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terça-feira, 19 de maio de 2009

Renate Köhler e Cambuquira -Capítulo 1 - A entrada

Renate Drews (Köhler)


Cap. 1 - A Entrada.


Estes Blogs de Cambuquira se preocupam com os acontecimentos dos últimos 100 anos em Cambuquira, as personalidades que cunharam o lugar e as vidas nesta bela cidadezinha. Estas são pessoas inesquecíveis. Elas são o coração da comunidade. E, esse coração deve ser transmitido para nunca parar de bater.

Li várias vezes o artigo sobre Dr. Vicente Urti e fiquei entusiasmada. Ele também olha para frente, com preocupações, como me parece.

Eu procurei neste Blog os rastros da “minha cidade” – achei muito bonito. Acho que também devem se estar junto às “100 personalidades de 100 anos Cambuquira” aqueles que viveram aí sem deixar rastros, como também aqueles que vieram silenciosamente e partiram da mesma forma. Quem se lembra deles? Somente dentro deles mesmos vive a lembrança de uma época, que é inseparavelmente unida com a cidade. Assim também acontece comigo. Deixa-me escrever-lhe pouco como na sua vizinhança a felicidade florescia e desvanecia..... bem perto ao seu lado. E, nada é tão casual como as lembranças. A mente ou o espírito tem sua própria cabeça! Ou,como “Cees Nooteboom”escreve em “Rituale” –"... é como um cachorro, que se deita onde quer!"


Meus pais, Suzana e Gernot / Frederico Köhler, foram do nordeste do Brasil, de Recife para Cambuquira. Meu pai emigrou meio dos anos 1930 da Alemanha. Um pequeno aventureiro que, com um contrato de trabalho da firma Dannemann/Bahia na bolsa, queria tentar por si mesmo conquistar um mundo maior.


Os seus sonhos de uma vida de viagens e livre já iriam encontrar o seu fim na passagem de navio. Isso ele não podia imaginar, apaixonou-se no chão naval oscilante por uma linda brasileira, minha mãe.
A família de minha mãe, os seus pais eram alemães que já há várias gerações viviam no Brasil.
Meus pais se noivaram, casaram 1942 e partiram direção sul do país. Eu nasci em 1944 na cidade de Nova Friburgo. Depois de pouco tempo, eu ainda bebe, mudamos para Cambuquira. Eles compraram um sítio no Marimbeiro, onde eu penso que meu pai mandou construir lá a nossa casa. bem abaixo do Hotel Fonte Marimbeiro. Espero que a casa ainda exista e eu ficaria muito feliz se ele trouxe a felicidade à nossos proprietários.
Minha mãe escreveu naquela época aos sogros na Alemanha:

“Queridos pais, que dizem então à esta paisagem da carta postal? Não é Cambuquira uma cidadezinha linda? Nós somos tão feliz aqui! È como no paraíso............!”..........
”Na cidade como também perto de nós existem fontes curadoras, principalmente para doentes de fígado e com complicações do intestinal. Depois de ter provada todos medicamentos, somente as fontes conseguiram de me curar totalmente...........a cidade tem parque, jardins e plantações muito bem cuidados, já existiam nos tempos do imperador”........

Aqui primeiramente entram minhas lembranças de infância. Eu sonho muito com os poucos anos que descrevo agora. De vez enquando acordo na noite e me pergunto se esta época de infância feliz aí com vocês é verdadeiramente uma parte de um longo e já mais cinzento sonho e se o que aconteceu não é verdade.

– Os poucos anos de felicidade só foram um pequeno cochilo de nossa vida, a crônica da pequena de criança de um mundo desaparecido. Aqui ele ainda era lindo. Em breve já vou escavar coisas irreparáveis das ruínas do meu passado distante. Mas isto é uma outra história. E porém nada esquecido.
Vivemos até cerca de 1951 no sítio. Meu irmão nasceu lá, com a ajuda de Dr. Vicente Urti, nosso médico de família. Mas, tudo que começou como nos contos, acabou-se dolorosamente. Minha mãe, uma pessoa extraordinária, cheia de delicadeza, erudita, com muita graça, sempre gentil, muito indulgente e com muito amor, adoeceu – adoeceu incuravelmente. Ela se fechou ao nosso mundo, entrou na sua própria vida para nós inacessível. Perto dela, eu me sentia ainda muito mais sozinha.
Pouco antes dela partir acariciava-me os cabelos, olhando perdida para mim com lágrimas nos olhos. Os pedaços desse momento carrego até hoje no meu coração. Porém ela me faltou muito.E, ainda hoje apesar da falta de contato por cerca de 58 anos, ela me faz falta.
Penso que no fundo nunca compreendi o porque dela ir embora. A morte de uma pessoa querida, deveria ser outra coisa para aguentar. Se esta pessoa foi para sempre embora, a gente tem sentimento de tristeza e dó e – domina estes sentidos.

Mas, na nossa situação aqui a pessoa ainda esta perto,sem nos compreender, mesmo quando em frente de um. Foi bem violento o que aconteceu em nossa vida. Mais trágico para nossa mãe do que para nós. Nós tínhamos a chance de enfrentar este destino no futuro, lutar, nos defender e manter. Essa chance minha mãe não teve.– Daí tudo rolou ladeira abaixo. Ficaram as saudades!
Meu pai trabalhava em qualquer coisa em qualquer lugar e ficava longos tempos fora. A vida se tornou para nosso pai num campo de jogos, que ele ainda não conhecia. Nós crianças então vivíamos nas casas de pessoas muito boas, quais se preocuparam conosco.( Vou ainda falar sobre isso). Para nós crianças, quais se arranjaram com a situação foi mais uma cesura, quando o sítio foi vendido. Meu pai nos tomou nas mãos e fomos embora de Cambuquira. A felicidade dos anos que vivemos ali não voltou mais nos poucos anos que ainda estive no Brasil. Mais tarde achei na Alemanha uma nova casa e nova vida.

Minha mãe tem hoje 86 anos e vive em num lugar em Minas Gerais, acompanhada e cuidada com muito carinho pelo pessoal de lá e também por uma neta sua, que apesar de morar longe do Estado, se preocupa muito com ela com muito amor e responsabilidade,e por isso eu sou lhe especialmente grata.

Meu pai faleceu 1972 em Belo Horizonte. Dessas duas vidas não sobram mais do que as lembranças em uma caixa com fotos.

Meu irmão vive no Brasil. Eu tenho sobrinhos e sobrinhas, todos muito bem na vida.
Mais tarde, nasceu um outro irmão de outra mãe, que vive também no Brasil.

Hoje, eu respiro ar do mar leste no norte da Alemanha. Meus quatro filhos já são adultos e vivem a vida deles fora de nossa casa. E, o mais velho já tem 2 filhos com uma brasileira.

Se nós Köhlers de Cambuquira, vivemos bem nossas vidas, apesar das dificuldades dos tempos de juventude, com certeza, isso tornaria nossos pais muito felizes. E, como se diz em alemão “..und die Eltern Können sein, dass stolz...” ( e os pais podem ficar orgulhos que os seus filhos conseguiram algo na vida), o que resume tudo.

"...und die Eltern können stolz sein.“
E, assim que ter que ser.

Eu mesma nunca mais fui ao Brasil. Somente nos sonhos. Vejo aí um Brasil como se apresentava nos anos de 1950 à criança. E isto deve ficar assim....

Agora vocês sabem quem escreve. Talvez alguém da geração dos bisavós ainda conhece nossa família. Boas saudações à vocês. De alguns vou contar. Deixo então as minhas lembranças galopar para fora. Vou contar sem sortimento, sem corrigir, assim como os sentimentos e lembrança que carrego, com a cabeça e a linguagem de uma menina de 12 anos. Se a mulher mais velha vai mexer tentando entrar, não chance! Apago ela sem perdão.


Vai ser muito pessoalmente, para muitas leitoras/res talvez aborrecido e banal. Aí eu permito saírem. Eu talvez iria me comportar semelhante. Se somente 2 pessoas resistem - também isto seria para mim como aplauso - então escrevo somente para elas e para mim.
Sentam-se comigo perto do lume do fogão, tomamos um pouco vinho tinto e quando meia-noite passou e o ambiente já um pouco leve, começo.

Uma palavra ainda à minha linguagem. Vocês notam: assim falava uma criança 1957 – o vocabulário limitado que não aumentou. Já Peço desculpas. Espero que dê para entender.

De que me lembro: ...







Aguarde o fim da música da página para abrir o vídeo.
O vídeo acima, cujo link foi enviado por Renate Drews (do Norte da Alemanha), mostra o que ela sente quando revê em nossos blogs imagens da cidade e fotos de pessoas dos tempos em que viveu no Marimbeiro em Cambuquira.

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