltrona com um livro nas mãos, ou sentada na copa desenhando. Ela ensinava os primeiros caminhos para gostar de desenhar. Em alguns momentos juntas, duas em concórdia, minha mãe mostrava por exemplo como se desenha os legumes da nossa horta...
__“Quer que lhe mostre como desenhar uma cebola, ou uma beterraba?”......E, .eu admirando e seguindo à linhas.
__“Renate, vem! Vou dar-lhe minhas bonecas e louça de porcelana de brincar. Segurei até hoje e finalmente você já tem a idade de receber de mim. Mas toma bem conta, querida.”
Isto foi muito bom para mim. Um dia de festa! As bonecas e a louça ainda tenho até hoje. A lembrança de nossos momentos juntas é uma joia preciosa, que seguro no meu coração, como também o amor à literatura e à arte. Tudo isto recebi de minha mãe. Eu amava minha mãe de todo o meu coração. Graças à minha mãe vivo hoje junto com muitos livros e me preocupo com arte.
Meu pai também acordou em mim a vontade de ler tudo que cabia na minha idade. Juntos, pai e mãe leram muito com a gente. De vez em quando, às tardes, antes de ficar escuro, depois do jantar, mas já prontos para cama, tínhamos horas de brincar ou ler na varanda, também nosso lugar de festejar o Natal. Da árvore artificial junto com presentes, tenho na lembrança.
Minha mãe já sentada para ler ou contar histórias me chamava. Adoramos isso, era tão calmo, mas também divertido. E aconchegados à mãe, tudo tão confortável, com o sol ainda esquentando pela janela, a voz agradável dela lendo, lendo, lendo..... e o primeiro que cochilava era meu irmãozinho, eu o seguia e o pai tinha de nos carregar para cama.
O pai estava muito apaixonado, sempre elogiando:
_ “Como se fez nossa mãe hoje de novo tão bonita?"
Quando ela usava batom, e nem precisava! E ela ria feliz. Ele a abraçava e eles se viravam e dançavam. Nós crianças ficávamos observando este carinho, rindo com eles pulando ao redor deles.
Nosso pai sempre estava em casa e perto de nós. Assim tínhamos a oportunidade de estar junto com ele, quando queríamos. Nosso pai tinha um humor amável, era sempre divertido e alegre. Eu gostava muito de acompanha-lo, seja na horta plantando milho, fazendo passeios nos campos ou visitando os viveiros dos peixes. Dele aprendi as regras sobre vida diária, resolver quando tem de resolver, amar e respeitar a natureza, e muito mais.
Nós estávamos sempre em conversa.- De vez em quando à tarde, depois de um dia cheio de boas impressões, brincadeiras, trabalhos e acontecimentos, vinham as voltas lindas em redor da casa. Eu já em vestido de noite, na mão de papai, o concerto dos grilos e sapos nos acompanhando, o caminho iluminado pelos vagalumes, de vez em quando a Dona Lua, mágica e interessante aparecia.
Mas, a coroação era olhar para cima descobrir a Via Láctea com o Cruzeiro do Sul. E enfim o perfume intensivo da terra orvalhada em concorrência com o perfume sedutor das diversas flores da noite arrendondando todo este espetáculo brilhante. Não é assim que temos de nos sentir maravilhosamente e cair lentamente feliz nos sonhos?
Carregada pelo pai para casa, talvez eu já quase dormindo, enrolada neste momento mágico, antes de cair finalmente nos sonhos doces de crianças. Onde existe semelhantes? Somente no paraíso! Para Levantar no próximo dia ansiosa e curiosa: O que traz o novo dia?
Casa da família dos gansos e tatú assado......
Depois do café de manha, primeiro dar aos canarinhos em frente da entrada da cozinha os restos dos pãezinhos, ou a delícia de milho pouco moído. Eram criaturinhas delicadas em branco, amarelo, verde claro... uma turma colorida pastel já procurando, picando e esperando o que ia ser espalhado. Pronto! Agora vamos visitar os gansos e os patos.
Meu pai construiu uma casa de madeira para eles, semelhante à nossa casa. Eu não só ia lá para alimentar aqueles meus amigos, sempre levando um papo, mas gostava também de brincar na casa deles.
Até ali eu tinha um pouco de inveja, pois queria demais de ter também a minha própria casinha para mim e minhas bonecas.
Entretanto, lá dentro no escuro aquele cheirinho de gansos, um pouco "mofoso", um pouco úmido quente.(Este cheirinho eu não esqueço) .
__Não, agora vou, Dona Ganso, bom dia, até amanha!...
Maria, nossa ajudante, me chamava para fazer um passeio com ela na aldeia dos seus parentes. Várias vezes já estive lá na aldeia dos pretos. Com certeza não era muito longe. Ficava numa uma baixada. De lá de cima no caminho já podíamos olhar para baixo e ver as cabanas simples de barro. No quintal todos juntos: as crianças com as barrigas grandes, cachorros, galinhas, porcos, os velhos, os doentes. Era uma comunidade bem colorida. Eram muito pobres, alguns doente, epilépticos(Eu me lembro de ataques da doença. Coitados!) Mas que gente boazinha e hospitaleira!... Nunca sai de lá sem que me ofereceram alguma coisa simples para comer, e como era gostoso o almoço deles!... Inesquecível e impressionante para mim foi uma vez o feijão preto com arroz apresentado com tatú assado. Já provaram alguma vez? Vale a pena. Coitado do tatú, ele vai ter de de correr agora, porque é tão gostoso. Mas, quando me ofereceram “bundinhas”de formigas grandes e fritas, recusei agradecendo.
Hotel Fonte Marimbeiro.
Fiz também outros passeios com Maria. Nós gostávamos demais de ir lá em cima ao Hotel Fonte Marimbeiro. Meus pais também gostavam muito de passear lá em cima. O jardim com os terraço tinha algo mágico e convidativo.
Este Hotel, no passado deve ter sido muito rico e bem visitado, já naquela época já estava abandonado.
Os passeios com Maria tinham um pouco de aventura. Talvez fosse ela muito curiosa, com pouco mais coragem e sem a vergonha de fazer aquilo.
Não sei como entramos lá. Ela me levava pelos corredores, olhando os quartos vazios me contando histórias curiosas dos hóspedes passados. Eu ficava corajosa somente porque estava atrás dela. Eu tinha respeito por aquele silêncio que servia como uma gaveta secreta para os acontecimentos antigos, pelo menos na nossa fantasia, onde as paredes, as varandas sempre suspiravam algo.
Desta vez este passeio valeu a pena! Que surpresa, que coisa interessante! Lá em baixo, atrás do murrozinho cercando o terreno, atrás das canas da índia, ficavam os gerânios vermelhos, os capitães imponentes e maravilhosos, um mar de cores.
Lá achamos uma porção de vestidos lindos, de veludo e seda, coloridos como as canas, e sapatos de couro veludo, azul como o céu e vermelhos, de saltos bem altos.
Maria pulou de alegria e, com certeza, também as amigas e irmãs da aldeia dela pela surpresa dos presentes tão preciosos. E eu nunca esqueci esse acontecimento.
– Que hóspedes ou do pessoal que arrumavam os quartos devem ter jogado tanta roupa de gala fora?...
Outras visitas e encontros lá em cima no Hotel Marimbeiro, que talvez hospedava somente algumas partes do hotel de vez em quando? Pois geralmente estava lá tudo abandonado.
De vez em quando, encontros nos domingos, com pessoas muito chique de Cambuquira, com turistas de Rio ou outros lugares, uma sociedade muito alegre e cheia de ideias divertidas.
Certa vez, a piscina cheia de água,naquela tarde sem sol com nuvens cinzas, todos estavam ao redor. Eu me lembro que também o Dr. Vincente Urti estava lá nessa época.
Um casal jovem, muito orgulhosos e felizes com o bebê deles queriam mostrar que ele podia nadar.( Hoje sei que é possível mesmo). Eu me assustei quando (coitado do bebe!) jogaram mesmo a criancinha na água.E, e imaginem! ....Ele nadava. Que Sensação! Todos aplaudiram e a festa pode continuar.
No próximo dia choveu muito com granizo, bastante mesmo! Elas tinham o tamanho quase de limões. O prejuízo:coitados dos tomates e outros legumes por causa desse granizo. Com certeza, não foi divertido, mas nós crianças achávamos essas bolinhas de gelo uma maravilha. Principalmente Maria gostou muito. Juntou latas grandes e encheu com este gelo. O pessoal da aldeia veio para buscar. Aquilo era uma oportunidade de encher a “geladeira” deles.
Maria era uma preta gorda e muito alegre e se apaixonou em um rapaz. Ela se tornou muito vaidosa e começou beber vinagre para ficar mais magrinha e bonita. Como dizia e desejava. Mas, coitada!. Isso não foi bom para a sua saúde. O casamento não aconteceu, antes Maria morreu . Ficamos tristes juntos com a família dela.
Nossa nova ajudante de casa era Teresa, uma morena bonita com cabelos ondulados, muito amável. Ela nos ajudou muito em casa e eu ganhei uma nova amiga. Teresa, também era muito criativa, construiu para mim móveis de caixinhas de fósforos, com gavetas, espelhos. Era uma designer de brinquedos. E, eu pulava de alegria.
Meu amigo Chico não quero esquecer nos meus contos. Um camponês mais velho, de uma aldeia direção à Cambuquira. Já era um amigo de casa, sempre ajudando meu pai. E os dois sempre se divertiam. Nós todos gostávamos muito dele.
Os amigos animais de pai. Meu pai e seu trabalho no sítio.
Penso que ele adorava isso tudo, que ele vivia a vida como um hobby, com amor à tudo que a natureza oferece. Seu orgulho e amor especial (depois de mãe e nós, naturalmente) pertencia ao seu cavalo. Talvez seu primeiro em Cambuquira. Não sei. Este cavalo morreu tragicamente num acidente, graças sem levar consigo nosso pai.
Tinha chovido muito naqueles dias, essas chuvas fortes levando com muita água toda terra leve para abaixo dos montes, enchendo rios e regatos. Meu pai andou com seu cavalo para inspecionar o terreno do sítio, passando numa ponte já não muito segura. Aí aconteceu: a ponte, cavalo e homem de repente se acharam na água. O cavalo estava em cima de papai. Mas, por sorte no desastre, nada aconteceu com pai, ele voltou à pé com o susto ainda nos ossos, molhado,triste, só e sem o cavalo, seu amigo.
O próximo companheiro dos campos recebeu o nome Nhangá.,nome dado por meu irmão, que ainda não podia pronunciar direito. Nhangá era uma jóia especial, muito bonito, muito orgulhoso e muito, muito sensível. Principalmente na parte posterior. Somente meu pai devia tratar dele, escovar-lhe andar nele. A ninguém mais era permitido de chegar perto de Nhangá.Seria perigoso!
Acho que também ninguém tinha vontade, tinham “respeito” demais para Nhangá. Mas, uma criança inocente consegui uma sensação. Meu irmão, ainda pequenino, não podendo andar sozinho mas com grande vontade de estar também lá fora com todos os outros, escapou da proteção em casa, e de qualquer maneira como um cachorrinho depressa no quintal, foi parar enfim entre os pés de Nhangá, brincando lá tranquilo com qualquer coisa que achou interessante. Meu pai o achou assim. Que susto para todos. Tudo se resolveu por bem. Com palavras tranquilas meu pai conseguiu tirar o filho daquela situação assustadora.E, fez muitas elogios a Nhangá.
Mais uma experiênca tínhamos com Nhangá. Desta vez fui eu a vítima. Já visitava a escola em Cambuquira. Todos o dias meu pai me levava à escola, seja com Nhangá – eu sentada em frente do pai – ou na charrete. De cavalo era mais divertido.Em um determinado dia quente mesmo, o sol muito animado para queimar, uma cintilação forte no ar, abelhas ou outro inseto com ferrão picou a parte de trás mais delicada de Nhangá. Só poderia ter sido isto. Ele se assustou tanto, pulou como um foguete pelo terreno A cilha arrebentou. E, eu fui a primeira a ser jogada ao chão duro, e finalmente a sela em cima de mim. Pronto! Eu não conseguia respirar. Meu pai muito assustado e preocupado e, eu já pensando no fim. Mas, com calma fui me estabilizando de novo. Meu pai pegou Nhangá que, entretanto, estava parado como se nada tivesse acontecido. Colamos de novo a sela e continuamos o nosso caminho ainda com susto, mas tranquilos para Cambuquira. Meu pai muito mais feliz que eu ainda estava entre dos vivos.Mas eu tive de prometer não contar nada p'rá mãe. E eu pensei, se ela não notou, pois aconteceu em frente da janela da copa, lá em cima no campo antes de chegar à estrada para Cambuquira. E ainda de vez em quando nossa mãe estava na janela para acenar mais uma vez à despedida. Mas desta vez ela não estava e nunca mais falamos sobre esta aventura.
Mais tarde, quando o sítio foi vendido, tinha também Nhangá de trocar seu dono.Tive muita pena com ele.Vi como Nhangá foi puxado e empurrado com muitas batidas por um homem nas ruas de Cambuquira. E mais que Nhangá resistia, com orelhas para trás , olhos grandes, cheios de medo, mais pancadas ele recebia. Esse homem não tinha jeito de tratar esta criatura tão sensível. Que dor, se meu pai tivesse visto. Nunca contei para ele..
Nhangá era especial e tinha um tratamento exclusivo.
Nós tínhamos também outros bichinhos queridos nossos amigos de casa. Cada um tinha para nós um lugar.Aí por exemplo, minha mulinha que eu chamava de Burrinha Rosalinda. E os cachorros: Mimosa, um dackel, Tupí, um deutscher Schäferhund e, com um maior temperamento, o viralata Waldemar.
Waldemar entrou na nossa família como um turbilhão, por Tupi, fazendo amizade com ele. Tupi trouxe a papai essa criatura digna de compaixão,magríssimo, só pele e ossos, cheio de feridas e o pior:cheio de parasitas, pulgas e sarnas.
Meu pai com todo carinho e cautela cuidou cuidou dele. Com "cerosol" limpou as feridas, tirou as parasitas. Dentro de alguns dias, tínhamos um cachorro novo, lindo, loiro. E, o chamamos de Waldemar. E Tupi feliz com o novo amigo, descobrindo novas aventuras ao redor. Só que Waldemar tinha um hobby bem perigoso. Gostava demais de correr ladrando ao lado dos carros, que passavam na estrada.Isso foi num dia sua fatalidade. Coitado!
Serpente não é bom p´ra gente.
E com cores preto, vermelho e branco, bonito mas muito perigoso também.
Os viveiros de carpas com minha mãe, meu pai e Tupi.
Eu estava brincando lá fora, como na maioria das vezes sem sapatos e livre no terreno ao redor da casa, sozinha. Pois, amigas (Eunice, Ieda Wald) estavam bem longe em Cambuquira e meu irmão muito muito pequeno. Mas como já disse, minha fantasia não permitia que eu, por causa disso, ficasse parada. E construía no chão casas com uma porção de quartos, tijolos eram paredes baixas, minhas bonecas as moradoras e a louca de porcelana, com qual já minha mãe tinha brincado, meus utensilhos.
A alimentação para os habitantes deste ambiente só o melhor: folhas das flores, delicias de rosas. Num dia assim brincando,quentinho e gostoso, minha mãe me olhando casualmente pela janela:
"__ o que faz Renate?"
Com horror, ela descobre pertinho de mim uma serpente. Com muito susto chamou meu pai. Naturalmente ele me salvou. Em situações assim ele estava sempre ali, de primeira, cauteloso. E, pronto. O problema estava resolvido. As serpentes descobertas no terreno não tinham chances de viver até à tarde. Uma vez apareceu uma grande e gorda na canalização. Com ajuda dos camponeses meu pai conseguiu tirá-la. Foi uma grande ação, ela não sobreviveu. Á tarde, cerca de 17 horas, ela ainda estava pulando no chão.Mas, escapar de uma serpente, de vez em quando não funciona. Nossa Mimosa, a cachorrinha, teve um encontro assim com resultado cheio de dor. Engordou três vezes mais do que era, cheia de veneno. Não podíamos tocar nela. Meu pai salvador de pé: com uma grande injeção, um soro amarelo. No próximo dia, tínhamos nossa “nova”a “velha” Mimosa.
Esquisito o meu irmão com a linguagem dele chamava Mimosa de "Buie" e ela até aceitava este segundo nome.
Mas uma serpente pegou um dia minha querida "burrinha" Rosalinda. Que pena! Rosalinda não conseguimos se salvar. Deve ter acontecido à noite. Quando meu pai descobriu, já era tarde demais.
O milagre – o nascimento de um bezerro.
Dia quente, o sol deslumbrante. Naquele dia, depois do almoço, não tinha vontade de ir para fora. Preferi ficar na copa,lá era bem fresco, e olhar pela janela para observar se lá fora acontecia qualquer coisa interessante e sonhar um pouco.Então, lá em cima na direção da estrada, o capim parado, nem um ventinho. Descubro uma vaca em posição esquisita. Sem que alguém tivesse me explicado, reconheci que assistia a um acontecimento não diário para mim, "um parir". Foi lindo e para mim aquilo que combinei evidentemente com a natureza. Foi assim sem me assustar, pois o resultado, o bezerro, era uma joia.
O dia dos padeiros
Meu pai era para mim um gênio universal.O que é ele não conseguia? Não só era um guloso que gostava muito de comer, mas adorava também mexer na cozinha e cozinhar as especialidades dele. Uma das especialidades era o dia de produzir pão. E quem estava de pé ali, querendo mexer também? Naturalmente eu. Já disse, que meu pai era muito bonzinho e cheio de paciência com nós as crianças? Pois é, eu já no meio da massa de trigo, fazendo também meus pãezinhos com tanta importância.-Adorava isto como todas crianças naquela idade – . Mas, então lá estava eu exigindo mais massa de pão.Ele já tinha respondido várias vezes que era suficiente o que tinha recebido e basta. Mas, eu bobinha não notei que chegava ao limite exigindo mais e mais. De qualquer maneira o fio de paciência do paizinho querido, o padeiro, acabou e "platsch" eu tinha recebido uma mão grande cheia de massa de trigo na minha face. Que susto!... E, pior, entre todo aquele trigo branco na mesa " plup, plub,plub e vermelho".
__Que é isso? Sangue ????? UUUAAAHHHHH."
Corri para o quarto dos pais, para a penteadeira da mãe e com horror descobri no espelho que tinha perdido um dente. Que desastre! Como chorei. Meu pai também assustado com tanto drama atrás de mim começou a rir muito, muito. Deu-me um abraço e explicou que era normal, não a mão de trigo na face, mas que assim casualmente perdi o meu primeiro dente de leite. Entretanto, eu mais calma, “deixei” que ele contornasse a situação. Ri com ele e o mundo, depois de limpar o rosto e contemplar a minha falha de dente. E, estava de novo tudo ordem. Nunca mais o meu querido pai perdeu o fio de paciência comigo...
E eu estava também já me encaminhando à idade adulta, pois já com esperança nos novos dentes, já me preparando para o início do primeiro ano de escola em Cambuquira. Eu estava bastante ansiosa. Esperava este dia com grande alegria e não fui enganada.
Sobrevivi de novo. Ou, que cão furioso.
Meu pai disse:
"__ Sabes, Renatinha, você já conhece o caminho, não tem vontade de ir hoje buscar o leite sozinha?
Claro que tinha, estava até orgulhosa com tanta honra em caminhar só para buscar com a caneca o leite para nós. Tive várias vezes lá na fazendinha do vizinho, com Maria ou pai buscar leite ou qualquer outra coisa que o fazendeiro vendia. Eu achava muito interessante, a mulher do fazendeiro sempre trabalhadora com a produção de licor de frutas, enchia as garrafas coloridas em verde, amarelo, azul. O licor muito doce, muito "grudento", com cheiro intensamente exótico. O sabão de cinza que os pretos usavam para lavar roupas era também uma especialidade dela. Fora no quintal ela mexia uma mistura de cinza, gordura de animal, com uma colher grande em tachos grandes sobre o fogo, tal qual uma bruxa misturando as tinturas dela.
Pois é, então "catapa, catapa"lá ia eu me encaminhando para a fazendinha. Em frente da casa da fazenda, amarrado num tronco de pau enterrado, um cachorro enorme, bravo, sempre ladrando com raiva, quando gente se aproximava. Não me preocupava. Já conhecia, pois ladrando e amarrado, que poderia aí acontecer? Porém eu tinha respeito, fazendo uma grande volta, para não passar perto dele. Mas, qualquer coisa queria fazer uma prova comigo. O cachorro tão furioso, puxou tanto o tronco que arrebentou o cipó com qual ficava amarrado. Ah meu pai!... Nunca corri e pulei tão depressa como um foguete de lá em direção ao estábulo, que já há muito tempo os porcos haviam abandonado. E pulei de um quartinho para o outro, os murros com certeza não foram muito altos, mas para mim naquela época tinha bastante altura. E, o cão atrás de mim fazendo muito barulho.
E eu para frente, graças que não fiquei dependurada nas plantas de "Kalabasse", abóboras e outras plantas, que existiam por lá,neste ambiente salvador. O fazendeiro, graças, chegou ainda no momento certo me salvando. Coitado do cachorro, esta agressão não lhe deu sorte. O fazendeiro não deixou que ele sobrevivesse à tarde. Eu tinha também um pouco pena do cachorro, que sempre vivia maltratado e magro, e por causa disso agressivo. Pelo menos não prestava para sabão de cinza, pois não tinha gordura nenhuma embaixo da pele.
O Bicho de Pé ou o Saci Pererê.
"__Tem ainda em Cambuquira o bicho do pé?"
Pois eu o conheci ainda muito bem, porque o encontrei várias vezes na minha infância - esse bichinho danado, sem vergonha!.. Entrando nos pézinhos das crianças que gostam de andar sem sapato na grama molhada pelo orvalho, ainda na manhã fresca, depois no terreno empoeirado, sem pensar um minutinho neste bichinho. E aí ele veem sua oportunidade. Resultado controle dos pais na tarde depois da ducha antes de ir dormir – já um ritual, que nós crianças detestávamos. Pois acontecia que pai ou mãe achando o objeto já se prepararam com agulha desinfectada para “operar” a gente pequena. Um horror completo!... Melhor encontrar o Saci Pererê no mato, do que sofrer operação por causa do "B.d.P".
Clique aqui e vá para o próximo capítulo com com os amigos dos meus pais e os anos na casa de Dona Sebastiana. (próxima página)
Capitulo 3 Anão Nariz (Zwerg Nase) e os amigos dos pais.
A amizade de Joana e Gaspar Möller,um casal com muita solidariedade.
Minha mãe adoeceu pela primeira vez e tinha de sair de Cambuquira por pouco tempo. Meu pai a acompanhava. Meu irmão, ainda muito pequeno, com 9 meses, recebeu alojamento na casa de amigos de meus pais. Foi Dona Joana que cuidou dele como uma mãe, com muito carinho.Foi ela que deu o que comer bebê, que trocava fraldas, carregou e cantou para que ele dormisse. Dona Joana, que era anos mais velha do que minha mãe, tinha mesmo uma grande família! Por causa disso, penso que foi muito social e amável em nos ajudar.
Obrigada Dona Joana e Senhor Gaspar!...Lembro-me deles com respeito.
Mais tarde, depois de ter partido de Cambuquira, meu pai falou muito do casal Möller, sempre com muito agradecimento e carinho. “Tante Johanna”(tia Joana) foi para mim também um oásis de segurança(Geborgenheit).Eu, que não ficava tão de perto dela, sentia tão bem quando ela abraçava e falava comigo. Ela foi uma senhora cheia de bondade.
Conforme informou sua neta Nádia, D. Joana faleceu com 92 anos. Isso me comoveu muito, pois tinha visto as fotos dela no “blog” com a sua querida família. Se viva, ela hoje teria 106 anos.
Como me lembro ( tinha aí mais ou menos um ano e meio de idade) fiquei naquela época em casa com Teresa.Mais tarde, em Cambuquira tive diversos encontros com Dona Joana e esposo, quando fui à padaria para comprar pão ou bolinhos. Nunca esqueço quando entrei na padaria com aquele cheiro especial muito gostoso de pasteis frescos. Num canto da padaria existia um mesa de bilhar, sempre bem frequentada; do outro lado, mesas e cadeiras convidando os fregueses a tomar o cafezinho acompanhado deo pastel delicioso e fresco. Atrás do balcão, ficavam os proprietários sempre gentis e amáveis, Dona Joana e Senhor Gaspar.
Wera Wald e Willi Wald.
Lembro-me dos encontros com meus pais também em Cambuquira numa casa muito bonita e “gemütlich” (agradável) de Dona Wera. Estivemos por lá várias vezes, e sempre fomos bem recebidos. Brinquei com Ieda, a filha deles mais ou menos da minha idade. Ela era sempre muito divertida sempre com novas ideias e brincadeiras. Havia dois cachorrinhos (dackel) do casal que nos acompanhavam.O Senhor Willi era um homem divertido. Dona Wera era um pouco mais quieta, muito trabalhadora, com muito engajamento na loja.
Aqui uma foto de uma festinha na casa de Dona Wera e Willi Wald. Primeiro à esquerda meu pai Frederico, seguinte Dona Wera. No lado direito(a segunda)minha mãe Susanna, o seguinte Senhor Willi. Os outros não conheço. Mas, talvez alguém em Cambuquira possa reconhecer.
Na loja de vestuário de Dona Wera estivemos várias vezes. Ieda e eu brincamos na frente da loja, no passeio, enquanto o casal Wera e Willi e meu pai conversavam lá dentro.Gostava desta loja, um ambiente espaçoso, cheio de coisas bonitas e um cheirinho gostoso de roupa nova. Antes de partir para sempre de Cambuquira meu pai ainda comprou diversas roupas na loja para mim que gostei tanto. Que pena, que estava crescendo bem depressa!....
_
_Como vai Ieda? – Tudo bem? Lembra da visita com sua mãe à Alemanha?
Vocês estiveram também em Hamburgo. Aqui um encontro com vocês, minha avó e eu. Perto do porto de Hamburgo no fim dos anos 50.
Dona Ida Willig Guimarães e esposo Manoel José da Silva Guimarães, meus padrinhos.
Dona Ida foi a minha madrinha querida. Gostei muito dela. E, com respeito e admiração, olhei para o casal. Ela e o marido, Senhor Guimarães, moravam em um ambiente imponente. Tudo era lindo e bem trabalhado: Hotel Empresa, para mim como uma casa dos contos de fada. No jardim havia cadeiras grandes e vermelhas,montadas juntas, para se balançar. Adorava a atmosfera deste grande jardim, sombreado, enfeitado com orquídeas. Fui lá sempre bem hospedada. Na sala grande de jantar as com colunas eram em cores pasteis verde e um pouco prateadas. As mesas sempre bem cobertas com linho branco com, os guardanapos dobrados.
O melhor foi sempre aquele cheiro da deliciosa comida: gostava demais do puré de batatas desta cozinha, do café-com-leite tão gostoso!..Lembro-me de uma festa de Natal, uma festividade brilhante, a sala cheia de luz. Minha mãe muito linda, meus pais com alegria nos olhos, Dona Ida e esposo, os donos de casa, muito amáveis, se preocupando com os hóspedes. Entrando na sala grande da entrada via à esquerda a escada para outros andares.
Nunca me esqueço que num momento contemplando o ambiente eu vi com certeza lá subindo, de costas e vestido em vermelho, de botas pretas, o Papai Noel.Sim, vi mesmo!...
1965 ainda tive contato com Dona Ida. Para uns dos meus casamentos aqui na Alemanha necessitava a certidão de batismo. E, ela foi tão gentil e me mandou a certidão. Contou-me também que estava há 6 anos muito sozinha e que sentia muito a falta de seu marido. Esta carta ainda tenho junto com a certidão.
A residência redonda.
- Ainda existe esta casa?
O pai dessa Eunice, muito simpático, eu me lembro bem,era funcionário do Estado em trabalhos de floresta ou semelhante. Sua esposa era muito, muito amável. Era uma casa muito vivida, uma vila divertida, com muitas crianças. Tive várias vezes com meu pai lá.
Alguns anos mais tarde, encontrei uma vez os pais de Eunice em Belo Horizonte. Conversamos um pouco com rapidez, e hoje ainda sinto muito, que não perguntei por Eunice.
__Onde estás Eunice? –Eu te perdi no caminho...
Os amigos sempre achavam motivos e ocasiões para se encontrarem. Para nós crianças o mais interessante era quando os adultos prepararam um encontro com pais e crianças, para ver um filme. Nós, sempre estávamos ansiosos.
A maior lembrança que tenho é do filme Anão Nariz( Zwerg Nase) divertido e palpitante para nós os mais pequenos.
O filme era em preto/branco, falado em alemão,e sobre um crime. Foi mostrado em um lugar em Cambuquira, numa sala grande. Mas finalmente, penso que não só as crianças se divertiam – os adultos também gostavam desses dias de filme.
Waldemar, um amigo não só dos pais,mas de todos!
Aqui, uma foto de nós crianças sentadas na grama em frente da nossa casa. Um jovem, que nos visitava de vez em quando, abraçando Waldemar.. Lembro-me, que os dois tinham uma grande amizade. Cada vez que o jovem chegava à nossa casa, era um espetáculo, festejando o novo encontro – Waldemar e o jovem. Quem é? .- Não sei mais. Talvez alguém em Cambuquira o reconhece?
Visita dos avós, pais de meu pai, da Alemanha.
Coitadinho do canarinho!...
1949/50 Aconteceu uma grande surpresa e alegria para meu pai! Ele orgulhoso de apresentar aos seus pais a sua família jovem e nosso sítio, pois os avós fizeram uma viajem longa de navio, do outro lado do oceano atlântico para nos visitar. Foi uma ocasião cheia de encontros, boas impressões e acontecimentos.
Todos amigos de nossos pais ao redor, passeios para aqui, para lá. Eu sempre junto dos adultos, eu tinha a felicidade de falar duas línguas e traduzir assim entre alemão e português para os Cambuquirenses e os avós. Isto me fazia bem orgulhosa . Eu gostava deste serviço.Meus avós gozaram muito este tempo por receber tanta gentileza dos cambuquirenses e de conhecer tantas coisas novas: a comida diferente, os legumes, as frutas exóticas, o clima ...Meu avo se sentia bem na nossa casa. Já mais velho, tinha o costume de vez em quando de se descansar na sala. Sentava-se na poltrona exclusiva dele para ler, e breve já fazendo uma soneca.
Assim ficou uma vez depois do almoço gostoso com feijão, arroz, legumes, bife...um pequeno vinho tinto, sobremesa, ele bem satisfeito em direção à poltrona, já com o livro na mão. E tão ocupado com si mesmo, sentou-se e aí aconteceu: coitado do nosso canarinho doméstico, que voava livre entre casa e o quintal e não tinha medo de nada e ninguém. Coitadinho, também não sobreviveu à tarde!... Meus avós, amigos, meus pais e nós crianças, eu já com a uniforme da escola Tiradentes de Dona Sebastiana.Mais tarde, na Alemanha, minha avó em conversa ainda entusiasmada deste tempo bonito em Cambuquira com as pessoas gentis da região.Mas já no horizonte o fim deste nosso idílio familiar. Depois da partida dos avós não passou muito tempo, e nossa família teve de enfrentar uma vida totalmente diferente. Tudo mudou, tudo se virou. Continue lendo.... (clique aqui!) ou vá para próxima página...
Capitulo 4 Minha vida em Cambuquira
Cada lugar é diferente, partimos agora de Marimbeiro. Belo refúgio tranquilo, a casa de Dona Sebastiana Ferreira. Uma rosa para Dona Sebastiana (Na foto ao lado: Dona Sebastiana, Ieda e Renate) Quando a doença de minha mãe voltou, e desta vez mais grave ainda, muito mais grave. Eu tinha que ficar longe de minha casa e de meu pai. Como ele não sabia o que fazer com a gente, nós crianças, ele conversou com D.Sebastiana Ferreira e a esse anjo nos confiou. Melhor que ela, não podia existir.Ela foi que nos ajudou a caminhar sobre o recife difícil na nossa infância. Meu pai pode confiar totalmente nela que nos deu em pensão. Sempre relembro com grande agradecimento, respeito e carinho dessa senhora. Pensando nela fico ocupada com uma porção de sentimentos.
Eu me lembro emocionadamente dela da mesma forma como me lembro de minha mãe. Isso é talvez um pouco curioso.Mas, claro e racionalmente deve ser explicado assim: tudo o que minha mae não podia me dar, nos meus anos decisivos de desenvolvimento, eu recebí de Dona Sebastiana. Nesta fase da minha vida recebí o que precisava necessariamente: instruções, apoio e seguranca e estrutura. Sem isso, naquela época eu ,com certeza, não seria o que sou hoje. Assim então, foram esses 3 anos sob a custódia de D. Sebastiana importante para minha vida mais tarde. Se alguem hoje me alogia e se pergunta como eu consigo resolver alguns problemas, isso eu agradeco à Dona Sebastiana, que me concedeu este andaime. Estive várias vezes na vida com as costas na parede, mas conseguí me manter e enfrentar. Isso era ligado à forca, que se livrava em mim, quando nestes momentos pensava, o que iria Dona Sebastiana dizer naqueles momentos. E, eu ouvi sua voz que me dizia:
__ ”Renate, você é para você o mais importante no mundo.Você tem de se manter por você e nunca deve se deixar vencer. Não desista, não corra.. Enfrente seus problemas e vai vencer. Pense nisso! Se você não faz nada por você sozinha, como fará para aqueles que estão confiando em você.”
Essa força que ela me deu, sinto agora ao escrever isso.
Muito obrigada, querida Dona Sebastiana!...
Eu posso sonhar tão profundamente, que consigo trocar os tempos no sonho de um tempo de agora pelo tempo passado. E isso é tao forte, que me movo como se fosse real. Estou sobretudo visitando a casa de Dona Sebastiana e vejo intensamente o que agora tento de narrar.
A casa como país das maravilhas.
Se me lembro bem, essa casa era construída no estilo da época colonial de Portugal. Ela era comprida, o telhado antigo, pela influência atmosférica, não era novo, pois já era escuro.A frente da casa: as paredes eram brancas, as janelas alongadas, 6 ou 7 , e a porta de entrada... Na frente existia uma parte de um andar ao nível da rua, na parte de trás 2 andares com um piso mais baixo e uma parte com porão porque a casa foi construída numa baixada, com janelas para o quintal. O terreno do quintal começava atrás da casa.
A rua tinha um passeio mais alto do que a casa. Em frente um jardim com plantação de “Buchsbaum” (buxos) e uma planta espinhosa, com folhas pequenas forma de coração, as florzinhas eram vermelhas, essas plantas quando machucadas choravam um líquido branco como leite. Quando brincavámos neste jardim eramos acompanhado de um cheiro mofoso porque o murro para a rua em cima já não era tão novo e também, por influência da chuva, úmido. E, esse murro se achava também na sombra. Ao lado esquerdo da casa uma casa menor, a escolinha de Dona Sebastiana. Esta casinha ficava enclinada num murro, que cercava o terreno. Em frente dessa casinha existia uma linda e grande árvore linda de mangas, assombreando tão gostosamente nos dias quentes. A árvore ficava bem pertinho do murro, e do outro lado o murro de um hotel.
A casa de Dona Sebastiana era diferente da nossa casa do sítio. O ambiente arranjado e instalado com muita graça,carinho e tudo bem comfortável. A sala de entrada, onde se recebiam as visitas, era mobiliada com poltronas cobertas de tecido florido. Desta sala, entrávamos numa sala grande onde toda a vida de casa se acontecia: almoços, jantas, festas de Natal com a árvore de cipreste bem enfeitada e grande, os trabalhos de escola com alunos, e...,e....Desta sala partiam as entradas para os outros quartos e corredor. A cozinha, com a porta para fora, de onde a gente tinha que usar uma escada comprida, para chegar ao quintal. O banheiro era espacoso e com todo conforto. As paredes e chão com azulejos brancos. O banheiro especialmente fresco era a pousada querida do cachorro – o Lulu branco – da família. Esse lulu ocupava a maior parte do banheiro para si e sempre rosnando quando a gente queria entrar. Isto era no início um problema para mim, mas venci esse meu medo, deixando Lulu para lá. E ele tambem só rosnava e não mordia.
Com todas aquelas pessoas era uma casa cheia de vida divertida. Cada dia entraram ideias novas e boas impressões para mim. Eu pegava o que era de novo para mim ambiciosamente, com alegria e curiosidade. Essa vida nessa casa foi como ”país das maravilhas”.
Ainda me vejo entre os habitantes deste lar cheio de alegria e de risadas, sentada à mesa: ao redor Dona Sebastiana, Georgina, uma filha, Senhor Kalil, Isabel, uma neta, meu irmão e eu.Eu me sentia tão bem ali naquele ambiente sempre alegre.
_Essa casa ainda existe?
Os habitantes desta casa.
Dona Sebastiana era uma senhora resoluta com talvez cerca.1,75 m de estatura, um pouco corpulenta, e isto ficava muito bem à ela, ela era uma grande personalidade. Sempre com vestidos chiques, com bom tratamento dos cabelos escuros e com suas mãos e unhas bonitas, sempre perfeitas pintadas.De fisionomia muito alegre, feição positiva, nunca ficava zangada. Seus olhos eram cheios de vida, brilhando como estrelas e sempre sorrindo. Ela era uma mulher muito bondosa e sábia. Ela era bem emancipada e independente, o que naquela época não era comum, seja em qualquer canto do mundo.
Ela era a Dona de casa, muito amada e respeitada. Ela era também a diretora da escola pública e tinha também uma escola privada com o nome de Externato Tiradentes. Nessa escola passei o meus primeiros 3 anos aprendendo. A escolinha era em um prédio anexo à casa principal, no mesmo terreno. Só precisavamos atravessar o quintal. Eram duas professoras bonitas que davam as aulas. Uma loira de cabelos ondolados, a outra de cabelo preto e curto, semelhante à “Branca de Neve e os sete anões”. Esta professora tinha também o dom de cantar muito bem e nas festas locais apresentava sempre uma canção.Na maioria das vezes, ela preferia uma canção sobre saudade. Ela era minha professora . Gostava muito dela, tão bonita, tão talentosa e tão gentil. As suas aulas eram sempre interessantes. E, as primeiras palavras que aprendi a escrever foram passarinho e maçã. Depois das aulas de manhã e de um almoco gostoso (sempre gostoso!) com calma, Dona Sebastiana me chamava e íamos para a ecola pública, onde ela era a diretora.
No escritório dessa escola, D. Sebastiana ficava sentada à minha frente resolvendo os trabalhos dela e eu resolvendo os meus de escola para o próximo dia. Trabalhávamos juntas, tudo seriamente. Dona Sebastiana me respeitava e me ajudava quando eu não sabia algo. Ali, eu estava aprendendo com ela a ortografia e grata por tanta atenção.De vez em quando, aparecia Isabel, sua a neta,para fazermos os exercícios de escola. Isabel e eu éramos muito amigas e da mesma idade. Nós brincamos muito com outras meninas. Mas só me lembro de Isabel, Eunice e Ieda.
"__Isabel, como vai, tudo bem? Lembra de mim? Boas saudacões. Não me esquecí de você, de seus pais, Ricarda e Ricardo e seus irmãos. "
Enfim tocou o sinal para pausa. Os alunos, na maioria pobre e negros já esperavam no pátio da escola os rituais diários. Assim eram tratadas as feridas, de vez em quando com aparencia muito grave mesmo, por D. Sebastiana. Também a comida, o mingau da tarde, era oferecido e eu gostava muito de encher os pratos dos alunos que esperavam em fila.
As atividades da escola eram várias. Nas festas de primavera, meninas e mininos animados por D. Sebastiana apresentavam peças de teatro. Uma vez fomos vestidos de legumes, flores, vagalumes, escaravelhos, borboletas, etc. etc. para um cenário, que foi apresentado à um público. talvez aos pais e outros parentes.
Na sala, em casa, tínhamos muitos encontros de atividades criativas com alunos. Por exemplo, fazer uma revista ou um boletim sobre higiene, ou sobre a história de Tiradentes. Todos trabalhavam sériamente. Georgina sempre estava conosco. Enquanto isso, Dolores fazia um bolo para nos restabelecer.
Dona Sebastiana tinha uma postura muito humana na cidada. Assim eu me lembro de muitos engajamentos dela na igreja, sempre com muita fé e amor, ajudando os padres nos equipamentos deles quando chegaram novatos em Cambuquira e precisavam roupa de casa, etc. A ajuda aos pobres era sua prioridade. Junto com a igreja foram feito muitas obras de caridade.
Um casal de Cambuquira, na direção do Marimbeiro era muito pobre e morava em uma cabana de barro, a mulher era doente com TBC – (Tuberculose) e o marido ia buscar todos os dias uma marmita com comida para eles.
Dolores, a pérola da casa D. Sebastiana, preparava todos os dias o almoço para tantas pessoas.
Sempre tínhamos visitas na mesa de almoço.
Um casal vinha diáriamente como hóspedes de uma pensão. O senhor era muito divertido e gostava do meu irmão. "Fazendo brincadeiras com ele, dizia que hoje iria comer toda a sobremesa sózinho, pois gostava demais de doce abobora com côco, dizendo assim puxava a tigela com a sobremesa para sua frente, já colocando a colher para comer. E meu irmão, assustado, comecou a chorar tanto, porque adorava tambem essa saborosa sobremesa de Dolores. E imaginando que não receberia nada da abóbora com côco. Que coisa terrível!...
Nos dias festivos da igreja, era missão da comunidade cristã fazer festas beneficentes em um bairro especial, que para mim parecia ser a aldeia dos velhos escravos.
As mulheres da comunidade de Cambuquira faziam rendas, bordados, costuravam, faziam bolos, etc. etc. Isso tudo era vendido em um dia de festa de igreja lá da aldeia. Era vendido á Cambuquirenses, que iam lá para festejar o dia. O valor apurado nessas festinhas eram utilizados para caridade das famílias pobres com problemas.
Na Páscoa acontecia tambem, que nós os jovens da escola, depois da comunhão, da missa de manhã, subíamos em procissão para essa aldeia para lhes levar os presentes, como comida ou roupa. Lá existia casinhas amarelas, e os negros, já bem velhos, sentados em frente das casinhas deles, gozando o solzinho da manhã, se alegravam muito quando nós chegávamos.Tudo isso era organizado também por Dona Sebastiana. Eu me lembro ainda muito bem de alguns rostos daqueles velhos negros. Esquisito! Não esqueço de maneira nenhuma: era um velho preto, gordo, com rosto muito grosso, lábios muito grossos, cabelos brancos, e muito baozinho!.Quem hoje pode contar algo? Eu achava tudo aquilo muito impressionante, que entrava no coracao mesmo. Nunca mais na minha vida tive uma situação semelhante. E, porque também sabíamos das histórias dos escravos, que eram muito triste. E, que histórias teriam essas pessoas particularmente carregando consigo.? – Aquela época era para mim uma coisa exclusiva:"Conhecer essas pessoas, que ainda viveram no tempo da escravidão."
Entretanto, nada fica parado, tudo passou, tudo mudou... Como tudo era bem organizado e planejado tinha também tudo sua ordem nas coisas de fé: como confessar, comunhão, as missas nos domingos, isto tudo pertencia à aquela mundo. Eu já tinha minhas dificuldades com as confissões. O que é que uma menina de 7 anos vai confessar de pecados? Sem fantasia não era possível!...
A
s viajens com Dona Sebastiana eram para mim de um lado de tortura, por que não aguentava viajar no ônibus. Por causa disso, o condutor tinha sempre de parar para no caminho entre Campanhas ou outras cidades e Cambuquira. Eu não conseguia segurar meu café da manha ou o almoço, cada vez a mesma “surpresa”. Por causa disso, já sentava na frente perto da porta, para mais rápido então escapar para fora quando necessário.De outro lado, foi muito interessante e divertido. Víamos no caminho tanta gente, observávamos tantas situações. A paisagem desta regiao era linda. Nas paradas esperavamos de vez em quando um bom tempo até ser colhida do condutor, para continuar a viajem para outro lugar. E eu com sono de viagem adormecia nos bracos de Dona Sebatiana. Estivemos em Campanha, visitamos lá um colégio com madres,as professoras. Estivemos na igreja da escola, um lugar para se retirar e parar, nao esqueci aquele lugar calmo e lindo. Dona Sebastiana tinha os parentes espalhados fora de cambuquira, ela sempre me levou quando ia visitá-los. Uma irmã dela tinha alguns filhos jovens, nós brincávamos lá fora no quintal, depois do almoco, “arroz com fricassé”. Tantas coisas que aí me lembro, seria demais contar tudo aqui. – Gostei muito dessas viagens!...
Georgina, as tampas de latas com pinturas da região e o casamento.
Georgina, filha de Dona Sebastiana, bem mais velha do que eu. Era uma jovem bonita, cabelos encaracolados, muito alegre e criativa e apaixonada. Os encontros com muitas amigas, contando as historinhas delas e sobre todo o mundo e rindo, rindo. Eu admirava esse terreno novo para mim.E gostava de ficar perto delas.
Georgina era uma mestra em pintar e desenhar. Nem uma tampa de lata escapava das suas mãos. Todas tinham de ser pintadas com cores a óleo com bonitas gravuras da região Tudo tão perfeito!E,finalmente decoradas com renda. Nunca mais ví coisas tão bonitinhas e feitas com tanta dedicação e amor.
As amigas de Georgina: De frente da casa de Dona Sebastiana morava uma moça bonita de cabelo preto numa casa amarela. Vis-àví (de frente) em diagonal morava uma loira também bonita, com cabelos longos, sempre muito divertida. Era Alicéia Maia, filha de Aristidis Maia.
O pai de Alicéia produzia os melhores doces de leite, que já comí na minha vida. Eram tão saborosos!...
__ Alicéia, lembra-se de mim? –Boas Saudações para voce!
Muito divertido este tempo. Georgina começou a namorar um filho de um fazendeiro, bonito e simpático. Noivaram-se. Era tempo de começar com o enxoval. Georgina não teve mais tempo para pintar.E, costurar, bordar e escolher coisas bonitas para o seu inventário de casamento era o momento oacontecimensto mais importante e mais interessante. Cheia de orgulho, ela se sentia com o presente do noivo: colar e pulseira de prata com aguamarinha. Lembro-me bem, foi lindo e muito precioso.
Depois do casamento visitei Georgina e marido na casa deles numa aldeia perto da fazenda(Não sei mais onde).
__ “Mas, Georgina, como é isso, sempre se beijando? É bom mesmo? Entao quero também um beijo de seu marido. ”
Riram tanto, e acho que não pararam, ainda hoje. Foi muito bonito lá. Georginaestava feliz e alegre. Um dia visitamos a fazenda,um lugar como nos contos, cheia de gente, todos amáveis, trabalhadores e sempre prontos para fazer brincadeiras. O regato nesta fazenda era lugar querido dos jovens. As plantas eram longas, como os cabelos das ninfas. A água corrente e clara e o leito do regato cheio de pedrinhas brilhando no sol convidava para tomar um banho. A meninada da fazenda pulava lá dentro gozando este refresco. Eu, que tinha medo de cobras, não entrei no regato. À tarde era encontro numa cozinha grande, onde todos se juntaram para jantar e contar as histórias de fazenda. Penso que Georgina casou dentro de uma família de fazendeiros muito simpáticos.
Uma tarde Georgina levou-me para um cinema – vimos um filme com Ronald Reagan: “Sein letzter Verrat” (The last outpost) de 1951 – ou em portugues: “ Sua última traição“.Voltamos de trem à noite de volta para a casa dela. Outra vez, estivemos no circo. Foi apresentada uma cena muito colorida e trágica. O público gostou muito. Mais ou menos lembro-me ainda da cena. Penso que foi a história do cangaceiro. Foi impressionante mesmo!...
“__Georgina, onde estas? Espero que estás passando bem e mando-lhe boas saudações e um abraço."
__Georgina, se sua mãe ainda vive, tenho um pedido para você: por favor oferecer Dona Sebastiana uma rosa de mim. Se ela não vive mais, seria possível colocar uma rosa na sepultura? Eu me lembro com muito carinho de sua mãe.”
Kalil
Senhor Kalil, todos chamaram ele simplesmente de Kalil. Ele era um habitante da casa de Dona Sebastiana. Ele era gordinho, cheio de humor fazendo brincadeiras, rindo com a gente, contando histórias. Sério? Não, nunca , sempre divertido era o meu “salvador”. Viajar no ônibus já contei.
Mas, as manhãs de domingo tinham para mim tambem seus momentos fatigantes. Sem café de manha, por causa da hóstia, íamos à missa na igreja Matriz de S. Sebastiao. Bem,não era tão longe da nossa casa. Regularmente nestas manhas, de receber as hóstias,eu passava mal. Levantar, ajoelhar, sentar-se, ajoelhar, levantar, cantar, rezar.....toda esses procedimentos sem café da manha e com barriguinha vázia –“ mein Gott” – quase caí dos sapatos. E Kalil, perto de mim em voz baixa :
__”oi, Renatinha, tão pálida, não está bem?” Eu afirmando que sim. E, ele: __” psst!. Então, depressa para casa!”
Várias vezes me salvou e eu sem hóstia...... Sozinha, com Dona Sebastiana eu não tinha chances para escapar. Um pouco lá fora, o ar fresco, eu já me sentia melhor e eu corria para casa, sem dor na consciência.Mais tarde em casa, Dona Sebastiana nada disse, e eu ficava aliviada.
Mas, para mim, que perspectiva tinha quando chegar em casa? Lá já esperava café com leite quentinho, paozinho com manteiga, ou talvez uma coisa saborosa, preparada por Dolores – arroz - doce, ou pão de Petrópolis com presunto? Aí nunca fui enganada.
Uma irmã de Kalil, casada, morava lá à esquerda, mais para baixo, perto da saída da cidade, na direção do Marimbeiro. Era uma casa grande cheia de habitantes. Talvez moravam lá também: as irmãs de Kalil ou os pais e muitas criancas. Lá, eu brinquei várias vezes com elas.
Jovem perdido.
Kalil tinha um irmão mais jovem, talvez 27 anos ou mais ou menos. A este moço, vou lhe dar o nome de “Jovem” porque não me lembro do nome... Eu o vi várias vezes na padaria do Senhor Gaspar Möller, perto da mesa de bilhar, com outras pessoas, todas ocupadas com o jogo. Um dia ele adoeceu gravemente. E, Dona Sebastiana, competente, rigorosa e com responsabilidade, organizou a hospedagem do Jovem na casa dela. Eu tive que mudar do meu quarto para um outro. Dolores depressa a arrumar a cama. 2 ou três dias cuidamos dele, todos com muito carinho e preocupados. O médico esteve lá. Principalmente Dolores ficava sempre alerta:
_ “ precisamos de água fresca, vamos fazer chá de ervas”!
E, isso ou aquilo. Mas tudo em vão. Jovem sofreu tanto, passando tão mal, nada adiantou. E, ele faleceu. Escutei que deveria ter sido intoxicação por ingestão de carne de salsicha. Ah, que susto, que tragéria, como são essas coisas tão tristes da vida. Jovem foi vestido e preparado para ser amortalhado na sala. Eu, ainda hoje vejo Jovem, tão lindo, com olhos profundamente fechados, muito pálido, quase amarelo e as velas da igreja, além de um lenço branco enrolado envolta da cabeca e amarrado.
A casa enlutada estava aberta para os parentes e amigos condoídos, era a última visita, para se despedir para sempre do “Jovem”.Meu Deus! Ele faleceu na minha cama. Depois de tudo ela estava de novo à minha disposição. Eu me lembro que ainda dias ou semanas, eu tinha dificuldades com essa situação. À tarde, já escuro, quando era tempo de ir para cama, os adultos estavam ainda sentados na sala conversando ou lendo e eu tinha de passar pelo corredor, e lá atrás à esquerda era meu quarto. Para ligar a luz eu tinha de atravessar o quarto, no escuro, e sobre meu travesseiro estava o interruptor dependurado na parede. Era um daqueles antigos pretos com botaozinho para pressar. No fundo, penso que não me incomodou tanto que Jovem tivesse morrido na minha cama, ou no quarto. Ou sim? Mas, ficava aliviada, nos primeiros dias, quando Dolores entrava, porque dormia no mesmo quarto comigo. Isso já me confortava.
Dolores e suas dores – uma coroa para ela.
Já falei tanto de Dolores, agora é tempo de apresentá-la. Dolores, uma "indiana" tão trabalhadora, muito modesta, com coração grande, a pérola, o anjo de casa. Ela era responsável por todos os trabalhos de casa: a roupa, os quartos, o quintal, a limpeza, a ordem de tudo, o bem estar de todos. Ela mesma era absolutamente altruísta. Ela era muito respeitada e amada por todos nós. Os quartos de domir, as camas estavam sempre com linho branquinho, com cheiro fresco, as cobertas de dia bordadas, ou em obras feita de retalhos (patchwork) arrumadas sobre as camas, bonitas cortinas de cambraia bordadas, a sala de visita com as poltronas de motivos floraisl, o banheiro, tudo era limpinho e cuidado pelas mãos de Dolores.
Quando é que ela fez isto tudo?
Limpar com música - Dominóo, Dominó ou tico-tico.
Nos sábados tínhamos todos nossas obrigacoes de ajudar Dolores. Era dia de limpar a casa metódicamente. Ela ia na frente e nós ajudando, limpando, encerando o chão com cera, enfim o parquete tinha que brilhar. Nós limpávamos os móveis com atenção, por causa dos ovos das baratas. A música daquela época nos acompanhava e começávamos este dia cedinho. Meio meio dia estavamos prontos. Então vinha a recompensa grandiosa pelo nosso esforço:Sua comida era magnífica!... Isso era o talento especial de Dolores:cozinhar com os melhores sabores. Conhecí muitas pessoas, que cozinharam bem, mas Dolores é para mim a rainha de todas e todos cozinheiras/os. Ela merece uma coroa.
O reino de Dolores – a cozinha onde aconteciam os encontros de todos.
Lá estávamos, os adultos contando histórias de fazendas, as crianças de ouvido grande. Dolores perto do fogão antigo mexendo no fogo, colocando troncos de pau e torrandoo café. Tudo erai feito em casa à mão. O café tinha de ser torrado em panelas de ferro, penduradas sobre o fogo e tinha de ser sempre mexido para não se queimar. Depois então era moido. Não existe café tao saboroso!...
Fechando os olhos vejo, escuto, e sinto o cheiro o que acontecia nesta casa, o cheiro de café torrado pela casa. Além disso, sinto ainda o ruído das palhas de milho, quando nós nos sentávamos no quintal ao redor de um monte de espigas maduros e prontos para ser descacadas, esse nosso trabalho, como os montes de feijão, que também tinham de ser descascados, as tarefas do reino de Dolores.
Vivíamos sempre muito alegres nessa comunidade um por todos, e todos por cada um.
Cheiro de canela e.....nenhum resto...
Nos domingos andava tudo um pouco mais calmo, Dolores já tinha preparado (só para contar algumas especialidades, não todas!) comida no Sábado, para no Domingo poder descansar um pouco. Lá na mesa já estava o frango assado, a empanada, as cochinhas fritas de carne de galinha com trigo e ervas picantes, os pasteis com carne moída, bolo de chuchu, pãezinhos ou bolinhos de mandioca, mandioca frita, batata doce frita, curau de milho verde com canela em pó, queijo minas com goiabada, doce de abobora com côco, doce de cidra com côco, doce de fígo verde, pudim de queijo à mineira, bolo de farinha de milho e o café feito por Dolores. Do outro lado havia uma tigela cheia de jaboticabas, laranjas, lima, abacates, mangas, goiabas...
E o que fazer com dos restos? – Que restos? Nao restava nada.
Dolores, nossa rainha, que pena, tinha dias de muitas dores, um reumatismo “demônio mancador.” Ela sofria muito nesses dias, ficando na cama e nós tinhamos a oportunidade de amimá-la e dar em troca o de bom o que ela sempre nos dava.
“__Obrigada Dolores, não te esqueço!...
Em resumo:
Cambuquira naquela época era um mundo pequeno, tudo bem claro e tranquilo. Meus passeios eram ao parque, igreja, àrvore de mangas, o porão e os livros. Os meus passeios mais curtos eram ao redor da casa.
Interessante: de um lado da casa de Dona Sebastiana existia um Hotel bem frequentado, principalmentede por turistas jovens, de manha até à tarde ocupados com ping pong. Passando lá no passeio, podia se dar uma olhadinha para os hóspedes sentados no pequeno parque, os jovens juntos conversando e rindo.
A superstição nas vizinhanças.
A outra casa vizinha era grande e de cor cinza claro. As janelas ficavam sempre cerradas. A dona de casa? Acho que nunca ví. Para sua vizinhanca ela tinha uma aura de segredo. Era uma casa de uns tais batistas, com encontros estranhos para vizinhos do redor que achavam engracado por que eles não tomavam hóstia, mas copinhos de vinho com pão. Esse jeito de celebrar o credo dos batistas, naquele tempo, era para algumas pessoas mais estranho do que as “macumbas”da noite.
Uma amiga e vizinha linda, alta, bem crescida, vestida de verde, com enfeitos amarelos, orange até vermelho era a grande mangueira no quintal ao lado da casa de D. Sebastiana.Ela era um refúgio para criancas se esconderem lá em cima entre as folhas. Nas tardes, depois do almoço, cozinha já arrumada, horinha para todos fazer uma sesta. Para mim, era a horinha da festa.
Armada com uma faquinha de legumes e um saleiro eu subia para os andares mais altos da árvore, o murro pertinho da àrvore me ajudava subir para buscar minha segunda sobremesa: manga verde com sal. Já provaram alguma vez?... Nao? Recebí essa receita em Cambuquira e gostei demais. Imaginem que meus meninos nos anos de 7/8 ou agora meus netinhos, iriam subir com uma faca nas mão em àrvores tão altas?! Hoje para mim isso seria um horror!...
O porão da casa de D. Sebastiana, em chão de terra batida, limpo, mas com cheiro esquisito.
Buracos como janelas nas paredes ao redor da casa, dando à casa a possibilidade de transpirar e ventilar bem. Essas janelinhas eram de um tamanho assim que criança ainda cabia para entrar.Lá não era tão escuro, a luz do sol entrava um pouco. Ali, eu gostava de brincar com minhas panelinhas de ferro, miniaturas como as grandes de Dolores. Tinha com pauzinhos construido um fogãozinho. Milagre, que "neste escondido" nunca recebí visita de uma cobra.
Os passeios com Isabel acabavam na casa dela, onde brincamos com os irmãos, desarrumando a casa toda.(_Lembra Isabel?) Imagine o susto da sua mãe cada vez chegando mais tarde em casa encontrando aquela bagunca. Mas, não me lembro que tínhamos complicacões por causa disso. Sua mãe sempre tratava isso com calma e paciência.
Um crime em Cambuquira?
Um dia,(_ se lembra Isabel?) passeando à tarde em direção a igreja encontramos pessoas um pouco agitadas. Elas falavam sobre um acontecimento triste passado num Hotel ...
Contavam que um casal na "Lua de Mel" se hospedaram lá. Na noite de núpcias, faleceu a noiva. Fomos todos para a igreja, na entrada se achava a noiva, amortalhada. Era uma mulher jovem falecida vestida em preto, muito bonita, de cabelos pretos. Finalmente, só nós quatro na entrada da igreja: a falecida, o noivo, Isabel e eu, nenhum parente ou amigo. Claro, estavam sózinhos na Lua de Mel. O noivo triste, mas para mim parecia que não estava tão triste assim! Não mostrava suficiente dó. Esquesito!... por que morrer a mulher é normal na noite de casamento? – O que aconteceu? Na minha cabeca mexia a fantasia como as histórias escutadas nas fazendas sobre as pessoas assassinadas. Também já tinha lido todos os livros que achei no porão,com histórias palpitantes. Nunca mais escutei algo sobre esse acontecimento.
“__Alguem em Cambuquira sabe o que aconteceu naquela época?” Fico curiosa.
Do Hotel Impresa só um pulo até o Parque Municipal.
Depois de um passeio no Parque Municipal, tão sombreado, com o cheiro das fontes com as águas minerais saborosas a refrescar é tempo de ir para casa. Os turistas também já estavam guardando os copos de plástico com tampas coloridas, vermelhas e azuis. Esses copos eram fabricados assim para deixar achatar e com a tampa colocar na bolsa e assim ficar sempre à disposicao na próxima fonte.
“__Existe esses copos ainda? Eu achava eles bem chique e interessante.
Já é tarde, os sinos da igreja já tocando o Avé Maria, 18,00 h. Tempo de chegar em casa, jantar. Mais tarde na cama, já quase sonhando, acompanhada das canções ou chamada das rãs (sapos), a canção delas como sinos tocando em baixo da àgua...
“__ Gosto tanto de me lembrar de Cambuquira! Boa noite!”
Agora é fim. Isto era em Cambuquira. Meu pai nos levou pelas mãos e foi conosco, meu irmao e eu, para Belo Horizonte. Aí fiquei ainda mais ou menos 3 anos. Em 1957 fui despachada pela Panair do Brasil para a Alemanha, sem bilhete de volta. Mas isto é uma outra história.
Quem sabe eu possa contar depois mais esse capítulo?!... Clique aqui para ver o pos-escrito de Renate Drews (Köhler)! ou vá para próxima página
Vou talvez ainda contar se Gilberto Lemes vai fazer também um blog para Belo Horizonte tãolindo como o seu de Cambuquira. Mas ,isso não é tudo, ainda falta também um blog para Alemanha.