terça-feira, 19 de maio de 2009
Capitulo 4 Minha vida em Cambuquira
Histórias de Cambuquira.
Cada lugar é diferente, partimos agora de Marimbeiro. Belo refúgio tranquilo, a casa de Dona Sebastiana Ferreira. Uma rosa para Dona Sebastiana (Na foto ao lado: Dona Sebastiana, Ieda e Renate) Quando a doença de minha mãe voltou, e desta vez mais grave ainda, muito mais grave. Eu tinha que ficar longe de minha casa e de meu pai. Como ele não sabia o que fazer com a gente, nós crianças, ele conversou com D.Sebastiana Ferreira e a esse anjo nos confiou. Melhor que ela, não podia existir.Ela foi que nos ajudou a caminhar sobre o recife difícil na nossa infância. Meu pai pode confiar totalmente nela que nos deu em pensão. Sempre relembro com grande agradecimento, respeito e carinho dessa senhora. Pensando nela fico ocupada com uma porção de sentimentos.
Eu me lembro emocionadamente dela da mesma forma como me lembro de minha mãe. Isso é talvez um pouco curioso.Mas, claro e racionalmente deve ser explicado assim: tudo o que minha mae não podia me dar, nos meus anos decisivos de desenvolvimento, eu recebí de Dona Sebastiana. Nesta fase da minha vida recebí o que precisava necessariamente: instruções, apoio e seguranca e estrutura. Sem isso, naquela época eu ,com certeza, não seria o que sou hoje. Assim então, foram esses 3 anos sob a custódia de D. Sebastiana importante para minha vida mais tarde. Se alguem hoje me alogia e se pergunta como eu consigo resolver alguns problemas, isso eu agradeco à Dona Sebastiana, que me concedeu este andaime. Estive várias vezes na vida com as costas na parede, mas conseguí me manter e enfrentar. Isso era ligado à forca, que se livrava em mim, quando nestes momentos pensava, o que iria Dona Sebastiana dizer naqueles momentos. E, eu ouvi sua voz que me dizia:
__ ”Renate, você é para você o mais importante no mundo.Você tem de se manter por você e nunca deve se deixar vencer. Não desista, não corra.. Enfrente seus problemas e vai vencer. Pense nisso! Se você não faz nada por você sozinha, como fará para aqueles que estão confiando em você.”
Essa força que ela me deu, sinto agora ao escrever isso.
Muito obrigada, querida Dona Sebastiana!...
Eu posso sonhar tão profundamente, que consigo trocar os tempos no sonho de um tempo de agora pelo tempo passado. E isso é tao forte, que me movo como se fosse real. Estou sobretudo visitando a casa de Dona Sebastiana e vejo intensamente o que agora tento de narrar.
A casa como país das maravilhas.
Se me lembro bem, essa casa era construída no estilo da época colonial de Portugal. Ela era comprida, o telhado antigo, pela influência atmosférica, não era novo, pois já era escuro.A frente da casa: as paredes eram brancas, as janelas alongadas, 6 ou 7 , e a porta de entrada... Na frente existia uma parte de um andar ao nível da rua, na parte de trás 2 andares com um piso mais baixo e uma parte com porão porque a casa foi construída numa baixada, com janelas para o quintal. O terreno do quintal começava atrás da casa.
A rua tinha um passeio mais alto do que a casa. Em frente um jardim com plantação de “Buchsbaum” (buxos) e uma planta espinhosa, com folhas pequenas forma de coração, as florzinhas eram vermelhas, essas plantas quando machucadas choravam um líquido branco como leite. Quando brincavámos neste jardim eramos acompanhado de um cheiro mofoso porque o murro para a rua em cima já não era tão novo e também, por influência da chuva, úmido. E, esse murro se achava também na sombra. Ao lado esquerdo da casa uma casa menor, a escolinha de Dona Sebastiana. Esta casinha ficava enclinada num murro, que cercava o terreno. Em frente dessa casinha existia uma linda e grande árvore linda de mangas, assombreando tão gostosamente nos dias quentes. A árvore ficava bem pertinho do murro, e do outro lado o murro de um hotel.
A casa de Dona Sebastiana era diferente da nossa casa do sítio. O ambiente arranjado e instalado com muita graça,carinho e tudo bem comfortável. A sala de entrada, onde se recebiam as visitas, era mobiliada com poltronas cobertas de tecido florido. Desta sala, entrávamos numa sala grande onde toda a vida de casa se acontecia: almoços, jantas, festas de Natal com a árvore de cipreste bem enfeitada e grande, os trabalhos de escola com alunos, e...,e....Desta sala partiam as entradas para os outros quartos e corredor. A cozinha, com a porta para fora, de onde a gente tinha que usar uma escada comprida, para chegar ao quintal. O banheiro era espacoso e com todo conforto. As paredes e chão com azulejos brancos. O banheiro especialmente fresco era a pousada querida do cachorro – o Lulu branco – da família. Esse lulu ocupava a maior parte do banheiro para si e sempre rosnando quando a gente queria entrar. Isto era no início um problema para mim, mas venci esse meu medo, deixando Lulu para lá. E ele tambem só rosnava e não mordia.
Com todas aquelas pessoas era uma casa cheia de vida divertida. Cada dia entraram ideias novas e boas impressões para mim. Eu pegava o que era de novo para mim ambiciosamente, com alegria e curiosidade. Essa vida nessa casa foi como ”país das maravilhas”.
Ainda me vejo entre os habitantes deste lar cheio de alegria e de risadas, sentada à mesa: ao redor Dona Sebastiana, Georgina, uma filha, Senhor Kalil, Isabel, uma neta, meu irmão e eu.Eu me sentia tão bem ali naquele ambiente sempre alegre.
_Essa casa ainda existe?
Os habitantes desta casa.
Dona Sebastiana era uma senhora resoluta com talvez cerca.1,75 m de estatura, um pouco corpulenta, e isto ficava muito bem à ela, ela era uma grande personalidade. Sempre com vestidos chiques, com bom tratamento dos cabelos escuros e com suas mãos e unhas bonitas, sempre perfeitas pintadas.De fisionomia muito alegre, feição positiva, nunca ficava zangada. Seus olhos eram cheios de vida, brilhando como estrelas e sempre sorrindo. Ela era uma mulher muito bondosa e sábia. Ela era bem emancipada e independente, o que naquela época não era comum, seja em qualquer canto do mundo.
Ela era a Dona de casa, muito amada e respeitada. Ela era também a diretora da escola pública e tinha também uma escola privada com o nome de Externato Tiradentes. Nessa escola passei o meus primeiros 3 anos aprendendo. A escolinha era em um prédio anexo à casa principal, no mesmo terreno. Só precisavamos atravessar o quintal. Eram duas professoras bonitas que davam as aulas. Uma loira de cabelos ondolados, a outra de cabelo preto e curto, semelhante à “Branca de Neve e os sete anões”. Esta professora tinha também o dom de cantar muito bem e nas festas locais apresentava sempre uma canção.Na maioria das vezes, ela preferia uma canção sobre saudade. Ela era minha professora . Gostava muito dela, tão bonita, tão talentosa e tão gentil. As suas aulas eram sempre interessantes. E, as primeiras palavras que aprendi a escrever foram passarinho e maçã. Depois das aulas de manhã e de um almoco gostoso (sempre gostoso!) com calma, Dona Sebastiana me chamava e íamos para a ecola pública, onde ela era a diretora.
No escritório dessa escola, D. Sebastiana ficava sentada à minha frente resolvendo os trabalhos dela e eu resolvendo os meus de escola para o próximo dia. Trabalhávamos juntas, tudo seriamente. Dona Sebastiana me respeitava e me ajudava quando eu não sabia algo. Ali, eu estava aprendendo com ela a ortografia e grata por tanta atenção.De vez em quando, aparecia Isabel, sua a neta,para fazermos os exercícios de escola. Isabel e eu éramos muito amigas e da mesma idade. Nós brincamos muito com outras meninas. Mas só me lembro de Isabel, Eunice e Ieda.
"__Isabel, como vai, tudo bem? Lembra de mim? Boas saudacões. Não me esquecí de você, de seus pais, Ricarda e Ricardo e seus irmãos. "
Enfim tocou o sinal para pausa. Os alunos, na maioria pobre e negros já esperavam no pátio da escola os rituais diários. Assim eram tratadas as feridas, de vez em quando com aparencia muito grave mesmo, por D. Sebastiana. Também a comida, o mingau da tarde, era oferecido e eu gostava muito de encher os pratos dos alunos que esperavam em fila.
As atividades da escola eram várias. Nas festas de primavera, meninas e mininos animados por D. Sebastiana apresentavam peças de teatro. Uma vez fomos vestidos de legumes, flores, vagalumes, escaravelhos, borboletas, etc. etc. para um cenário, que foi apresentado à um público. talvez aos pais e outros parentes.
Na sala, em casa, tínhamos muitos encontros de atividades criativas com alunos. Por exemplo, fazer uma revista ou um boletim sobre higiene, ou sobre a história de Tiradentes. Todos trabalhavam sériamente. Georgina sempre estava conosco. Enquanto isso, Dolores fazia um bolo para nos restabelecer.
Dona Sebastiana tinha uma postura muito humana na cidada. Assim eu me lembro de muitos engajamentos dela na igreja, sempre com muita fé e amor, ajudando os padres nos equipamentos deles quando chegaram novatos em Cambuquira e precisavam roupa de casa, etc. A ajuda aos pobres era sua prioridade. Junto com a igreja foram feito muitas obras de caridade.
Um casal de Cambuquira, na direção do Marimbeiro era muito pobre e morava em uma cabana de barro, a mulher era doente com TBC – (Tuberculose) e o marido ia buscar todos os dias uma marmita com comida para eles.
Dolores, a pérola da casa D. Sebastiana, preparava todos os dias o almoço para tantas pessoas.
Sempre tínhamos visitas na mesa de almoço.
Um casal vinha diáriamente como hóspedes de uma pensão. O senhor era muito divertido e gostava do meu irmão. "Fazendo brincadeiras com ele, dizia que hoje iria comer toda a sobremesa sózinho, pois gostava demais de doce abobora com côco, dizendo assim puxava a tigela com a sobremesa para sua frente, já colocando a colher para comer. E meu irmão, assustado, comecou a chorar tanto, porque adorava tambem essa saborosa sobremesa de Dolores. E imaginando que não receberia nada da abóbora com côco. Que coisa terrível!...
Nos dias festivos da igreja, era missão da comunidade cristã fazer festas beneficentes em um bairro especial, que para mim parecia ser a aldeia dos velhos escravos.
As mulheres da comunidade de Cambuquira faziam rendas, bordados, costuravam, faziam bolos, etc. etc. Isso tudo era vendido em um dia de festa de igreja lá da aldeia. Era vendido á Cambuquirenses, que iam lá para festejar o dia. O valor apurado nessas festinhas eram utilizados para caridade das famílias pobres com problemas.
Na Páscoa acontecia tambem, que nós os jovens da escola, depois da comunhão, da missa de manhã, subíamos em procissão para essa aldeia para lhes levar os presentes, como comida ou roupa. Lá existia casinhas amarelas, e os negros, já bem velhos, sentados em frente das casinhas deles, gozando o solzinho da manhã, se alegravam muito quando nós chegávamos.Tudo isso era organizado também por Dona Sebastiana. Eu me lembro ainda muito bem de alguns rostos daqueles velhos negros. Esquisito! Não esqueço de maneira nenhuma: era um velho preto, gordo, com rosto muito grosso, lábios muito grossos, cabelos brancos, e muito baozinho!.Quem hoje pode contar algo? Eu achava tudo aquilo muito impressionante, que entrava no coracao mesmo. Nunca mais na minha vida tive uma situação semelhante. E, porque também sabíamos das histórias dos escravos, que eram muito triste. E, que histórias teriam essas pessoas particularmente carregando consigo.? – Aquela época era para mim uma coisa exclusiva:"Conhecer essas pessoas, que ainda viveram no tempo da escravidão."
Entretanto, nada fica parado, tudo passou, tudo mudou... Como tudo era bem organizado e planejado tinha também tudo sua ordem nas coisas de fé: como confessar, comunhão, as missas nos domingos, isto tudo pertencia à aquela mundo. Eu já tinha minhas dificuldades com as confissões. O que é que uma menina de 7 anos vai confessar de pecados? Sem fantasia não era possível!...
A
s viajens com Dona Sebastiana eram para mim de um lado de tortura, por que não aguentava viajar no ônibus. Por causa disso, o condutor tinha sempre de parar para no caminho entre Campanhas ou outras cidades e Cambuquira. Eu não conseguia segurar meu café da manha ou o almoço, cada vez a mesma “surpresa”. Por causa disso, já sentava na frente perto da porta, para mais rápido então escapar para fora quando necessário.De outro lado, foi muito interessante e divertido. Víamos no caminho tanta gente, observávamos tantas situações. A paisagem desta regiao era linda. Nas paradas esperavamos de vez em quando um bom tempo até ser colhida do condutor, para continuar a viajem para outro lugar. E eu com sono de viagem adormecia nos bracos de Dona Sebatiana. Estivemos em Campanha, visitamos lá um colégio com madres,as professoras. Estivemos na igreja da escola, um lugar para se retirar e parar, nao esqueci aquele lugar calmo e lindo. Dona Sebastiana tinha os parentes espalhados fora de cambuquira, ela sempre me levou quando ia visitá-los. Uma irmã dela tinha alguns filhos jovens, nós brincávamos lá fora no quintal, depois do almoco, “arroz com fricassé”. Tantas coisas que aí me lembro, seria demais contar tudo aqui. – Gostei muito dessas viagens!...
Georgina, as tampas de latas com pinturas da região e o casamento.
Georgina, filha de Dona Sebastiana, bem mais velha do que eu. Era uma jovem bonita, cabelos encaracolados, muito alegre e criativa e apaixonada. Os encontros com muitas amigas, contando as historinhas delas e sobre todo o mundo e rindo, rindo. Eu admirava esse terreno novo para mim.E gostava de ficar perto delas.
Georgina era uma mestra em pintar e desenhar. Nem uma tampa de lata escapava das suas mãos. Todas tinham de ser pintadas com cores a óleo com bonitas gravuras da região Tudo tão perfeito!E,finalmente decoradas com renda. Nunca mais ví coisas tão bonitinhas e feitas com tanta dedicação e amor.
As amigas de Georgina: De frente da casa de Dona Sebastiana morava uma moça bonita de cabelo preto numa casa amarela. Vis-àví (de frente) em diagonal morava uma loira também bonita, com cabelos longos, sempre muito divertida. Era Alicéia Maia, filha de Aristidis Maia.
O pai de Alicéia produzia os melhores doces de leite, que já comí na minha vida. Eram tão saborosos!...
__ Alicéia, lembra-se de mim? –Boas Saudações para voce!
Muito divertido este tempo. Georgina começou a namorar um filho de um fazendeiro, bonito e simpático. Noivaram-se. Era tempo de começar com o enxoval. Georgina não teve mais tempo para pintar.E, costurar, bordar e escolher coisas bonitas para o seu inventário de casamento era o momento oacontecimensto mais importante e mais interessante. Cheia de orgulho, ela se sentia com o presente do noivo: colar e pulseira de prata com aguamarinha. Lembro-me bem, foi lindo e muito precioso.
Depois do casamento visitei Georgina e marido na casa deles numa aldeia perto da fazenda(Não sei mais onde).
__ “Mas, Georgina, como é isso, sempre se beijando? É bom mesmo? Entao quero também um beijo de seu marido. ”
Riram tanto, e acho que não pararam, ainda hoje. Foi muito bonito lá. Georginaestava feliz e alegre. Um dia visitamos a fazenda,um lugar como nos contos, cheia de gente, todos amáveis, trabalhadores e sempre prontos para fazer brincadeiras. O regato nesta fazenda era lugar querido dos jovens. As plantas eram longas, como os cabelos das ninfas. A água corrente e clara e o leito do regato cheio de pedrinhas brilhando no sol convidava para tomar um banho. A meninada da fazenda pulava lá dentro gozando este refresco. Eu, que tinha medo de cobras, não entrei no regato. À tarde era encontro numa cozinha grande, onde todos se juntaram para jantar e contar as histórias de fazenda. Penso que Georgina casou dentro de uma família de fazendeiros muito simpáticos.
Uma tarde Georgina levou-me para um cinema – vimos um filme com Ronald Reagan: “Sein letzter Verrat” (The last outpost) de 1951 – ou em portugues: “ Sua última traição“.Voltamos de trem à noite de volta para a casa dela. Outra vez, estivemos no circo. Foi apresentada uma cena muito colorida e trágica. O público gostou muito. Mais ou menos lembro-me ainda da cena. Penso que foi a história do cangaceiro. Foi impressionante mesmo!...
“__Georgina, onde estas? Espero que estás passando bem e mando-lhe boas saudações e um abraço."
__Georgina, se sua mãe ainda vive, tenho um pedido para você: por favor oferecer Dona Sebastiana uma rosa de mim. Se ela não vive mais, seria possível colocar uma rosa na sepultura? Eu me lembro com muito carinho de sua mãe.”
Kalil
Senhor Kalil, todos chamaram ele simplesmente de Kalil. Ele era um habitante da casa de Dona Sebastiana. Ele era gordinho, cheio de humor fazendo brincadeiras, rindo com a gente, contando histórias. Sério? Não, nunca , sempre divertido era o meu “salvador”. Viajar no ônibus já contei.
Mas, as manhãs de domingo tinham para mim tambem seus momentos fatigantes. Sem café de manha, por causa da hóstia, íamos à missa na igreja Matriz de S. Sebastiao. Bem,não era tão longe da nossa casa. Regularmente nestas manhas, de receber as hóstias,eu passava mal. Levantar, ajoelhar, sentar-se, ajoelhar, levantar, cantar, rezar.....toda esses procedimentos sem café da manha e com barriguinha vázia –“ mein Gott” – quase caí dos sapatos. E Kalil, perto de mim em voz baixa :
__”oi, Renatinha, tão pálida, não está bem?” Eu afirmando que sim. E, ele: __” psst!. Então, depressa para casa!”
Várias vezes me salvou e eu sem hóstia...... Sozinha, com Dona Sebastiana eu não tinha chances para escapar. Um pouco lá fora, o ar fresco, eu já me sentia melhor e eu corria para casa, sem dor na consciência.Mais tarde em casa, Dona Sebastiana nada disse, e eu ficava aliviada.
Mas, para mim, que perspectiva tinha quando chegar em casa? Lá já esperava café com leite quentinho, paozinho com manteiga, ou talvez uma coisa saborosa, preparada por Dolores – arroz - doce, ou pão de Petrópolis com presunto? Aí nunca fui enganada.
Uma irmã de Kalil, casada, morava lá à esquerda, mais para baixo, perto da saída da cidade, na direção do Marimbeiro. Era uma casa grande cheia de habitantes. Talvez moravam lá também: as irmãs de Kalil ou os pais e muitas criancas. Lá, eu brinquei várias vezes com elas.
Jovem perdido.
Kalil tinha um irmão mais jovem, talvez 27 anos ou mais ou menos. A este moço, vou lhe dar o nome de “Jovem” porque não me lembro do nome... Eu o vi várias vezes na padaria do Senhor Gaspar Möller, perto da mesa de bilhar, com outras pessoas, todas ocupadas com o jogo. Um dia ele adoeceu gravemente. E, Dona Sebastiana, competente, rigorosa e com responsabilidade, organizou a hospedagem do Jovem na casa dela. Eu tive que mudar do meu quarto para um outro. Dolores depressa a arrumar a cama. 2 ou três dias cuidamos dele, todos com muito carinho e preocupados. O médico esteve lá. Principalmente Dolores ficava sempre alerta:
_ “ precisamos de água fresca, vamos fazer chá de ervas”!
E, isso ou aquilo. Mas tudo em vão. Jovem sofreu tanto, passando tão mal, nada adiantou. E, ele faleceu. Escutei que deveria ter sido intoxicação por ingestão de carne de salsicha. Ah, que susto, que tragéria, como são essas coisas tão tristes da vida. Jovem foi vestido e preparado para ser amortalhado na sala. Eu, ainda hoje vejo Jovem, tão lindo, com olhos profundamente fechados, muito pálido, quase amarelo e as velas da igreja, além de um lenço branco enrolado envolta da cabeca e amarrado.
A casa enlutada estava aberta para os parentes e amigos condoídos, era a última visita, para se despedir para sempre do “Jovem”.Meu Deus! Ele faleceu na minha cama. Depois de tudo ela estava de novo à minha disposição. Eu me lembro que ainda dias ou semanas, eu tinha dificuldades com essa situação. À tarde, já escuro, quando era tempo de ir para cama, os adultos estavam ainda sentados na sala conversando ou lendo e eu tinha de passar pelo corredor, e lá atrás à esquerda era meu quarto. Para ligar a luz eu tinha de atravessar o quarto, no escuro, e sobre meu travesseiro estava o interruptor dependurado na parede. Era um daqueles antigos pretos com botaozinho para pressar. No fundo, penso que não me incomodou tanto que Jovem tivesse morrido na minha cama, ou no quarto. Ou sim? Mas, ficava aliviada, nos primeiros dias, quando Dolores entrava, porque dormia no mesmo quarto comigo. Isso já me confortava.
Dolores e suas dores – uma coroa para ela.
Já falei tanto de Dolores, agora é tempo de apresentá-la. Dolores, uma "indiana" tão trabalhadora, muito modesta, com coração grande, a pérola, o anjo de casa. Ela era responsável por todos os trabalhos de casa: a roupa, os quartos, o quintal, a limpeza, a ordem de tudo, o bem estar de todos. Ela mesma era absolutamente altruísta. Ela era muito respeitada e amada por todos nós. Os quartos de domir, as camas estavam sempre com linho branquinho, com cheiro fresco, as cobertas de dia bordadas, ou em obras feita de retalhos (patchwork) arrumadas sobre as camas, bonitas cortinas de cambraia bordadas, a sala de visita com as poltronas de motivos floraisl, o banheiro, tudo era limpinho e cuidado pelas mãos de Dolores.
Quando é que ela fez isto tudo?
Limpar com música - Dominóo, Dominó ou tico-tico.
Nos sábados tínhamos todos nossas obrigacoes de ajudar Dolores. Era dia de limpar a casa metódicamente. Ela ia na frente e nós ajudando, limpando, encerando o chão com cera, enfim o parquete tinha que brilhar. Nós limpávamos os móveis com atenção, por causa dos ovos das baratas. A música daquela época nos acompanhava e começávamos este dia cedinho. Meio meio dia estavamos prontos. Então vinha a recompensa grandiosa pelo nosso esforço:Sua comida era magnífica!... Isso era o talento especial de Dolores:cozinhar com os melhores sabores. Conhecí muitas pessoas, que cozinharam bem, mas Dolores é para mim a rainha de todas e todos cozinheiras/os. Ela merece uma coroa.
O reino de Dolores – a cozinha onde aconteciam os encontros de todos.
Lá estávamos, os adultos contando histórias de fazendas, as crianças de ouvido grande. Dolores perto do fogão antigo mexendo no fogo, colocando troncos de pau e torrandoo café. Tudo erai feito em casa à mão. O café tinha de ser torrado em panelas de ferro, penduradas sobre o fogo e tinha de ser sempre mexido para não se queimar. Depois então era moido. Não existe café tao saboroso!...
Fechando os olhos vejo, escuto, e sinto o cheiro o que acontecia nesta casa, o cheiro de café torrado pela casa. Além disso, sinto ainda o ruído das palhas de milho, quando nós nos sentávamos no quintal ao redor de um monte de espigas maduros e prontos para ser descacadas, esse nosso trabalho, como os montes de feijão, que também tinham de ser descascados, as tarefas do reino de Dolores.
Vivíamos sempre muito alegres nessa comunidade um por todos, e todos por cada um.
Cheiro de canela e.....nenhum resto...
Nos domingos andava tudo um pouco mais calmo, Dolores já tinha preparado (só para contar algumas especialidades, não todas!) comida no Sábado, para no Domingo poder descansar um pouco. Lá na mesa já estava o frango assado, a empanada, as cochinhas fritas de carne de galinha com trigo e ervas picantes, os pasteis com carne moída, bolo de chuchu, pãezinhos ou bolinhos de mandioca, mandioca frita, batata doce frita, curau de milho verde com canela em pó, queijo minas com goiabada, doce de abobora com côco, doce de cidra com côco, doce de fígo verde, pudim de queijo à mineira, bolo de farinha de milho e o café feito por Dolores. Do outro lado havia uma tigela cheia de jaboticabas, laranjas, lima, abacates, mangas, goiabas...
E o que fazer com dos restos? – Que restos? Nao restava nada.
Dolores, nossa rainha, que pena, tinha dias de muitas dores, um reumatismo “demônio mancador.” Ela sofria muito nesses dias, ficando na cama e nós tinhamos a oportunidade de amimá-la e dar em troca o de bom o que ela sempre nos dava.
“__Obrigada Dolores, não te esqueço!...
Em resumo:
Cambuquira naquela época era um mundo pequeno, tudo bem claro e tranquilo. Meus passeios eram ao parque, igreja, àrvore de mangas, o porão e os livros. Os meus passeios mais curtos eram ao redor da casa.
Interessante: de um lado da casa de Dona Sebastiana existia um Hotel bem frequentado, principalmentede por turistas jovens, de manha até à tarde ocupados com ping pong. Passando lá no passeio, podia se dar uma olhadinha para os hóspedes sentados no pequeno parque, os jovens juntos conversando e rindo.
A superstição nas vizinhanças.
A outra casa vizinha era grande e de cor cinza claro. As janelas ficavam sempre cerradas. A dona de casa? Acho que nunca ví. Para sua vizinhanca ela tinha uma aura de segredo. Era uma casa de uns tais batistas, com encontros estranhos para vizinhos do redor que achavam engracado por que eles não tomavam hóstia, mas copinhos de vinho com pão. Esse jeito de celebrar o credo dos batistas, naquele tempo, era para algumas pessoas mais estranho do que as “macumbas”da noite.
Uma amiga e vizinha linda, alta, bem crescida, vestida de verde, com enfeitos amarelos, orange até vermelho era a grande mangueira no quintal ao lado da casa de D. Sebastiana.Ela era um refúgio para criancas se esconderem lá em cima entre as folhas. Nas tardes, depois do almoço, cozinha já arrumada, horinha para todos fazer uma sesta. Para mim, era a horinha da festa.
Armada com uma faquinha de legumes e um saleiro eu subia para os andares mais altos da árvore, o murro pertinho da àrvore me ajudava subir para buscar minha segunda sobremesa: manga verde com sal. Já provaram alguma vez?... Nao? Recebí essa receita em Cambuquira e gostei demais. Imaginem que meus meninos nos anos de 7/8 ou agora meus netinhos, iriam subir com uma faca nas mão em àrvores tão altas?! Hoje para mim isso seria um horror!...
O porão da casa de D. Sebastiana, em chão de terra batida, limpo, mas com cheiro esquisito.
Buracos como janelas nas paredes ao redor da casa, dando à casa a possibilidade de transpirar e ventilar bem. Essas janelinhas eram de um tamanho assim que criança ainda cabia para entrar.Lá não era tão escuro, a luz do sol entrava um pouco. Ali, eu gostava de brincar com minhas panelinhas de ferro, miniaturas como as grandes de Dolores. Tinha com pauzinhos construido um fogãozinho. Milagre, que "neste escondido" nunca recebí visita de uma cobra.
Os passeios com Isabel acabavam na casa dela, onde brincamos com os irmãos, desarrumando a casa toda.(_Lembra Isabel?) Imagine o susto da sua mãe cada vez chegando mais tarde em casa encontrando aquela bagunca. Mas, não me lembro que tínhamos complicacões por causa disso. Sua mãe sempre tratava isso com calma e paciência.
Um crime em Cambuquira?
Um dia,(_ se lembra Isabel?) passeando à tarde em direção a igreja encontramos pessoas um pouco agitadas. Elas falavam sobre um acontecimento triste passado num Hotel ...
Contavam que um casal na "Lua de Mel" se hospedaram lá. Na noite de núpcias, faleceu a noiva. Fomos todos para a igreja, na entrada se achava a noiva, amortalhada. Era uma mulher jovem falecida vestida em preto, muito bonita, de cabelos pretos. Finalmente, só nós quatro na entrada da igreja: a falecida, o noivo, Isabel e eu, nenhum parente ou amigo. Claro, estavam sózinhos na Lua de Mel. O noivo triste, mas para mim parecia que não estava tão triste assim! Não mostrava suficiente dó. Esquesito!... por que morrer a mulher é normal na noite de casamento? – O que aconteceu? Na minha cabeca mexia a fantasia como as histórias escutadas nas fazendas sobre as pessoas assassinadas. Também já tinha lido todos os livros que achei no porão,com histórias palpitantes. Nunca mais escutei algo sobre esse acontecimento.
“__Alguem em Cambuquira sabe o que aconteceu naquela época?” Fico curiosa.
Do Hotel Impresa só um pulo até o Parque Municipal.
Depois de um passeio no Parque Municipal, tão sombreado, com o cheiro das fontes com as águas minerais saborosas a refrescar é tempo de ir para casa. Os turistas também já estavam guardando os copos de plástico com tampas coloridas, vermelhas e azuis. Esses copos eram fabricados assim para deixar achatar e com a tampa colocar na bolsa e assim ficar sempre à disposicao na próxima fonte.
“__Existe esses copos ainda? Eu achava eles bem chique e interessante.
Já é tarde, os sinos da igreja já tocando o Avé Maria, 18,00 h. Tempo de chegar em casa, jantar. Mais tarde na cama, já quase sonhando, acompanhada das canções ou chamada das rãs (sapos), a canção delas como sinos tocando em baixo da àgua...
“__ Gosto tanto de me lembrar de Cambuquira! Boa noite!”
Agora é fim. Isto era em Cambuquira. Meu pai nos levou pelas mãos e foi conosco, meu irmao e eu, para Belo Horizonte. Aí fiquei ainda mais ou menos 3 anos. Em 1957 fui despachada pela Panair do Brasil para a Alemanha, sem bilhete de volta. Mas isto é uma outra história.
Quem sabe eu possa contar depois mais esse capítulo?!... Clique aqui para ver o pos-escrito de Renate Drews (Köhler)! ou vá para próxima página
Vou talvez ainda contar se Gilberto Lemes vai fazer também um blog para Belo Horizonte tãolindo como o seu de Cambuquira. Mas ,isso não é tudo, ainda falta também um blog para Alemanha.
Cada lugar é diferente, partimos agora de Marimbeiro. Belo refúgio tranquilo, a casa de Dona Sebastiana Ferreira. Uma rosa para Dona Sebastiana (Na foto ao lado: Dona Sebastiana, Ieda e Renate) Quando a doença de minha mãe voltou, e desta vez mais grave ainda, muito mais grave. Eu tinha que ficar longe de minha casa e de meu pai. Como ele não sabia o que fazer com a gente, nós crianças, ele conversou com D.Sebastiana Ferreira e a esse anjo nos confiou. Melhor que ela, não podia existir.Ela foi que nos ajudou a caminhar sobre o recife difícil na nossa infância. Meu pai pode confiar totalmente nela que nos deu em pensão. Sempre relembro com grande agradecimento, respeito e carinho dessa senhora. Pensando nela fico ocupada com uma porção de sentimentos.
Eu me lembro emocionadamente dela da mesma forma como me lembro de minha mãe. Isso é talvez um pouco curioso.Mas, claro e racionalmente deve ser explicado assim: tudo o que minha mae não podia me dar, nos meus anos decisivos de desenvolvimento, eu recebí de Dona Sebastiana. Nesta fase da minha vida recebí o que precisava necessariamente: instruções, apoio e seguranca e estrutura. Sem isso, naquela época eu ,com certeza, não seria o que sou hoje. Assim então, foram esses 3 anos sob a custódia de D. Sebastiana importante para minha vida mais tarde. Se alguem hoje me alogia e se pergunta como eu consigo resolver alguns problemas, isso eu agradeco à Dona Sebastiana, que me concedeu este andaime. Estive várias vezes na vida com as costas na parede, mas conseguí me manter e enfrentar. Isso era ligado à forca, que se livrava em mim, quando nestes momentos pensava, o que iria Dona Sebastiana dizer naqueles momentos. E, eu ouvi sua voz que me dizia:
__ ”Renate, você é para você o mais importante no mundo.Você tem de se manter por você e nunca deve se deixar vencer. Não desista, não corra.. Enfrente seus problemas e vai vencer. Pense nisso! Se você não faz nada por você sozinha, como fará para aqueles que estão confiando em você.”
Essa força que ela me deu, sinto agora ao escrever isso.
Muito obrigada, querida Dona Sebastiana!...
Eu posso sonhar tão profundamente, que consigo trocar os tempos no sonho de um tempo de agora pelo tempo passado. E isso é tao forte, que me movo como se fosse real. Estou sobretudo visitando a casa de Dona Sebastiana e vejo intensamente o que agora tento de narrar.
A casa como país das maravilhas.
Se me lembro bem, essa casa era construída no estilo da época colonial de Portugal. Ela era comprida, o telhado antigo, pela influência atmosférica, não era novo, pois já era escuro.A frente da casa: as paredes eram brancas, as janelas alongadas, 6 ou 7 , e a porta de entrada... Na frente existia uma parte de um andar ao nível da rua, na parte de trás 2 andares com um piso mais baixo e uma parte com porão porque a casa foi construída numa baixada, com janelas para o quintal. O terreno do quintal começava atrás da casa.
A rua tinha um passeio mais alto do que a casa. Em frente um jardim com plantação de “Buchsbaum” (buxos) e uma planta espinhosa, com folhas pequenas forma de coração, as florzinhas eram vermelhas, essas plantas quando machucadas choravam um líquido branco como leite. Quando brincavámos neste jardim eramos acompanhado de um cheiro mofoso porque o murro para a rua em cima já não era tão novo e também, por influência da chuva, úmido. E, esse murro se achava também na sombra. Ao lado esquerdo da casa uma casa menor, a escolinha de Dona Sebastiana. Esta casinha ficava enclinada num murro, que cercava o terreno. Em frente dessa casinha existia uma linda e grande árvore linda de mangas, assombreando tão gostosamente nos dias quentes. A árvore ficava bem pertinho do murro, e do outro lado o murro de um hotel.
A casa de Dona Sebastiana era diferente da nossa casa do sítio. O ambiente arranjado e instalado com muita graça,carinho e tudo bem comfortável. A sala de entrada, onde se recebiam as visitas, era mobiliada com poltronas cobertas de tecido florido. Desta sala, entrávamos numa sala grande onde toda a vida de casa se acontecia: almoços, jantas, festas de Natal com a árvore de cipreste bem enfeitada e grande, os trabalhos de escola com alunos, e...,e....Desta sala partiam as entradas para os outros quartos e corredor. A cozinha, com a porta para fora, de onde a gente tinha que usar uma escada comprida, para chegar ao quintal. O banheiro era espacoso e com todo conforto. As paredes e chão com azulejos brancos. O banheiro especialmente fresco era a pousada querida do cachorro – o Lulu branco – da família. Esse lulu ocupava a maior parte do banheiro para si e sempre rosnando quando a gente queria entrar. Isto era no início um problema para mim, mas venci esse meu medo, deixando Lulu para lá. E ele tambem só rosnava e não mordia.
Com todas aquelas pessoas era uma casa cheia de vida divertida. Cada dia entraram ideias novas e boas impressões para mim. Eu pegava o que era de novo para mim ambiciosamente, com alegria e curiosidade. Essa vida nessa casa foi como ”país das maravilhas”.
Ainda me vejo entre os habitantes deste lar cheio de alegria e de risadas, sentada à mesa: ao redor Dona Sebastiana, Georgina, uma filha, Senhor Kalil, Isabel, uma neta, meu irmão e eu.Eu me sentia tão bem ali naquele ambiente sempre alegre.
_Essa casa ainda existe?
Os habitantes desta casa.
Dona Sebastiana era uma senhora resoluta com talvez cerca.1,75 m de estatura, um pouco corpulenta, e isto ficava muito bem à ela, ela era uma grande personalidade. Sempre com vestidos chiques, com bom tratamento dos cabelos escuros e com suas mãos e unhas bonitas, sempre perfeitas pintadas.De fisionomia muito alegre, feição positiva, nunca ficava zangada. Seus olhos eram cheios de vida, brilhando como estrelas e sempre sorrindo. Ela era uma mulher muito bondosa e sábia. Ela era bem emancipada e independente, o que naquela época não era comum, seja em qualquer canto do mundo.
Ela era a Dona de casa, muito amada e respeitada. Ela era também a diretora da escola pública e tinha também uma escola privada com o nome de Externato Tiradentes. Nessa escola passei o meus primeiros 3 anos aprendendo. A escolinha era em um prédio anexo à casa principal, no mesmo terreno. Só precisavamos atravessar o quintal. Eram duas professoras bonitas que davam as aulas. Uma loira de cabelos ondolados, a outra de cabelo preto e curto, semelhante à “Branca de Neve e os sete anões”. Esta professora tinha também o dom de cantar muito bem e nas festas locais apresentava sempre uma canção.Na maioria das vezes, ela preferia uma canção sobre saudade. Ela era minha professora . Gostava muito dela, tão bonita, tão talentosa e tão gentil. As suas aulas eram sempre interessantes. E, as primeiras palavras que aprendi a escrever foram passarinho e maçã. Depois das aulas de manhã e de um almoco gostoso (sempre gostoso!) com calma, Dona Sebastiana me chamava e íamos para a ecola pública, onde ela era a diretora.
No escritório dessa escola, D. Sebastiana ficava sentada à minha frente resolvendo os trabalhos dela e eu resolvendo os meus de escola para o próximo dia. Trabalhávamos juntas, tudo seriamente. Dona Sebastiana me respeitava e me ajudava quando eu não sabia algo. Ali, eu estava aprendendo com ela a ortografia e grata por tanta atenção.De vez em quando, aparecia Isabel, sua a neta,para fazermos os exercícios de escola. Isabel e eu éramos muito amigas e da mesma idade. Nós brincamos muito com outras meninas. Mas só me lembro de Isabel, Eunice e Ieda.
"__Isabel, como vai, tudo bem? Lembra de mim? Boas saudacões. Não me esquecí de você, de seus pais, Ricarda e Ricardo e seus irmãos. "
Enfim tocou o sinal para pausa. Os alunos, na maioria pobre e negros já esperavam no pátio da escola os rituais diários. Assim eram tratadas as feridas, de vez em quando com aparencia muito grave mesmo, por D. Sebastiana. Também a comida, o mingau da tarde, era oferecido e eu gostava muito de encher os pratos dos alunos que esperavam em fila.
As atividades da escola eram várias. Nas festas de primavera, meninas e mininos animados por D. Sebastiana apresentavam peças de teatro. Uma vez fomos vestidos de legumes, flores, vagalumes, escaravelhos, borboletas, etc. etc. para um cenário, que foi apresentado à um público. talvez aos pais e outros parentes.
Na sala, em casa, tínhamos muitos encontros de atividades criativas com alunos. Por exemplo, fazer uma revista ou um boletim sobre higiene, ou sobre a história de Tiradentes. Todos trabalhavam sériamente. Georgina sempre estava conosco. Enquanto isso, Dolores fazia um bolo para nos restabelecer.
Dona Sebastiana tinha uma postura muito humana na cidada. Assim eu me lembro de muitos engajamentos dela na igreja, sempre com muita fé e amor, ajudando os padres nos equipamentos deles quando chegaram novatos em Cambuquira e precisavam roupa de casa, etc. A ajuda aos pobres era sua prioridade. Junto com a igreja foram feito muitas obras de caridade.
Um casal de Cambuquira, na direção do Marimbeiro era muito pobre e morava em uma cabana de barro, a mulher era doente com TBC – (Tuberculose) e o marido ia buscar todos os dias uma marmita com comida para eles.
Dolores, a pérola da casa D. Sebastiana, preparava todos os dias o almoço para tantas pessoas.
Sempre tínhamos visitas na mesa de almoço.
Um casal vinha diáriamente como hóspedes de uma pensão. O senhor era muito divertido e gostava do meu irmão. "Fazendo brincadeiras com ele, dizia que hoje iria comer toda a sobremesa sózinho, pois gostava demais de doce abobora com côco, dizendo assim puxava a tigela com a sobremesa para sua frente, já colocando a colher para comer. E meu irmão, assustado, comecou a chorar tanto, porque adorava tambem essa saborosa sobremesa de Dolores. E imaginando que não receberia nada da abóbora com côco. Que coisa terrível!...
Nos dias festivos da igreja, era missão da comunidade cristã fazer festas beneficentes em um bairro especial, que para mim parecia ser a aldeia dos velhos escravos.
As mulheres da comunidade de Cambuquira faziam rendas, bordados, costuravam, faziam bolos, etc. etc. Isso tudo era vendido em um dia de festa de igreja lá da aldeia. Era vendido á Cambuquirenses, que iam lá para festejar o dia. O valor apurado nessas festinhas eram utilizados para caridade das famílias pobres com problemas.
Na Páscoa acontecia tambem, que nós os jovens da escola, depois da comunhão, da missa de manhã, subíamos em procissão para essa aldeia para lhes levar os presentes, como comida ou roupa. Lá existia casinhas amarelas, e os negros, já bem velhos, sentados em frente das casinhas deles, gozando o solzinho da manhã, se alegravam muito quando nós chegávamos.Tudo isso era organizado também por Dona Sebastiana. Eu me lembro ainda muito bem de alguns rostos daqueles velhos negros. Esquisito! Não esqueço de maneira nenhuma: era um velho preto, gordo, com rosto muito grosso, lábios muito grossos, cabelos brancos, e muito baozinho!.Quem hoje pode contar algo? Eu achava tudo aquilo muito impressionante, que entrava no coracao mesmo. Nunca mais na minha vida tive uma situação semelhante. E, porque também sabíamos das histórias dos escravos, que eram muito triste. E, que histórias teriam essas pessoas particularmente carregando consigo.? – Aquela época era para mim uma coisa exclusiva:"Conhecer essas pessoas, que ainda viveram no tempo da escravidão."
Entretanto, nada fica parado, tudo passou, tudo mudou... Como tudo era bem organizado e planejado tinha também tudo sua ordem nas coisas de fé: como confessar, comunhão, as missas nos domingos, isto tudo pertencia à aquela mundo. Eu já tinha minhas dificuldades com as confissões. O que é que uma menina de 7 anos vai confessar de pecados? Sem fantasia não era possível!...
A
s viajens com Dona Sebastiana eram para mim de um lado de tortura, por que não aguentava viajar no ônibus. Por causa disso, o condutor tinha sempre de parar para no caminho entre Campanhas ou outras cidades e Cambuquira. Eu não conseguia segurar meu café da manha ou o almoço, cada vez a mesma “surpresa”. Por causa disso, já sentava na frente perto da porta, para mais rápido então escapar para fora quando necessário.De outro lado, foi muito interessante e divertido. Víamos no caminho tanta gente, observávamos tantas situações. A paisagem desta regiao era linda. Nas paradas esperavamos de vez em quando um bom tempo até ser colhida do condutor, para continuar a viajem para outro lugar. E eu com sono de viagem adormecia nos bracos de Dona Sebatiana. Estivemos em Campanha, visitamos lá um colégio com madres,as professoras. Estivemos na igreja da escola, um lugar para se retirar e parar, nao esqueci aquele lugar calmo e lindo. Dona Sebastiana tinha os parentes espalhados fora de cambuquira, ela sempre me levou quando ia visitá-los. Uma irmã dela tinha alguns filhos jovens, nós brincávamos lá fora no quintal, depois do almoco, “arroz com fricassé”. Tantas coisas que aí me lembro, seria demais contar tudo aqui. – Gostei muito dessas viagens!...
Georgina, as tampas de latas com pinturas da região e o casamento.
Georgina, filha de Dona Sebastiana, bem mais velha do que eu. Era uma jovem bonita, cabelos encaracolados, muito alegre e criativa e apaixonada. Os encontros com muitas amigas, contando as historinhas delas e sobre todo o mundo e rindo, rindo. Eu admirava esse terreno novo para mim.E gostava de ficar perto delas.
Georgina era uma mestra em pintar e desenhar. Nem uma tampa de lata escapava das suas mãos. Todas tinham de ser pintadas com cores a óleo com bonitas gravuras da região Tudo tão perfeito!E,finalmente decoradas com renda. Nunca mais ví coisas tão bonitinhas e feitas com tanta dedicação e amor.
As amigas de Georgina: De frente da casa de Dona Sebastiana morava uma moça bonita de cabelo preto numa casa amarela. Vis-àví (de frente) em diagonal morava uma loira também bonita, com cabelos longos, sempre muito divertida. Era Alicéia Maia, filha de Aristidis Maia.
O pai de Alicéia produzia os melhores doces de leite, que já comí na minha vida. Eram tão saborosos!...
__ Alicéia, lembra-se de mim? –Boas Saudações para voce!
Muito divertido este tempo. Georgina começou a namorar um filho de um fazendeiro, bonito e simpático. Noivaram-se. Era tempo de começar com o enxoval. Georgina não teve mais tempo para pintar.E, costurar, bordar e escolher coisas bonitas para o seu inventário de casamento era o momento oacontecimensto mais importante e mais interessante. Cheia de orgulho, ela se sentia com o presente do noivo: colar e pulseira de prata com aguamarinha. Lembro-me bem, foi lindo e muito precioso.
Depois do casamento visitei Georgina e marido na casa deles numa aldeia perto da fazenda(Não sei mais onde).
__ “Mas, Georgina, como é isso, sempre se beijando? É bom mesmo? Entao quero também um beijo de seu marido. ”
Riram tanto, e acho que não pararam, ainda hoje. Foi muito bonito lá. Georginaestava feliz e alegre. Um dia visitamos a fazenda,um lugar como nos contos, cheia de gente, todos amáveis, trabalhadores e sempre prontos para fazer brincadeiras. O regato nesta fazenda era lugar querido dos jovens. As plantas eram longas, como os cabelos das ninfas. A água corrente e clara e o leito do regato cheio de pedrinhas brilhando no sol convidava para tomar um banho. A meninada da fazenda pulava lá dentro gozando este refresco. Eu, que tinha medo de cobras, não entrei no regato. À tarde era encontro numa cozinha grande, onde todos se juntaram para jantar e contar as histórias de fazenda. Penso que Georgina casou dentro de uma família de fazendeiros muito simpáticos.
Uma tarde Georgina levou-me para um cinema – vimos um filme com Ronald Reagan: “Sein letzter Verrat” (The last outpost) de 1951 – ou em portugues: “ Sua última traição“.Voltamos de trem à noite de volta para a casa dela. Outra vez, estivemos no circo. Foi apresentada uma cena muito colorida e trágica. O público gostou muito. Mais ou menos lembro-me ainda da cena. Penso que foi a história do cangaceiro. Foi impressionante mesmo!...
“__Georgina, onde estas? Espero que estás passando bem e mando-lhe boas saudações e um abraço."
__Georgina, se sua mãe ainda vive, tenho um pedido para você: por favor oferecer Dona Sebastiana uma rosa de mim. Se ela não vive mais, seria possível colocar uma rosa na sepultura? Eu me lembro com muito carinho de sua mãe.”
Kalil
Senhor Kalil, todos chamaram ele simplesmente de Kalil. Ele era um habitante da casa de Dona Sebastiana. Ele era gordinho, cheio de humor fazendo brincadeiras, rindo com a gente, contando histórias. Sério? Não, nunca , sempre divertido era o meu “salvador”. Viajar no ônibus já contei.
Mas, as manhãs de domingo tinham para mim tambem seus momentos fatigantes. Sem café de manha, por causa da hóstia, íamos à missa na igreja Matriz de S. Sebastiao. Bem,não era tão longe da nossa casa. Regularmente nestas manhas, de receber as hóstias,eu passava mal. Levantar, ajoelhar, sentar-se, ajoelhar, levantar, cantar, rezar.....toda esses procedimentos sem café da manha e com barriguinha vázia –“ mein Gott” – quase caí dos sapatos. E Kalil, perto de mim em voz baixa :
__”oi, Renatinha, tão pálida, não está bem?” Eu afirmando que sim. E, ele: __” psst!. Então, depressa para casa!”
Várias vezes me salvou e eu sem hóstia...... Sozinha, com Dona Sebastiana eu não tinha chances para escapar. Um pouco lá fora, o ar fresco, eu já me sentia melhor e eu corria para casa, sem dor na consciência.Mais tarde em casa, Dona Sebastiana nada disse, e eu ficava aliviada.
Mas, para mim, que perspectiva tinha quando chegar em casa? Lá já esperava café com leite quentinho, paozinho com manteiga, ou talvez uma coisa saborosa, preparada por Dolores – arroz - doce, ou pão de Petrópolis com presunto? Aí nunca fui enganada.
Uma irmã de Kalil, casada, morava lá à esquerda, mais para baixo, perto da saída da cidade, na direção do Marimbeiro. Era uma casa grande cheia de habitantes. Talvez moravam lá também: as irmãs de Kalil ou os pais e muitas criancas. Lá, eu brinquei várias vezes com elas.
Jovem perdido.
Kalil tinha um irmão mais jovem, talvez 27 anos ou mais ou menos. A este moço, vou lhe dar o nome de “Jovem” porque não me lembro do nome... Eu o vi várias vezes na padaria do Senhor Gaspar Möller, perto da mesa de bilhar, com outras pessoas, todas ocupadas com o jogo. Um dia ele adoeceu gravemente. E, Dona Sebastiana, competente, rigorosa e com responsabilidade, organizou a hospedagem do Jovem na casa dela. Eu tive que mudar do meu quarto para um outro. Dolores depressa a arrumar a cama. 2 ou três dias cuidamos dele, todos com muito carinho e preocupados. O médico esteve lá. Principalmente Dolores ficava sempre alerta:
_ “ precisamos de água fresca, vamos fazer chá de ervas”!
E, isso ou aquilo. Mas tudo em vão. Jovem sofreu tanto, passando tão mal, nada adiantou. E, ele faleceu. Escutei que deveria ter sido intoxicação por ingestão de carne de salsicha. Ah, que susto, que tragéria, como são essas coisas tão tristes da vida. Jovem foi vestido e preparado para ser amortalhado na sala. Eu, ainda hoje vejo Jovem, tão lindo, com olhos profundamente fechados, muito pálido, quase amarelo e as velas da igreja, além de um lenço branco enrolado envolta da cabeca e amarrado.
A casa enlutada estava aberta para os parentes e amigos condoídos, era a última visita, para se despedir para sempre do “Jovem”.Meu Deus! Ele faleceu na minha cama. Depois de tudo ela estava de novo à minha disposição. Eu me lembro que ainda dias ou semanas, eu tinha dificuldades com essa situação. À tarde, já escuro, quando era tempo de ir para cama, os adultos estavam ainda sentados na sala conversando ou lendo e eu tinha de passar pelo corredor, e lá atrás à esquerda era meu quarto. Para ligar a luz eu tinha de atravessar o quarto, no escuro, e sobre meu travesseiro estava o interruptor dependurado na parede. Era um daqueles antigos pretos com botaozinho para pressar. No fundo, penso que não me incomodou tanto que Jovem tivesse morrido na minha cama, ou no quarto. Ou sim? Mas, ficava aliviada, nos primeiros dias, quando Dolores entrava, porque dormia no mesmo quarto comigo. Isso já me confortava.
Dolores e suas dores – uma coroa para ela.
Já falei tanto de Dolores, agora é tempo de apresentá-la. Dolores, uma "indiana" tão trabalhadora, muito modesta, com coração grande, a pérola, o anjo de casa. Ela era responsável por todos os trabalhos de casa: a roupa, os quartos, o quintal, a limpeza, a ordem de tudo, o bem estar de todos. Ela mesma era absolutamente altruísta. Ela era muito respeitada e amada por todos nós. Os quartos de domir, as camas estavam sempre com linho branquinho, com cheiro fresco, as cobertas de dia bordadas, ou em obras feita de retalhos (patchwork) arrumadas sobre as camas, bonitas cortinas de cambraia bordadas, a sala de visita com as poltronas de motivos floraisl, o banheiro, tudo era limpinho e cuidado pelas mãos de Dolores.
Quando é que ela fez isto tudo?
Limpar com música - Dominóo, Dominó ou tico-tico.
Nos sábados tínhamos todos nossas obrigacoes de ajudar Dolores. Era dia de limpar a casa metódicamente. Ela ia na frente e nós ajudando, limpando, encerando o chão com cera, enfim o parquete tinha que brilhar. Nós limpávamos os móveis com atenção, por causa dos ovos das baratas. A música daquela época nos acompanhava e começávamos este dia cedinho. Meio meio dia estavamos prontos. Então vinha a recompensa grandiosa pelo nosso esforço:Sua comida era magnífica!... Isso era o talento especial de Dolores:cozinhar com os melhores sabores. Conhecí muitas pessoas, que cozinharam bem, mas Dolores é para mim a rainha de todas e todos cozinheiras/os. Ela merece uma coroa.
O reino de Dolores – a cozinha onde aconteciam os encontros de todos.
Lá estávamos, os adultos contando histórias de fazendas, as crianças de ouvido grande. Dolores perto do fogão antigo mexendo no fogo, colocando troncos de pau e torrandoo café. Tudo erai feito em casa à mão. O café tinha de ser torrado em panelas de ferro, penduradas sobre o fogo e tinha de ser sempre mexido para não se queimar. Depois então era moido. Não existe café tao saboroso!...
Fechando os olhos vejo, escuto, e sinto o cheiro o que acontecia nesta casa, o cheiro de café torrado pela casa. Além disso, sinto ainda o ruído das palhas de milho, quando nós nos sentávamos no quintal ao redor de um monte de espigas maduros e prontos para ser descacadas, esse nosso trabalho, como os montes de feijão, que também tinham de ser descascados, as tarefas do reino de Dolores.
Vivíamos sempre muito alegres nessa comunidade um por todos, e todos por cada um.
Cheiro de canela e.....nenhum resto...
Nos domingos andava tudo um pouco mais calmo, Dolores já tinha preparado (só para contar algumas especialidades, não todas!) comida no Sábado, para no Domingo poder descansar um pouco. Lá na mesa já estava o frango assado, a empanada, as cochinhas fritas de carne de galinha com trigo e ervas picantes, os pasteis com carne moída, bolo de chuchu, pãezinhos ou bolinhos de mandioca, mandioca frita, batata doce frita, curau de milho verde com canela em pó, queijo minas com goiabada, doce de abobora com côco, doce de cidra com côco, doce de fígo verde, pudim de queijo à mineira, bolo de farinha de milho e o café feito por Dolores. Do outro lado havia uma tigela cheia de jaboticabas, laranjas, lima, abacates, mangas, goiabas...
E o que fazer com dos restos? – Que restos? Nao restava nada.
Dolores, nossa rainha, que pena, tinha dias de muitas dores, um reumatismo “demônio mancador.” Ela sofria muito nesses dias, ficando na cama e nós tinhamos a oportunidade de amimá-la e dar em troca o de bom o que ela sempre nos dava.
“__Obrigada Dolores, não te esqueço!...
Em resumo:
Cambuquira naquela época era um mundo pequeno, tudo bem claro e tranquilo. Meus passeios eram ao parque, igreja, àrvore de mangas, o porão e os livros. Os meus passeios mais curtos eram ao redor da casa.
Interessante: de um lado da casa de Dona Sebastiana existia um Hotel bem frequentado, principalmentede por turistas jovens, de manha até à tarde ocupados com ping pong. Passando lá no passeio, podia se dar uma olhadinha para os hóspedes sentados no pequeno parque, os jovens juntos conversando e rindo.
A superstição nas vizinhanças.
A outra casa vizinha era grande e de cor cinza claro. As janelas ficavam sempre cerradas. A dona de casa? Acho que nunca ví. Para sua vizinhanca ela tinha uma aura de segredo. Era uma casa de uns tais batistas, com encontros estranhos para vizinhos do redor que achavam engracado por que eles não tomavam hóstia, mas copinhos de vinho com pão. Esse jeito de celebrar o credo dos batistas, naquele tempo, era para algumas pessoas mais estranho do que as “macumbas”da noite.
Uma amiga e vizinha linda, alta, bem crescida, vestida de verde, com enfeitos amarelos, orange até vermelho era a grande mangueira no quintal ao lado da casa de D. Sebastiana.Ela era um refúgio para criancas se esconderem lá em cima entre as folhas. Nas tardes, depois do almoço, cozinha já arrumada, horinha para todos fazer uma sesta. Para mim, era a horinha da festa.
Armada com uma faquinha de legumes e um saleiro eu subia para os andares mais altos da árvore, o murro pertinho da àrvore me ajudava subir para buscar minha segunda sobremesa: manga verde com sal. Já provaram alguma vez?... Nao? Recebí essa receita em Cambuquira e gostei demais. Imaginem que meus meninos nos anos de 7/8 ou agora meus netinhos, iriam subir com uma faca nas mão em àrvores tão altas?! Hoje para mim isso seria um horror!...
O porão da casa de D. Sebastiana, em chão de terra batida, limpo, mas com cheiro esquisito.
Buracos como janelas nas paredes ao redor da casa, dando à casa a possibilidade de transpirar e ventilar bem. Essas janelinhas eram de um tamanho assim que criança ainda cabia para entrar.Lá não era tão escuro, a luz do sol entrava um pouco. Ali, eu gostava de brincar com minhas panelinhas de ferro, miniaturas como as grandes de Dolores. Tinha com pauzinhos construido um fogãozinho. Milagre, que "neste escondido" nunca recebí visita de uma cobra.
Os passeios com Isabel acabavam na casa dela, onde brincamos com os irmãos, desarrumando a casa toda.(_Lembra Isabel?) Imagine o susto da sua mãe cada vez chegando mais tarde em casa encontrando aquela bagunca. Mas, não me lembro que tínhamos complicacões por causa disso. Sua mãe sempre tratava isso com calma e paciência.
Um crime em Cambuquira?
Um dia,(_ se lembra Isabel?) passeando à tarde em direção a igreja encontramos pessoas um pouco agitadas. Elas falavam sobre um acontecimento triste passado num Hotel ...
Contavam que um casal na "Lua de Mel" se hospedaram lá. Na noite de núpcias, faleceu a noiva. Fomos todos para a igreja, na entrada se achava a noiva, amortalhada. Era uma mulher jovem falecida vestida em preto, muito bonita, de cabelos pretos. Finalmente, só nós quatro na entrada da igreja: a falecida, o noivo, Isabel e eu, nenhum parente ou amigo. Claro, estavam sózinhos na Lua de Mel. O noivo triste, mas para mim parecia que não estava tão triste assim! Não mostrava suficiente dó. Esquesito!... por que morrer a mulher é normal na noite de casamento? – O que aconteceu? Na minha cabeca mexia a fantasia como as histórias escutadas nas fazendas sobre as pessoas assassinadas. Também já tinha lido todos os livros que achei no porão,com histórias palpitantes. Nunca mais escutei algo sobre esse acontecimento.
“__Alguem em Cambuquira sabe o que aconteceu naquela época?” Fico curiosa.
Do Hotel Impresa só um pulo até o Parque Municipal.
Depois de um passeio no Parque Municipal, tão sombreado, com o cheiro das fontes com as águas minerais saborosas a refrescar é tempo de ir para casa. Os turistas também já estavam guardando os copos de plástico com tampas coloridas, vermelhas e azuis. Esses copos eram fabricados assim para deixar achatar e com a tampa colocar na bolsa e assim ficar sempre à disposicao na próxima fonte.
“__Existe esses copos ainda? Eu achava eles bem chique e interessante.
Já é tarde, os sinos da igreja já tocando o Avé Maria, 18,00 h. Tempo de chegar em casa, jantar. Mais tarde na cama, já quase sonhando, acompanhada das canções ou chamada das rãs (sapos), a canção delas como sinos tocando em baixo da àgua...
“__ Gosto tanto de me lembrar de Cambuquira! Boa noite!”
Agora é fim. Isto era em Cambuquira. Meu pai nos levou pelas mãos e foi conosco, meu irmao e eu, para Belo Horizonte. Aí fiquei ainda mais ou menos 3 anos. Em 1957 fui despachada pela Panair do Brasil para a Alemanha, sem bilhete de volta. Mas isto é uma outra história.
Quem sabe eu possa contar depois mais esse capítulo?!... Clique aqui para ver o pos-escrito de Renate Drews (Köhler)! ou vá para próxima página
Vou talvez ainda contar se Gilberto Lemes vai fazer também um blog para Belo Horizonte tãolindo como o seu de Cambuquira. Mas ,isso não é tudo, ainda falta também um blog para Alemanha.
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